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Eu advogo. Nós governamos! E é tempo de nova e legítima governança!

Carlos Alberto Bitinas e Luciana Juhas

Não basta ser um bom operador do direito, mas um bom operador do ato de governar, que se chama Governança.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Atualizado às 08:05

 (Imagem: Arte Migalhas)

(Imagem: Arte Migalhas)

Governar é conduzir algo de algum ponto para outro, de uma forma ou de outra, durante determinado tempo, atingindo determinados resultados. Fenômeno que vemos na esfera pública, privada e individual, porque nós governamos a todo tempo, inclusive a nossa vida.

Podemos dizer que todos nós fazemos ou praticamos a tal Governança, que é a prática de governar, de conduzir. E comumente não temos uma noção clara do que é isso, nós cobramos um bom governo, do nosso governador, mas nós também somos governantes da nossa própria vida, da nossa casa, do nosso escritório, da nossa família, do nosso departamento, da nossa empresa. Para o advogado em sua atividade não basta advogar, porque ao fazê-lo ele inexoravelmente está inserido no mundo organizacional que pede advogar e praticar a governança. Não basta ser um bom operador do direito, mas um bom operador do ato de governar, que se chama Governança.

Precisamos então ter alguns conhecimentos para isso, não fazer só na base da intuição ou sem técnica, na tentativa e erro como muita gente faz, daí a importância da governança. Existe uma série de parâmetros para essa prática, por exemplo, para o meio organizacional, e uma banca jurídica também é um meio organizacional, e a estrutura da Justiça também é um meio organizacional. Existem princípios que são aceitos e recomendados para se ter uma boa governança.

Transparência é um princípio de extrema importância, cada vez mais necessária para uma boa governança, em tudo pede-se transparência, não é bom deixar mistérios e dúvidas para depois, transparência é um princípio de governança básico, para todas as relações.

O advogado é um profissional liberal e utiliza o seu capital intelectual. Ele cria o seu próprio trabalho, praticando a advocacia. Quando se propõe a dirigir um escritório jurídico, um bom primeiro conceito é a autogovernança, para bem conduzir a personalidade jurídica: como você conduz a si mesmo. O seu grau de autonomia e identidade perante a si próprio e ao mundo. Isso é um princípio existencial, de liderança. Porque a gente entra no mundo organizacional, começa a dançar a valsa que está tocando no salão, e o dançarino somos nós! Então temos que saber dar os nossos passos, com conhecimento e prática. Para poder também escolher a melodia e não sair do baile com fama de mal dançarino.

Profissional liberal que precisa compor com a pessoa jurídica. O escritório é uma pessoa jurídica que tem uma personalidade, ao mesmo tempo formada e apropriada e, portanto, dependente da governança estabelecida.

Outro princípio é o da equidade: ter uma postura, um procedimento justo com todos que estão envolvidos em determinada situação. Dirigir uma empresa é uma situação que leva há anos e décadas de existência, é ter uma postura de isonomia diante de todos. Outro princípio é accountability que é o de prestação de contas. O negócio vai crescendo e as coisas vão surgindo, há que se prestar contas de uma maneira compreensiva e consistente, no volume correto, estabelecendo relações de causa e efeito, não abrindo espaço para omissões, "planejamos ir a 100% e desaceleramos por causa disso", planejamos ir com tal grau de agressividade e agora temos que ir de forma mais cautelosa, por tais motivos, prestar contas aos envolvidos.

E, por fim, um princípio muito defendido é a responsabilidade do negócio, responsabilidade corporativa, organizacional, estamos falando de diligência. As pessoas precisam ser diligentes, exercer os papéis corretamente, "evitar aquele adágio de que filho feio não tem pai". Responsabilidade é algo importante na governança porque não é tudo que dá certo, e é preciso cuidar, das consequências, da reputação.

Se olharmos esses quatro fatores, eles duram no médio e longo prazo, é alimento diário, se afastar disso é, certamente se afastar da boa governança e sabemos aonde pode terminar uma má governança. Falências, impeachment, fracassos empresariais, insucessos; prosperidade por outro lado, consistência e reputação - é fácil ver a diferença entre uma boa ou má governança. E estamos falando de algo a respeito do que cerca e sustenta o governável.

O governável abarca todos os atores que cercam a lida organizacional. Em um escritório vai desde os proprietários, os stakeholders, fornecedores, investidores, parceiros, clientes, público interno, associados, o pessoal backoffice, são todos agentes que vivem a governança. E por fim um stakeholder que muita gente por vezes esquece é a comunidade, vital para que a organização seja sustentável. As associações de classe, o próprio governo: a governança precisa ser praticada com eles, junto a eles, e para eles também. Na prática ela introduz solidez às regras, diretrizes, aferições, responsabilidade, hierarquia de prioridades, padrões de eficácia e justificativas. A governança pode ser aplicada em um escritório de qualquer tamanho, pequeno, médio ou grande.

Importante se conceitualizar e praticar a autogovernança, ainda mais quando se é um profissional liberal, em nome de sua própria excelência. Qual é a eficácia de sua autogovernança? Conheces o "segunda-feira começo o regime", perder peso, melhorar minhas aferições de saúde, minhas metas, meus compromissos?

E tudo isso é permeado pela comunicação. Comunicação é dar fluidez ao processo e governança significa interagir consigo mesmo e com os outros, e manter essa interação em um determinado e elevado nível de funcionalidade. Quando um governo, por exemplo, se comunica de maneira falsa, fala para um e não fala para o outro, pode-se levar algo ao céu ou ao inferno. A boa estrutura de gestão também facilita o trabalho estratégico da comunicação no dia a dia e concede dentro da organização poder de representatividade e vozes alinhadas ao plano de sustentação e crescimento.

Existem governanças não confiáveis, nas quais não se aplicam bons valores, a exemplo de empresas que provocam grandes acidentes resultado de governança flácida, leniente, talvez até enganosa. A boa governança, a boa reputação e a verdadeira excelência caminham juntas. Então não basta só o querer, o cumprir os deveres e exercer também o poder; há que se obedecer à boa técnica e boa prática do conceito. Quais são os principais benefícios da governança?

Muitos, entre eles a consistência ao longo do tempo. Quem pratica uma boa governança navega ou tende a navegar bem em águas boas ou águas revoltas.

Reputação é outro ponto favorável que pode ser traduzido em moral, confiabilidade. Outro ponto de vantagem é a saúde organizacional, saúde financeira, saúde social e humana, saúde intelectual. Quando estamos falando de advogados, estamos falando de capital intelectual. E nós só nos relacionamos nos comunicando. Comunicação é essencial para a governança, que transcende o dia a dia, o intangível. "Ninguém é suficientemente competente para governar outra pessoa sem o seu consentimento", disse Abraham Lincoln e consentimento é sentir junto, e para sentir junto temos que comunicar a todos, para fazer isso bem feito.

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 *Carlos Alberto Bitinas é sócio da VOC Gestão e Desenvolvimento de Pessoas.






 *Luciana Juhas
é diretora da Galeria de Comunicações.

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