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Financiamento Imobiliário: Como Identificar e Lidar com Juros Abusivos

Saiba como reconhecer práticas abusivas em contratos de crédito imobiliário e quais medidas tomar para garantir condições mais justas.

quinta-feira, 10 de abril de 2025

Atualizado às 10:51

Introdução

Ao adquirir um imóvel financiado, o consumidor muitas vezes foca na parcela que cabe no bolso, mas ignora os detalhes do contrato que podem esconder armadilhas financeiras. Entre os riscos mais comuns está a cobrança de juros abusivos - uma prática que eleva substancialmente o valor total do imóvel e pode comprometer o orçamento por décadas.

Esse tipo de irregularidade não é raro e, com o devido conhecimento, é possível reconhecê-la, contestá-la e até revisar judicialmente as cláusulas envolvidas.

Juros abusivos: Entendendo o conceito

A cobrança de juros além do razoável caracteriza-se pela aplicação de taxas excessivas ou por condições contratuais que oneram indevidamente o consumidor. Em geral, isso ocorre quando:

  • A taxa de juros contratada supera significativamente a média do mercado;
  • Há inclusão de encargos não informados claramente, como taxas administrativas e seguros obrigatórios embutidos no contrato;
  • O contrato impõe capitalização de juros (anatocismo), proibida em algumas situações.

Essas práticas podem passar despercebidas por compradores inexperientes, especialmente quando a linguagem contratual é excessivamente técnica ou pouco transparente.

Fundamentação Legal

A legislação brasileira dispõe de mecanismos de proteção ao consumidor. Os principais dispositivos que podem ser utilizados em casos de juros abusivos são:

  • Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/1990) - Garante a transparência contratual e coíbe cláusulas que coloquem o consumidor em desvantagem excessiva.
  • Decreto nº 22.626/1933 (Lei da Usura) - Restringe a prática de juros excessivos.
  • Resoluções do Conselho Monetário Nacional e normas do Banco Central - Determinam padrões e limites para operações de crédito.

Além disso, a jurisprudência brasileira tem reconhecido o direito à revisão de contratos quando identificada abusividade.

Quando a taxa se torna abusiva?

O principal indicativo de abuso é a discrepância entre a taxa aplicada no contrato e a taxa média de mercado. Por exemplo, segundo dados recentes do Banco Central (2024), a média de juros anuais para financiamentos com recursos da poupança gira em torno de 9,5% ao ano. Se o contrato apresentar uma taxa significativamente maior sem justificativa plausível, é possível que haja ilegalidade.

Outro ponto fundamental é o CET - Custo Efetivo Total, que representa o valor real da operação, considerando juros, taxas, seguros e encargos. Um CET acima da média de mercado pode sinalizar que há cobranças indevidas ou exageradas embutidas.

Como verificar e agir

O consumidor pode tomar algumas medidas antes e depois de assinar o contrato:

  1. Pesquisar e comparar propostas de diferentes instituições;
  2. Avaliar o CET e questionar todas as cobranças adicionais;
  3. Solicitar uma simulação detalhada com todos os encargos envolvidos;
  4. Consultar um advogado especializado para uma análise contratual preventiva.

Se o contrato já foi assinado, é possível buscar a renegociação extrajudicial com o banco ou, em último caso, recorrer ao Judiciário com uma ação revisional.

Consequências no orçamento familiar

Contratos com juros abusivos afetam diretamente a saúde financeira dos compradores. Além de parcelas mais altas, há redução na capacidade de consumo e investimento da família. Em médio prazo, isso pode levar ao atraso de pagamentos, negativação do nome e, em casos mais graves, à perda do imóvel por inadimplência.

O impacto emocional também é relevante, pois a insegurança financeira afeta o bem-estar e pode gerar estresse e conflitos familiares.

Exemplo ilustrativo

Imagine um financiamento de R$ 300 mil com taxa de juros informada de 8% ao ano. Ao calcular o CET, descobre-se que, na prática, o custo real é de 12% ao ano por causa de encargos não explicitados. Isso representa uma diferença de dezenas de milhares de reais ao longo de 30 anos de contrato. Em situações como essa, é cabível discutir judicialmente a legalidade dessas cobranças.

Ação Revisional: Caminho para a Correção

Caso sejam identificadas irregularidades, o mutuário pode ingressar com uma ação revisional para:

  • Ajustar a taxa de juros aos patamares médios de mercado;
  • Solicitar a exclusão de cobranças ilegítimas;
  • Pedir a devolução dos valores pagos indevidamente, com juros e correção monetária;
  • Obter liminar para reduzir temporariamente o valor das parcelas durante a tramitação do processo.

Para isso, é fundamental contar com um profissional experiente na área de direito bancário ou imobiliário, que poderá embasar o pedido com documentação e provas robustas.

Considerações finais

O financiamento imobiliário é uma das maiores decisões financeiras que uma pessoa pode tomar. Por isso, é essencial garantir que as condições do contrato sejam justas e compatíveis com a realidade do mercado.

Ao identificar sinais de abusividade, o consumidor não deve hesitar em buscar seus direitos. A revisão contratual, quando amparada por argumentos legais e dados comparativos, pode representar um alívio financeiro significativo e assegurar a concretização de um sonho com mais segurança.

Compartilhe estas informações com quem está planejando financiar um imóvel e, se necessário, procure orientação especializada para garantir um contrato equilibrado e seguro.

Werner Damásio

VIP Werner Damásio

Advogado pós-graduado em Direito Privado, especialista em Direito Civil, Empresarial e Imobiliário. Sócio do Lettieri Damásio Advogados, com 17 anos de atuação nacional.

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