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O golpe no Chile, neoliberalismo e Chicago Boys

O golpe de 1973 no Chile, liderado por Pinochet, transformou a democracia em ditadura. A doutrina neoliberal da escola de Chicago gerou um estado de mal-estar social, revertendo conquistas sociais e promovendo repressão.

sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Atualizado às 09:05

No trágico dia do golpe contra o governo democrático de Salvador Allende, em 11 de setembro de 1973, jatos Hawker Hunter rasgaram o céu de Santiago para lançar bombas sobre o Palácio de La Moneda. O Palácio de estilo neoclássico ficou em chamas. A democracia chilena também.

As forças armadas, sob o comando de Pinochet, tomaram o controle do país. Na manhã daquele dia, Allende fez um pronunciamento na rádio, esperando que os seus apoiadores fossem às ruas para defender a democracia. A resistência nunca se concretizou. A polícia militar que protegia o Palácio o abandonara. Em poucas horas, ele estava morto.

O general Augusto Pinochet inicia uma ditadura no Chile. Ela se estenderá até 1990. O Estado de bem-estar social se transformou em um estado de mal-estar social. As liberdades econômicas estavam em plena vigência, entretanto havia uma repressão violenta aos direitos civis.

Sob a batuta de Pinochet, o Chile fez um giro para o neoliberalismo. Antes tínhamos um estado regulador, depois foi imposto um modelo de cariz desestatizante. Esse programa estatal foi comandado por um grupo de economistas chamado Boys of Chicago. Ou seria Bad Boys of Chicago?

A doutrina de choque da escola de Chicago, cujo principal nome era Milton Friedman foi bem-sucedida no Chile durante um determinado período de tempo. Contudo, uma parcela relevante das medidas neoliberais materializadas durante a década de 1970, foram revertidas na década seguinte.

Algumas medidas foram tomadas para tocar esse projeto. Abertura ao mercado externo, privatizações, reforma trabalhista e a redução do gasto público e do papel do Estado em áreas cruciais, a exemplo da saúde e da educação. Décadas antes do golpe, os Estados Unidos prepararam o terreno para que esse novo receituário econômico fosse concretizado no Chile.

Na década de 1950, professores da escola de Chicago visitaram o país com o propósito de realizar convênios. Eles passaram a influenciar na formulação de políticas econômicas através de alunos que foram bolsistas em Chicago. A escola americana acreditava que a crise econômica era o produto da intervenção do Estado na atividade produtiva dos agentes privados.

Os jatos Hawker Hunter e a doutrina da escola de Chicago representam a artilharia neoliberal contra governos eleitos democraticamente e economias pautadas no bem-estar social. A pinochetização do Chile culminou na repressão da sociedade civil, mortes, desaparecimentos, torturas e outros efeitos colaterais de uma ditadura militar.

Para aqueles que conclamam que a escola de Chicago aumentou os indicadores econômicos do Chile, podemos citar um dado interessante sobre a conjuntura do país na era Pinochet e na era pós-Pinochet. O crescimento anualizado do PIB per capita durante o governo do ditador foi de 1,6%. Nos dezessete anos seguintes da era pós-ditadura, esse crescimento anualizado atingiu o patamar de 4,36%. Pinochet foi superestimado pelos seguidores dos Chicago Boys.

Nas ruas de Santiago, ao visitar o Chile em 2022, visualizei um muro que continha a seguinte inscrição: "Vivimos en una mentira". Na mosca. O neoliberalismo produz ilusões em escala industrial. Trata-se de uma doutrina que defende o alargamento da influência do mercado sobre a vida das pessoas e o engessamento das funções do Estado. Só quem sente na pele sabe o que passou.

Alexandre José Trovão Brito

Alexandre José Trovão Brito

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