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Hora de acordar!

Como se amar a pátria num jogo de futebol, negando esse amor por atos diários de corrupção, de que espécie for? A pátria de chuteiras vale mais que o país Brasil, berço de todos nós? Basta!

sábado, 12 de julho de 2014

Atualizado em 11 de julho de 2014 12:19

O Brasil perdeu! Será? O futebol brasileiro caiu diante da seleção alemã. É fato. Mas, será que o País foi derrotado?

Desde que o mundo é mundo, ao povo se dá "pão e circo". A política do pão e circo (panem et circenses, no original em Latim), como ficou conhecida, era o modo pelo qual os líderes romanos lidavam com a população em geral, para mantê-la fiel à ordem estabelecida e conquistar seu apoio.

A frase tem origem na Sátira X do humorista e poeta romano Juvenal (por volta do ano 100 d.C.) e, no seu contexto original, criticava a falta de informação do povo romano, que não tinha qualquer interesse em assuntos políticos, e só se preocupava com o alimento e o divertimento.

Ou seja, traduz a ideia de que se controla o povo por espetáculos, que o divirtam, e alimento, que lhe mate a fome do estômago. Assim pensam os poderosos.

Na escola da Vida, tudo tem sua razão, tudo traz um ensinamento - não raramente, por sinais. Cabe ao aprendiz deles se aperceber, para aprender... e crescer!

Gigante pela própria natureza, diz o hino do Brasil. País continental, mas dum povo inda infantil. Enquanto criança, mata-se a fome com um simples caldo ralo. Quando adulto, indispensável alimento mais substancioso.

O amadurecimento, próprio da fase adulta, pede maior reflexão, aumenta o nível de exigência das coisas da vida.
Voltemos ao jogo Brasil/Alemanha (ou será Alemanha/Brasil?). De fato, uma tragédia desportiva, uma mancha histórica para o futebol brasileiro, "piedosamente" surrado por 7 gols a 1 - na nossa casa. Disse-se piedoso, porque, se assim não fosse, o placar seria muito maior.

Tracemos um paralelo, pois, entre o fato esportivo e a situação da Nação brasileira. O que aconteceu (08/7/2014) representou mais que um simples jogo, mas a vitória da competência sobre a malandragem; da organização e do planejamento sobre um punhado de jogadores sem senso coletivo, endeusados pelo auê próprio dum Brasil imaturo.

De tudo se tira algo, até do mal-estar. O acontecido serve de exemplo, especialmente às gerações futuras, às hoje crianças deste País, às quais se passe a ideia de que muito pouco se pede para vencer na vida. Na verdade, para tanto, é preciso muito estudo, preparação, planejamento, organização, treino, ralação! Enfim, muito trabalho bem orientado!

Passou da hora de acabar com essa estória do "jeitinho brasileiro", da malandragem como símbolo de sucesso. Chega de ilusão! Não se ganha jogo só com gingado e falação, assim como não se ganha dinheiro sem o suor do rosto, sem o trabalho efetivo e competente. Não se pode ser técnico duma seleção sem mérito real, assim como não se pode virar presidente duma Nação sem o devido preparo e estudo. A história, antiga e recente, nos mostra do que acontece nesses casos - e cobra seu tributo.

A derrota traz o legado do exemplo dado, notadamente para o futuro. A natureza não dá saltos. No futebol, como na Vida, não há milagre, exceto o da colheita proporcional à plantação - só se colhe daquilo que se planta. Ontem, o futebol brasileiro colheu do que tem plantado - muito discurso e pouca ação.

E o que se tem semeado no País? Do que convém ao Brasil? Existem bem mais de sete motivos (paralelo com os sete gols sofridos) para que renovemos nossa plantação, na busca de tempos melhores, para que a vitória torne a nos fazer sorrir.

Um país de verdade se faz com uma população honesta, trabalhadora, que se não submeta ao parasitismo dum governo que a ensine a receber o alimento na boca, sem necessidade de lutar por conquistá-lo.

O paralelo é perfeito, quão sintomático. Com mestria, ganhou a Alemanha - porque mereceu. Que fique a lição! Para que a vida brasileira melhore, há de se ter merecimento, há de se fazerem novas e revigorantes escolhas. Ao Brasil, dito Pátria amada, há de se dignificar todos os dias, a cada instante, por cada um e todos nós. Como? Pelo trabalho organizado e planejado, pelo estudo consciente, pela honestidade crescente.

Como se amar a pátria num jogo de futebol, negando esse amor por atos diários de corrupção, de que espécie for? A pátria de chuteiras vale mais que o país Brasil, berço de todos nós? Basta! É tempo de despertar, de abrir os olhos e aguçar os ouvidos, para edificação duma Nação de verdade, com base em princípios de honradez, vergonha e dedicação.

Que o desgosto nos sirva de alento para o futuro, na construção dum País melhor e mais justo! Cresçamos na educação, solidifiquemos nossa saúde, organizemos nossa segurança, cultivemos o bom caráter, mas, acima de tudo, enchamo-nos de vergonha na cara para que nos orgulhemos do povo brasileiro (alma da nação) - muito além de seu futebol!

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* Edison Vicentini Barroso é desembargador do TJ/SP e cidadão brasileiro.

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