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Desafio na área de Compliance: ASG (Ambiental, Social e Governança) - Como crescer preservando o planeta?

Esta temática já vinha ganhando cada vez mais força nos últimos anos e agora é agenda obrigatória para as empresas que buscam relevância no mercado atual.

quinta-feira, 8 de abril de 2021

Atualizado às 13:12

 (Imagem: Arte Migalhas)

(Imagem: Arte Migalhas)

Se antes a tomada de decisão de gestores e estrategistas envolvia apenas questões de rentabilidade e outros pontos negociais, agora, inevitavelmente, estas ponderações devem passar pelo caminho da sustentabilidade.

Trata-se da métrica ASG (Ambiental, Social e Governança) ou ESG (Environmental, Social and Corporate Governance), um tipo de sistemática de avaliação que não considera apenas a performance financeira da empresa, mas também reconhece o risco climático como um potencial prejudicial e estabelece uma série de premissas a serem cumpridas em relação à transparência de seus desempenhos socioambientais.

Esta temática já vinha ganhando cada vez mais força nos últimos anos e agora é agenda obrigatória para as empresas que buscam relevância no mercado atual. Ela começou a ficar mais popular em 2005, na conferência Who Cares Wins ("Quem se importa, ganha"), em Zurique. O evento reuniu investidores institucionais, gerentes de ativos, analistas de pesquisa de compra e venda, consultores globais e órgãos e reguladores do governo para examinar o papel dos fatores ESG na gestão de ativos e na pesquisa financeira.

Contudo, o escopo do ESG vai muito além das questões ambientais, pois também diz respeito às relações estabelecidas com funcionários e fornecedores, sua atuação para melhoria da sociedade como um todo, o tratamento e as oportunidades dadas à minoria, a promoção da diversidade, além das medidas adotadas para combater fraude e corrupção.

Este movimento vem ao encontro de uma cobrança cada vez maior pela transparência e atuação responsável de organizações no que diz respeito ao seu envolvimento com a sua comunidade.

Além da pandemia do coronavírus e seu impacto sobre empresas e funcionários, a tragédia em Brumadinho envolvendo a Vale, o crescimento dos incêndios na Amazônia e o vazamento de óleo na costa brasileira, reforçaram a importância de acompanhar a temática ESG.

Para se ter uma dimensão sobre a relevância do tema, a B3 lançou o índice S&P/B3 BRASIL ESG, que utiliza critérios baseados nas práticas representadas pela sigla para selecionar empresas brasileiras para sua carteira. A ideia é promover empresas com as melhores avaliações ESG, excluindo aquelas de setores como armas, tabaco e carvão térmico.

Um exemplo emblemático, ocorrido recentemente no Brasil, em novembro de 2020, foi a morte de João Alberto Silveira Freitas, um homem negro, após ser espancado e asfixiado por seguranças em uma unidade do Carrefour em Porto Alegre.

O caso, que teve repercussão internacional, chamou a atenção para a questão do racismo no país e colocou também em xeque a eficácia da adoção de práticas de ESG por grandes corporações.

Em decorrência desse fato, a provedora de índices de mercado S&P Dow Jones decidiu retirar o Carrefour Brasil de sua carteira do índice S&P/B3 Brasil ESG. 

Portanto, a discussão, mais presente em mercados europeus e americanos, tem feito as empresas brasileiras olharem para o assunto com maior interesse e atenção para buscar introduzir o critério em suas análises e seus produtos. A precursora deste engajamento no Brasil é a Natura, indústria de cosméticos, seguida por Avon, Movida e Magalu.

O desafio, tanto dos gestores e analistas, quanto dos investidores, é se certificar de que as empresas estão cumprindo o que prometem e estão revendo práticas em busca de uma atuação de fato mais sustentável no seu cotidiano, sem esquecer a busca pela eficiência e pela entrega de resultados.

A partir daí surgem dúvidas sobre parametrização de métricas ESG: como pensar nas questões acima de forma integrada?

