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O rei está nu

É tempo de nos unimos, todos nós seres humanos, acreditarmos e seguirmos as orientações das autoridades mundiais em saúde e nos ajudarmos mutuamente, tendo fé que todos os "reis" se darão conta de que podem fazer muito por seu povo e salvá-lo desse pesadelo chamado covid-19.

quinta-feira, 14 de maio de 2020

Atualizado às 12:23

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Esta é uma fábula que trata, em sua essência, da vaidade humana e do quão tolos parecemos, à proporção que nos tornamos mais vaidosos. Quando não nos damos conta dessa vaidade, encontramos em nosso caminho seres como o alfaiate espertalhão, que decidiu aproveitar-se de um rei que gostava de andar sempre muito bem vestido, fazendo-o crer que havia um tecido tão perfeito, de tanta qualidade, que os tolos, os maus, os perversos não seriam capazes de o ver, fazendo crer ao rei que tal manto o faria distinguir aqueles das pessoas inteligentes.

Ao se dar conta de que não havia veste alguma, pois nada via o rei, ainda assim, sem deixar transparecer - pois não queria demonstrar pouca inteligência - efusivamente respondeu: "Oh! Como é belo!", o que era repetido por toda a gente perplexa que fingia admirar a vestimenta, porque ninguém queria passar por estúpido, ou tolo.

Mas, eis que a certa altura, surge do povo uma criança, que demonstrando toda sua inocência gritou: "Olha, olha! O rei está nu!", o que obrigou sua majestade, arrependido e envergonhado de sua vaidade, sob as risadas de todos, a correr e esconder-se no palácio.

Mas, o que uma fábula que versa sobre vaidade tem em comum com a pandemia mundial da covid-19, que está levando pessoas à morte, trabalhadores a perderem seus empregos e empresários ao risco de iminente falência.

Quem são os personagens da fábula assemelhados a esse universo de seres humanos que não sabem o que será do dia seguinte em suas vidas? A primeira relação faz-se entre o alfaiate e o mau empresário. Refiro-me ao empresário que, em razão do capitalismo selvagem que defende, enxerga o prejuízo como seu maior e mais desafiador problema. Aquele empresário que não vê que sem a saúde física e emocional daqueles a ele subordinados, não conseguirá manter de pé seu empreendimento, pelo simples fato de que não haverá trabalhadores para fazê-lo prosperar.

E quem é o rei? Na fábula da vida real trata-se de todo e qualquer governante inescrupuloso, sem partido, sem ideologia, sem compromisso com as questões sociais, sem programa de Estado, sem amor aos seus semelhantes, simplesmente com compromisso com o poder - o mundo está repleto deles.

Aquele alfaiate - o mau empresário - induz o rei a acreditar que tudo deve ser feito em seu benefício; utiliza a vaidade de sua majestade para aumentar a carga de impostos sobre os assalariados e para manter viva a ideia de que o Capital é o maior, o melhor, o único responsável pelo crescimento de uma Nação.

A vaidade faz o rei, que crê no alfaiate inescrupuloso, tomar decisões que põem em risco a segurança e saúde dos trabalhadores - e dos próprios empresários - sem se dar conta de que o lucro das empresas diminuirá e que será necessário fechar postos de trabalho e encerrar atividades econômicas construídas ao longo de gerações.

Outro personagem da fábula é o povo que aplaude, mesmo vendo que tudo está errado. É o povo que está vendo o rei nu e não consegue insurgir-se contra ele, mesmo sabendo que sua vaidade será prejudicial à nação. O povo é sempre o povo. O povo sem educação é manobrado para agir e aplaudir tudo o que o rei fizer, mesmo que contra o próprio povo. Não importa o quão está sendo sacrificado, o quão esteja vendo os desmandos do governante, mas que prefere aplaudir para que o rei continue sendo o rei, e assim, tendo a falsa esperança de que um dia chegará a alfaiate, quando, na verdade, deveria orgulhar-se de ser POVO.

Mas, chegando ao final da fábula, onde entra esse tal de covid-19? Quem é ele?

A covid-19, doença proveniente do coronavírus, é a criança da fábula. A criança, que com sua ingenuidade mostrou a todo o povo a arrogância e a vaidade do rei, o oportunismo do alfaiate e, com isso, nos mostra a fragilidade do capitalismo perverso que coloca em lados opostos o Capital e o Trabalho, os quais deveriam caminhar juntos e não em oposição um ao outro.

A covid-19, a criança, mostrou e vem mostrando, quanto estavam vulneráveis, todos aqueles que acreditaram indistintamente e sem reflexão nas ordens do "rei vaidoso" e hoje lotam os hospitais e, tristemente, choram sobre as lápides de seus familiares e amigos.

Alguns "reis" conseguiram ouvir aquela criança e estão, mesmo que tardiamente, tomando novas medidas para conter o avanço da covid-19 e diminuir as curvas da infecção e da letalidade por todo o mundo.

Mesmo a maioria dos "alfaiates" já se deram conta da gravidade dessa pandemia e hoje, muitos deles já clamam por medidas que assegurem suas vidas e de seus trabalhadores.

Desejamos que essa criança tenha fôlego e voz, para levar para o resto do mundo a mensagem de que o "Rei está nu" e que esses reis que ainda restam, consigam deixar de lado suas vaidade e arrogância e tomem medidas que assegurem que os empresários e o povo sejam preservados desse mal que assusta toda a humanidade nesse momento.

É tempo de nos unimos, todos nós seres humanos, acreditarmos e seguirmos as orientações das autoridades mundiais em saúde e nos ajudarmos mutuamente, tendo fé que todos os "reis" se darão conta de que podem fazer muito por seu povo e salvá-lo desse pesadelo chamado covid-19.

É o que se espera.

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*Mauro Augusto Ponce de Leão Braga é juiz do Trabalho do Tribunal Regional do Trabalho da 11ª Região, Mauro Augusto Ponce de Leão Braga, mestre e doutor e pós-doutor em Processo Civil pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

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