O caos da tomada de decisão: Por que sócios inteligentes chegam a conclusões ruins
quarta-feira, 17 de dezembro de 2025
Atualizado em 16 de dezembro de 2025 08:05
É um erro comum imaginar que só toma decisões equivocadas quem não tem experiência. Na prática, muitos dos piores equívocos estratégicos em escritórios são cometidos por sócios brilhantes, juridicamente preparados e tecnicamente impecáveis.
A inteligência jurídica não protege ninguém de uma decisão ruim. E isso acontece porque o problema não está no sócio. Está no ambiente.
A advocacia cria um sistema hostil para decisões de qualidade: excesso de informação, urgência constante, múltiplas pressões, pouco tempo para pensar e uma cultura que valoriza respostas rápidas, não análises profundas.
Nesse ambiente, até sócios altamente qualificados tomam decisões frágeis.
E o impacto é sempre maior do que parece.
Por que decisões ruins são tão comuns na advocacia?
Três fatores explicam o fenômeno:
1. Pressão por respostas imediatas
Clientes querem urgência. Equipe quer direção. Problemas chegam sem aviso.
O sócio, acostumado com a lógica do prazo, tende a responder antes de entender.
Decisão rápida parece liderança.
Mas muitas vezes é só precipitação.
2. Excesso de confiança na experiência
A experiência é valiosa, mas também cria vieses.
O sócio acredita que "já viu isso antes", quando, na verdade, o contexto mudou completamente.
Setores híbridos, novos modelos de negócio, mudanças culturais e tecnologia tornam antigos padrões pouco confiáveis.
A experiência ajuda na técnica.
Mas pode atrapalhar na estratégia.
3. Falta de método na interpretação do contexto
O escritório até coleta informações, mas faz isso de maneira desconexa.
Ou seja: há dados demais e clareza de menos.
Sem método, a decisão vira um palpite sofisticado.
O custo de uma decisão mal calibrada
Ao contrário do que se pensa, decisões estratégicas erradas não apenas atrasam o escritório.
Elas criam efeitos colaterais difíceis de reverter:
- Desmotivação da equipe;
- Reestruturações desnecessárias;
- Perda de clientes valiosos;
- Investimentos mal direcionados;
- Aumento de conflitos societários;
- Desgaste emocional dos sócios;
- Retrabalhos que se acumulam em cadeia.
Uma decisão mal pensada gera um problema que não existia.
E a operação inteira paga a conta.
O que o escritório precisa não é mais informação. É método.
O volume de dados nunca foi o problema.
O problema é a incapacidade de transformar informação em entendimento.
É aqui que conceitos como hipóteses estratégicas mudam o jogo.
A lógica é simples e precisa:
Se X acontecer, então faremos Y.
Essa estrutura elimina o improviso e força o sócio a pensar em cenários.
Tira a decisão do campo emocional e coloca no campo racional.
Hipóteses:
- Reduzem conflito;
- Orientam escolhas;
- Estabilizam expectativas;
- Diminuem erros;
- Facilitam alinhamento entre sócios.
É um método enxuto para decisões complexas.
Decisão não é talento. É disciplina.
Uma boa decisão nasce de três pilares:
1. Leitura do ambiente (sinais evidentes e inevidentes)
Pestel, tecnologia, arenas competitivas, tendências sociais, setores entrelaçados.
Sem essa leitura, o sócio decide olhando apenas para dentro.
2. Radar estratégico
Organiza o que importa agora, o que pode esperar e o que precisa ser investigado.
Evita decisões impulsivas, ajusta prioridades e acalma a mente.
3. Ambidestria + sprints de 90 dias
Transformam a decisão em rotina.
Para que ela não fique perdida em reuniões infinitas.
Sem esses três pilares, o escritório toma decisões tentando apagar fogo.
Com eles, o escritório decide como empresa competitiva.
Sócios inteligentes não precisam decidir mais.
Precisam decidir melhor.
Um escritório forte não se destaca pela quantidade de decisões que toma, mas pela qualidade delas.
A vida do sócio melhora quando as decisões deixam de ser urgentes e passam a ser deliberadas.
O ambiente melhora quando a equipe entende o porquê das escolhas.
A estratégia melhora quando a decisão deixa de ser um ato isolado e passa a ser parte de um sistema.
O caos só desaparece quando o sócio troca velocidade por clareza.
Decisão madura é decisão que respeita o contexto.
O futuro da advocacia seguirá marcado pela complexidade: tecnologia acelerada, clientes mais técnicos, setores híbridos e maior pressão competitiva. Sócios que insistirem em decidir no improviso vão errar mais, gastar mais e perder vantagem.
Sócios que decidirem com método vão economizar energia, evitar ruídos e construir um escritório muito mais forte.
Em um mercado assim, vencer não é decidir antes.
É decidir certo.