Para aferir a sustentabilidade de uma empresa e seu compromisso com um capitalismo de stakeholders, o Fórum Econômico Mundial sugere que devem ser observadas 55 métricas (21 principais e 34 complementares). Essas métricas dividem-se em quatro pilares: princípios de governança, pessoas, planeta e prosperidade:

 1. Princípios de governança: São o propósito de uma empresa, o seu comportamento ético e sua transparência. Avalia critérios como a ética empresarial, o combate à corrupção e a práticas desleais, o gerenciamento de riscos.

 2. Planeta: Avalia a dependência de uma empresa em relação a recursos naturais e qual o impacto dela no ambiente. Analisa fatores como políticas de gestão de resíduos, fontes energéticas e consumo de água.

 3. Pessoas: Afere, essencialmente, como a empresa cuida de seus empregados. Alguns dos critérios analisados neste pilar são a diversidade, as oportunidades de ascensão, as diferenças salariais e o investimento na qualidade de vida e na formação dos funcionários.

 4. Prosperidade: Avalia como a companhia afeta o bem-estar da sociedade. Aqui são observados indicadores como o crescimento no número de colaboradores, investimento em tecnologia e na expansão da capacidade produtiva.

A sugestão é que as empresas façam um balanço, em seus relatórios anuais, sobre quais foram as suas ações com respeito aos quatro pilares e aos 55 indicadores. Diz o documento do Fórum Econômico Mundial: "Ao prestar contas sobres essas métricas - e integrá-las em sua governança, na sua estratégia de negócios e na sua administração -, a empresa demonstra aos seus shareholders e stakeholders a sua preocupação em avaliar todos os riscos e oportunidades pertinentes ao seu negócio".

Segundo o Fórum Econômico Mundial, as corporações capazes de alinhar os seus objetivos com os objetivos de uma sociedade, como aqueles articulados nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU, são as mais preparadas para criar valor a longo prazo. Elas produzem resultados positivos para os negócios, para a economia, para a sociedade e para o planeta. "Esta é a verdadeira definição do capitalismo de stakeholders", afirma o documento.

Alguns especialistas chegam a dizer que vivemos uma evolução do capitalismo, um capitalismo que passa a olhar para mais indicadores que não só o financeiro. 

Nesse sentido, Larry Fink, CEO da BlackRock1, foi um dos primeiros líderes empresariais a reconhecer essas mudanças, escrevendo em sua carta anual aos investidores em 2017 que a capacidade de uma empresa de gerenciar os riscos ESG estava diretamente relacionada ao seu longo prazo sustentável.

Fink concluiu sua carta afirmando que a BlackRock integraria cada vez mais o ESG em seu processo de investimento e assim como ele, vários investidores perceberam essas questões como materiais para o desempenho corporativo. Agora eles dão a esses riscos a mesma atenção que dão às métricas financeiras e operacionais tradicionais.

Enfim, o mercado está vivendo uma transformação, o ESG é algo muito novo, especialmente no Brasil, e há um processo de adaptação por parte das empresas, dos gestores e dos próprios investidores.

De qualquer maneira, trata-se de um caminho sem volta, principalmente em um momento cada vez mais crescente e definitivo em que a opinião pública passa a ter um papel fundamental na construção da marca e reputação das empresas.

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1. A BlackRock, Inc é uma empresa estadunidense, sendo a maior em gestão de ativos no mundo, sediada em Nova York. Opera principalmente em ativos e gestão de riscos. BlackRock é o maior sistema bancário sombra no mundo. As ações estão listadas na New York Stock Exchange.

Bruna Braghetto

Bruna Braghetto

Cursando MBA em Direito Corporativo e Compliance e Pós Graduada em Processo Civil e Direito Civil pela Escola Paulista de Direito. Graduação em Direito pela Universidade Católica de Santos. Sócia e Advogada no escritório Pallotta Martins. Palestrante e Instrutora In company. Autora de artigos e professora convidada para cursos e eventos.

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