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O papel da advocacia em face dos últimos acontecimentos no Senado

Precisamos de causídicos e causídicas de boa-fé, boa-vontade e coragem para resolver estes conflitos.

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Atualizado em 4 de novembro de 2016 07:05

"Depois que vi como são feitos, nunca mais comi salsicha nem li jornal". Mark Twain

"Mas minha filha, afinal, onde estão os advogados e advogadas do Brasil?", meu Pai me perguntou ontem.

Respondê-lo, neste caso, requer cautela. Isso porque foi noticiado que há deveras tensão entre três presidentes. O da República, Michel Temer, o do Senado, Renan Calheiros, e do STF, Cármen Lúcia.

Como tudo que leio penso na frase de Mark Twain e lembro que não apenas vi como são feitos como já fiz (ambos, sou boa cozinheira) não posso afirmar onde estão os advogados e advogadas do Brasil para resolver tamanha pendenga pois não sei se ela existe.

Mas, em tempos incertos, é sempre apropriado lembrar do certo. No caso, o ministro Saulo Ramos. Sua ausência tem sido sentida por esta escriba que voltou a ler o "Código da Vida", livros de memórias do honroso advogado mas que serve mesmo como livro de doutrina.

"O Brasil, meu país, não tinha advogados que o defendessem no Judiciário", escreveu por ocasião da sua atuação na Consultoria Geral da República. O volume não tem data mas dá para compreender que é como se fosse hoje: o Brasil não tem quem os defenda no Judiciário e do Judiciário!

Saulo Ramos ensina muito mais sobre advocacia do que se aprende em cinco anos de faculdade de Direito. Narrou um fato (também não datado) sobre a dificuldade de citar um famoso empresário de São Paulo.

"No escritório, nem pensar e sua casa era indevassável. Ficamos colecionando as certidões dos oficiais de justiça para requerer a citação por edital, o que também não era fácil. Havia um misterioso sistema de defesa do empresário contra citações ou notificações judiciais, quando a ele endereçadas pessoalmente. Mara pediu um tempo; Soube que o empresário estava doente. Vestiu-se de enfermeira e colocou um avental de médico no oficial de justiça, inclusive um estetoscópio em seu pescoço. Chegou às pressas na residência do homem, anunciando o médico, os portões se abriram, ela entrou e acompanhou o oficial de justiça até o quarto do empresário. Lá se identificaram e citaram o réu".

A Mara em questão é apresentada como uma assistente da banca, que chegara do interior de Minas Gerais advinda de família humilde, "gente que trabalhava na enxada". "Causou furor na nossa advocacia, não apenas pela inteligência, mas também pelas ideias práticas que tinha para se resolver problemas. Chamava-se Mara Galbier".

São de advogados e advogadas como a astúcia descrita que o Brasil precisa neste momento. Precisamos de causídicos e causídicas de boa-fé, boa-vonta de e coragem para resolver estes conflitos. Lembrando que a advocacia não é restrita apenas aos autos e para aqueles que estão com a inscrição em dia na OAB. Não, Migalheiras e Migalheiros, advogar, além de dar voz a alguém, "é preciso pensar, planejar e ter muita calma, refletir sempre". E, neste sentido, estamos ausentes: afinal, onde estão os advogados e as advogadas do Brasil para debruçar-se neste cenário? Este silêncio como se estivesse alicercado em coerências é estarrecedor! Afinal, onde estão as discussões e ações desta terra?

O próprio mestre deixou uma pista, atribuída ao sociólogo francês Alain Tourraine:

"Aqueles que pensam que sabem o que vai acontecer no Brasil devem estar muito mal informados".

Estamos?
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*Ivy Farias, 35 anos, é jornalista e estudante de Direito da UMC- Campus Villa-Lobos/Lapa. De São Paulo, acompanha as notícias da Capital Federal com um olho no peixe e outro no gato.



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