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(In)Seguro saúde

Existem cerca de 1.700 empresas de seguro-saúde no Brasil de tipos diferentes: há as cooperativas, as seguradoras, os convênios. São várias empresas que prestam estes serviços sob o nome genérico de planos de saúde.

sexta-feira, 29 de julho de 2005

Atualizado em 14 de julho de 2005 08:10

(In)Seguro saúde


Luiz Leitão*

E
xistem cerca de 1.700 empresas de seguro-saúde no Brasil de tipos diferentes: há as cooperativas, as seguradoras, os convênios. São várias empresas que prestam estes serviços sob o nome genérico de planos de saúde. Compramos estes planos ou seguros para termos uma certa tranqüilidade, mas de uns tempos para cá o efeito tem sido inverso.

Outrora grandes e bons planos quebraram e sabe-se que existem várias dentre as cerca de 1.700 empresas do setor com sérios problemas financeiros. Não há, portanto a certeza de que amanhã ou depois poderemos contar com um atendimento médico-hospitalar minimamente aceitável.

Não bastasse isto, têm sido registrados casos de médicos que deixam de atender pelo seguro ou convênio e passam a cobrar consultas particulares daqueles que neles passaram a confiar. Os mais bonzinhos adotam um expediente interessante: perguntam ao segurado ou conveniado quanto o seu plano reembolsa e "aceitam" receber aquele mesmo valor, que geralmente é maior do que as empresas pagam aos profissionais devidamente conveniados.

No ano passado, houve uma espécie de greve, quando os médicos passaram a cobrar o valor de R$42,00 por consulta para forçar os planos a aumentarem a quantia - que era realmente ridícula - paga por consulta. Agora, não é incomum alguém ligar no consultório e ouvir da recepcionista que o doutor não atende mais pelo convênio, mas "pode" fazer a consulta pelo valor do reembolso. Acessórios como radiografias e outros exames são cobrados à parte; o paciente que peça o reembolso - se houver - ou dirija-se a um laboratório que faça parte do convênio. Uma trabalheira para o doente ou seu eventual acompanhante.

Exemplificando com um plano para quatro pessoas de uma seguradora de primeira linha, contratado em 1996, cuja mensalidade está em R$733,00 - até o próximo reajuste -, o valor do reembolso é R$93,00. Então o médico cobra este valor e o segurado pede o ressarcimento. Como é uma quantia suportável, o desconforto não é tão grande, mas no caso de uma cirurgia de médio ou grande porte a história é outra. Verdade que muitos destes médicos esperam o cliente receber o reembolso para descontar o cheque, mas o fato é que ninguém contrata um plano tão caro para ter este tipo de trabalho e preocupação.

Quem tem seguro-saúde quer chegar ao consultório ou hospital, apresentar a carteirinha, ser atendido e ponto final.

É grande a quantidade de pessoas e famílias que estão sendo excluídas do sistema de saúde privado por conta do crescente aumento nas mensalidades. Dizem os entendidos que medicina é mesmo cara, que as técnicas são renovadas com freqüência e custam cada vez mais. Que seja. Mas para conviver com este grau de insegurança, talvez seja melhor abandonar o convênio, guardar o dinheiro para uma eventual emergência e procurar a rede pública, que em certas cidades não é ruim. Eu sei, caro leitor, que falar é fácil e que grandes cirurgias podem custar muito caro. Mas meu convênio, tido no mercado como bom, foi recusado por três clínicas num só dia. Risco por risco, mais vale o dinheiro no banco.

Certamente isto não é conselho que se dê a alguém idoso que tenha recursos de sobra para continuar pagando um plano, mas é bom que se acautele a respeito da saúde financeira da empresa que gere seu convênio. Ao que o idoso perguntaria: e como eu vou saber se meu plano está quebrado? Não vai. Eis a questão. E não porque o governo recusa-se a divulgar a lista das empresas em dificuldades, mas apressa-se a disponibilizar ajuda financeira a elas, coisa que o Conselho Regional de Medicina-SP, a Associação Paulista de Medicina e o Sindicato dos Médicos são contra.

Quem é do ramo certamente irá contestar este artigo, talvez dizer que quem o escreveu não entende nada do assunto. Exatamente: este que vos escreve é um aflito consumidor de seguro saúde, que possivelmente tem os mesmos receios dos demais leitores, que não agüenta mais os aumentos sempre acima da inflação nem o contínuo descredenciamento de médicos e hospitais.

O governo anuncia que vai socorrer as empresas em dificuldades. Então nós, contribuintes, pagaremos três vezes por nossa saúde: a pública, do SUS; a privada, dos planos e seguros-saúde e o socorro dos inúmeros planos falidos. Uma atitude muito mais inteligente seria prestar ajuda financeira às Santas Casas de Misericórdia e outros hospitais filantrópicos Brasil afora. Aliás, será que os hospitais realmente filantrópicos, especialmente as Santas casas, nunca pensaram em ter seus próprios convênios? Intermediários seriam evitados, e o lucro, que não precisaria ser exorbitante, reverteria em melhor a maior atendimento àqueles que não podem pagar.
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* Administrador e articulista





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