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A construção civil e o novo coronavírus

No início de 2020, as previsões para o setor de construção civil eram as melhores. O Ministério de Desenvolvimento Regional investiria 69,5 bilhões de reais em habitação e saneamento.

segunda-feira, 18 de maio de 2020

Atualizado às 10:01

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Em 2019, muitas empresas de construção civil atingiram a maior alta setorial do Ibovespa, alcançando 106%. Os lucros obtidos foram os maiores desde 2015 e, as dívidas, as menores desde 2014. Há quem defenda que esse setor estaria até se aproximando do fenômeno da bolha. No entanto, a pandemia do novo coronavírus surpreendeu as construtoras e investidores, mudando esse cenário. Hoje, observa-se menor confiança no setor, pois as previsões não são de resultados tão rápidos ou lucrativos. Por isto, é importante analisar quais serão os impactos desse vírus na construção civil.

No início de 2020, as previsões para o setor de construção civil eram as melhores. O Ministério de Desenvolvimento Regional investiria 69,5 bilhões de reais em habitação e saneamento. A demanda pública por parcerias em obras de infraestrutura foi alta nos primeiros meses do ano, esperava-se novas obras, tanto do setor público, quanto do setor privado. Apesar de ainda ser cedo para afirmar o desenvolvimento desse setor ao longo do ano, a previsão era de que o PIB da construção civil crescesse 3% em 2020.

A indústria de construção civil é uma das mais fortes do Brasil e, a despeito dos impactos negativos ocasionados pelo coronavírus, quem acompanha o setor segue com expectativas positivas a médio e a longo prazo. O argumento é o de que por terem prosperado no segundo semestre de 2019, a maioria das empresas tem capital para retomar o crescimento após o fim da "quarentena". Analistas da XP Investimentos avaliam uma retomada gradual dos negócios, com normalização até 2021. Não serão vistos novos investimentos a curto prazo, mas a vantagem das construtoras é terem se capitalizado mais em 2019, graças às ofertas de ações recentes. Dessa forma, acredita-se que elas terão liquidez suficiente para não se endividarem durante a pandemia.

O presidente da Câmara Brasileira de Indústria Civil (CBIC), Sr. José Carlos Martins, acredita que o governo promoverá medidas favoráveis ao setor, entre elas o uso de 100% dos recursos do FGTS para o financiamento da faixa 1 do Programa "Minha Casa, Minha Vida" e ativação de obras públicas paradas. Em abril, o Ministério da Infraestrutura informou que no segundo semestre terão novas licitações, como concursos e leilões.

Além disso, o setor de Construção Civil é grande gerador de empregos no Brasil, o que significa que se a situação econômica durante a crise não for bem administrada haverá desemprego maciço. É preciso evitar uma reação em cadeia, já que o setor de construção tem outros 62  atrelados a ele. Apesar de haver algumas ponderações quanto à essencialidade desse setor, algumas atividades que envolvem a construção civil não podem ser interrompidas, como por exemplo os fornos de produção de cimentos que não podem ser desligados.

Uma saída encontrada pela maioria dos empresários do ramo das Construções civis foi ampliar os turnos de trabalho para evitar aglomeração em transporte público ou em refeitórios de obras. Outra medida adotada foi a obrigatoriedade de uso de máscaras e álcool gel dentro dos canteiros de obras. E ainda, em alguns canteiros de São Paulo os trabalhadores têm sua temperatura corporal medida, para certificar que eles não estão com febre, antes de começarem a trabalhar. Outro ponto relevante é que, adotando essas medidas no ambiente de trabalho, os trabalhadores levarão o conceito de higiene e prevenção do vírus para suas casas e comunidades, criando uma maior consciência social. O argumento do governador de São Paulo, ao permitir que as atividades industriais continuassem durante a quarentena foi de que elas não atendem ao público e, portanto o risco de contaminação e disseminação da doença era menor.

Um problema enfrentado é o fato de que a maioria das máquinas e equipamentos eletrônicos utilizados na construção civil são importados da China, onde foram notificados os primeiros casos de covid-19. O isolamento social gerou uma desaceleração de toda a cadeia produtiva, morosidade na obtenção de alvarás, menos materiais produzidos e distribuídos, diminuição da distribuição do capital público e fuga do capital privado, apenas para citar alguns exemplos.

O reflexo do coronavírus na construção civil não foi significativo apenas no Brasil. A Espanha e a Itália, países europeus mais atingidos pelo vírus, anunciaram que esse setor seria um dos primeiros retomar as atividades, considerando o impacto econômico e o potencial risco de contaminação. Outro ponto que merece destaque é a paralisação tardia desse setor.

Na Espanha, o decreto que determinava o isolamento dos construtores civis passou a valer a partir do dia 30 de março enquanto os demais setores da sociedade estavam em isolamento social desde 16 de março. A partir do dia 13 de abril, algumas empresas retomaram as atividades e aproveitaram a oportunidade para compensar as horas que os trabalhadores teriam de cumprir devido a licença remunerada.

Na Itália, as construções civis fazem parte da segunda onda de flexibilização da quarentena e, por isso, voltaram às atividades no dia 4 de maio.

Na China, foi calculado um prejuízo de quase US$ 43 milhões de dólares, com incorporadoras fechando estandes de venda e consumidores adiando negociações de imóveis. As buscas por moradias já começaram a ser retardadas desde 26 de janeiro, assim que o isolamento teve início. 

Ainda é cedo para afirmar como o setor de construção civil reagirá à pandemia e ao isolamento social, mas certo é que se o setor público e o privado agirem de forma diligente, respeitarem a boa-fé e equilíbrio entre as partes, os efeitos serão menos graves do que os enfrentados por outros setores. Com a normalização das atividades, espera-se que o setor de construção civil termine os projetos pendentes e inicie novos, aquecendo o mercado como antes.

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*Helena Ávila é colaboradora do escritório Tolentino Advogados.

 

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