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Inteligência artificial na prática do Direito Penal: uma revolução em andamento

A introdução da inteligência artificial no direito penal redefine a análise, julgamento e defesa de casos criminais, levantando questões sobre seu papel, benefícios, substituição humana e impacto nos julgamentos e no trabalho dos advogados.

segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

Atualizado às 14:17

Automatização da análise legal

A IA já demonstrou sua capacidade de processar e analisar grandes volumes de dados jurídicos mais rapidamente do que qualquer equipe de advogados. Softwares de IA, equipados com algoritmos avançados, podem revisar documentos, identificar precedentes relevantes e sugerir abordagens para a defesa ou acusação. Esta eficiência não apenas economiza tempo, mas também aumenta a precisão da análise legal. Escritórios de grande porte e até tribunais ao redor do mundo já estão utilizados os recursos propiciados pela IA para ganhar velocidade em seus peticionamento.

Previsão de resultados de casos

A IA também está sendo usada para prever resultados de casos com base em dados históricos. Embora isso possa parecer uma ferramenta útil, levanta questões éticas significativas, especialmente em relação ao potencial viés algorítmico. A preocupação é que a IA, treinada em dados históricos, possa perpetuar desigualdades existentes no sistema de justiça penal.

As inteligências podem analisar dados de milhões de julgamentos e estatisticamente fazer uma previsão. As supermáquinas, inclusive, poderão apontar o caminho mais provável para a defesa atuar. Será uma guerra cibernética.

 Auxílio na investigação criminal

No âmbito da investigação, a IA tem sido uma ferramenta valiosa. Por exemplo, algoritmos de reconhecimento facial estão sendo usados para identificar suspeitos em vídeos de vigilância. Contudo, essas tecnologias também enfrentam críticas relacionadas à privacidade e ao risco de identificações incorretas, especialmente entre grupos minoritários.  Os algoritmos parecem mágicos quando analisam documentos, fotos, vídeos e cruzam os dados pessoais para chegar a conclusão acerca de um fato. Os robôs conseguem muito rapidamente investigar conversas incriminadoras, áudios e vídeos em aparelhos celulares e computadores para construir a prova contra um acusado. Resta saber, qual o limite? Quando se deve pedir a autorização ao Poder Judiciário bem como os limites de autuação de ferramentas tão poderosas. O cidadão precisa ter garantido o seu direito à intimidade, privacidade e segurança de dados, pois, pelo menos por enquanto, os robôs não conhecem precisamente os limites.

Impacto na sala de audiências

Na sala de audiências, a IA tem o potencial de auxiliar juízes e jurados na tomada de decisões mais informadas. Por exemplo, algoritmos de IA podem fornecer análises de probabilidade de reincidência, ajudando na determinação de sentenças. No entanto, isso também gera debates sobre a justiça e imparcialidade desses sistemas. O cuidado a ser observado é não criar o direito penal do inimigo no qual o computador constrói um esteriótipo do criminoso e, o cidadão que se enquadre dentro dessas características, poderá sofrer consequências graves e, até, diante da decisão da IA ser punido antecipadamente, pelos dados.

Questões éticas e legais

A adoção da IA no direito penal não é apenas uma questão de eficiência, mas também levanta várias questões éticas e legais. Questões como consentimento para o uso de dados, viés algorítmico e responsabilidade pela tomada de decisões baseadas em IA são desafios que ainda precisam ser resolvidos. No Brasil, a legislação do CNJ não permite que ferramentas de dados generativos tomem decisões. O caráter decisório permanece com o ser humano.

O futuro da IA no direito penal

O futuro da IA no direito penal parece promissor, com contínuas inovações e melhorias. A longo prazo, espera-se que a IA contribua para um sistema de justiça penal mais eficiente, transparente e justo. No entanto, é crucial que os desenvolvimentos tecnológicos sejam acompanhados de debates éticos robustos e regulamentações apropriadas.

Conclusão

A IA chegou para auxiliar, mas não para substituir o ser humano no direito criminal. Ela oferece ferramentas poderosas para melhorar a eficiência e a precisão na análise de casos, mas sua aplicação deve ser feita com cautela para garantir que os princípios de justiça e equidade sejam mantidos.

A relação entre IA e advogados não é de substituição, mas de complementaridade. A IA pode fornecer insights valiosos, mas a interpretação e aplicação dessas informações requerem a habilidade e o discernimento humano. Assim, os advogados continuarão tendo um papel crucial, agora potencializados por esta nova ferramenta.

Quanto aos julgamentos por robôs, estamos ainda longe dessa realidade. O papel da IA deve ser de suporte, não de substituição do julgamento humano, que incorpora valores éticos e morais.

Em suma, a IA no direito criminal é uma aliada na busca por um sistema de justiça mais eficiente e preciso. Contudo, sua utilização deve ser acompanhada de debates constantes sobre ética, privacidade e direitos humanos, assegurando que a tecnologia sirva à justiça, e não o contrário.

Marcelo Campelo

Marcelo Campelo

Advogado atuante em Direito Criminal, com experiência de 22 anos. Trabalha na defesa de crimes contra a vida, contrata o patrimônio, dentre outros. Realiza audiência de custódia.

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