Ordem na Banca

A ilusão da estabilidade: Por que seu escritório está parado sem você perceber

Um alerta à advocacia: estabilidade aparente engana. Escritórios que não evoluem ficam para trás. Clareza estratégica, radar e ciclos trimestrais são a saída.

3/12/2025

A advocacia cria uma sensação perigosa: a impressão de que tudo está sob controle. Há clientes recorrentes, receita previsível, processos em andamento e uma rotina reconhecível. No dia a dia, isso parece segurança. Mas, estrategicamente, é uma armadilha.

O escritório acha que está estável.

Na verdade, está parado.

E a pior parte: parado enquanto o mercado se move.

A maior ameaça para um escritório não é a concorrência agressiva, nem a tecnologia, nem a mudança de comportamento dos clientes. A ameaça mais silenciosa e letal é acreditar que o mundo continua parecido com o que era há 5 anos.

O perigo da estabilidade confortável

A “estabilidade” que muitos sócios defendem é, na prática, atraso acumulado. Veja alguns sinais comuns:

  1. O escritório continua atendendo o mesmo tipo de cliente de sempre

Enquanto isso, concorrentes estão entrando em setores novos, criando produtos jurídicos e explorando áreas híbridas.

  1. As reuniões parecem produtivas, mas não geram mudança

Discussões longas, sem pauta, decisões pequenas e nenhuma transformação relevante ao final do trimestre.

  1. A tecnologia é usada apenas para sobreviver, não para evoluir

A automação entra lentamente, sempre com medo, como se fosse uma ameaça e não uma vantagem competitiva.

  1. O discurso evolui, a prática não

Fala-se muito de inovação, mas nada muda na cultura, no processo ou no posicionamento.

  1. A equipe cresce, mas a eficiência não

Mais pessoas, mais demanda, mais complexidade. Mas o resultado por profissional continua igual.

Esses sinais criam a impressão de que está tudo “funcionando”.

Mas um escritório que não avança está recuando. Só não percebe

O mercado jurídico muda mais rápido do que o sócio imagina

Enquanto o escritório mantém a mesma receita e o mesmo fluxo de trabalho, o mundo jurídico passa por transformações profundas:

A mudança não é barulhenta.

Ela é constante, silenciosa e cumulativa.

E quando o sócio finalmente percebe, a diferença entre o escritório e o mercado já virou abismo.

Estagnação não é falta de movimento. É falta de direção.

A rotina jurídica cria movimento, mas não cria evolução.

Processos andam. Prazos vencem. A equipe atende. O financeiro recebe.

Tudo parece vivo.

Mas sem leitura estratégica, todo esforço vira giro. Não avanço.

Isso leva o escritório a um estado perigoso:

Trabalha como crescido. Evolui como iniciante.

O que tira o escritório da estagnação?

Existem três elementos que desmontam a ilusão de estabilidade e colocam o escritório em movimento real:

1. Sinais evidentes e inevidentes

Quando o sócio entende a Pestel, tendências, tecnologia, arenas competitivas e setores entrelaçados, ele percebe que o mundo está muito mais dinâmico do que a rotina sugere.

A consciência desperta.

A estabilidade cai.

2. Radar estratégico

Com o radar, o sócio deixa de olhar só para o que está urgente e começa a olhar para o que é importante.

Fica claro onde há risco, onde há oportunidade e onde a atenção está desalinhada.

O radar evidencia o que estava escondido.

3. Ambidestria e sprints de 90 dias

O escritório passa a dividir energia entre:

E cria ciclos trimestrais que garantem evolução contínua.

É isso que transforma estabilidade aparente em movimento estratégico real.

Por que poucos escritórios conseguem romper esse ciclo?

Porque exige coragem para admitir algo simples:

“O que funcionou até aqui não garante mais nada.”

Muitos sócios preferem manter o controle do presente a abrir espaço para o futuro.

Mas o jogo da advocacia virou um jogo de percepção.

Quem enxerga antes, cresce.

Quem enxerga tarde, corre atrás.

O escritório que prospera não busca estabilidade

Busca clareza.

Estabilidade é confortável, mas enganosa.

Clareza é desconfortável no início, mas libertadora no longo prazo.

Sócios que querem crescer nos próximos anos precisam abandonar a convicção de que “está tudo bem”.

E precisam adotar o hábito de perguntar, mês a mês:

O que mudou lá fora que eu ainda não considerei aqui dentro?

Quem busca essa resposta deixa de parar no tempo.

E começa a construir vantagem competitiva real.

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Colunista

Lara Selem é advogada, professora, escritora, conselheira consultiva, advisor e mentora especialista em Gestão Legal, Sociedades de Advogados e Planejamento Estratégico para a Advocacia. É membro da Comissão Nacional de Sociedades de Advogados do Conselho Federal da OAB. Foi presidente da Comissão Especial de Gestão, Empreendedorismo e Inovação do Conselho Federal da OAB (2019-2021). Participa ativamente do Comitê de Administração e Ética Profissional (CADEP) do Centro de Estudos de Sociedades de Advogados (CESA). Membro da Association of Legal Administrators (ALA) desde 2009. Coordenadora científica do MBA Internacional em Gestão de Escritório de Advocacia (Faculdade Baiana de Direito e Gestão). Autora de 20 obras sobre gestão de escritórios de advocacia.