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É agora ou nunca. A janela que se abriu com a IA generativa não vai durar para sempre

A IA generativa virou o jogo jurídico: Quem entender a estratégia, lidera; quem esperar, desaparece. O futuro já começou - e é agora.

terça-feira, 22 de abril de 2025

Atualizado em 17 de abril de 2025 14:26

Estamos presenciando a maior redistribuição de poder do setor jurídico nas últimas décadas. Uma transformação que não é provocada por leis, reformas ou fusões de grandes bancas, mas por uma tecnologia que, pela primeira vez, permite que pequenos e médios escritórios joguem no mesmo tabuleiro que os grandes. Não por escala, mas por inteligência estratégica.

A IA generativa mudou a regra do jogo. E mais do que isso, criou um novo jogo. Escritórios com equipes enxutas agora conseguem estruturar entregas robustas, com alta precisão, rapidez e um nível de personalização que era impossível até pouco tempo. O impacto disso não está apenas na operação, mas na lógica de competição do setor. Pela primeira vez, quem entender a estratégia por trás dessa tecnologia terá vantagem. E essa vantagem será definitiva.

O problema é que muitos ainda estão observando de fora. Avaliando, esperando a "hora certa", acompanhando movimentos do mercado como se isso fosse suficiente. Mas o que está acontecendo não é uma onda tecnológica qualquer. É uma ruptura. E rupturas não têm segunda chamada. O tempo agora virou o maior diferencial competitivo. E quem não entender isso, corre o risco de se tornar irrelevante antes mesmo de perceber.

Essa nova realidade expõe uma verdade incômoda, mas necessária. Muitos escritórios estão paralisados não por falta de recursos, mas por falta de visão. Acreditam que a IA é algo que virá mais à frente, quando os riscos forem menores e os exemplos forem mais abundantes. Essa postura, que parece prudente, é na verdade o que impede o reposicionamento estratégico. A tecnologia já está disponível, o mercado já está se movimentando, e os clientes já estão elevando suas expectativas. Esperar virou um risco muito maior do que agir.

Nesse cenário, vejo com clareza uma "nova elite jurídica" se formando. Escritórios que adotaram a IA Generativa com um olhar estratégico, alinhando tecnologia ao modelo de negócio, redesenhando suas operações, capacitando suas equipes e, principalmente, reposicionando a proposta de valor entregue ao cliente. São esses escritórios que irão liderar nos próximos anos. Não porque têm mais recursos, mas porque entenderam antes a lógica da mudança.

A maior armadilha hoje é acreditar que basta "implantar ferramentas". A IA não é um plug and play que resolve tudo de forma mágica. Pelo contrário, seu real impacto depende de estrutura, coerência e direcionamento. E foi justamente por isso que criei o Generative AI-Centric Law Firm Model, um framework que oferece uma visão estruturada, sistêmica e prática para que escritórios de advocacia consigam adotar a IA generativa com propósito, consistência e alinhamento estratégico. Esse modelo já tem sido utilizado em diferentes países, por escritórios de diversos portes, porque ele não parte da tecnologia, mas da estratégia. Ele ajuda a responder uma pergunta que poucos estão fazendo com seriedade onde essa IA vai me levar, e qual valor ela deve gerar para meu escritório e meus clientes.

Dentro do modelo, estruturamos a adoção da IA em quatro núcleos principais. Cada um deles responde por uma camada crítica do negócio. O primeiro é voltado à experiência do cliente, e trata do uso da IA para melhorar tempo de resposta, personalização, onboarding e atendimento preventivo. O segundo núcleo foca nos serviços jurídicos em si, promovendo automação, pesquisa inteligente, geração de documentos e suporte à estratégia jurídica. O terceiro núcleo trata da análise de riscos e decisões estratégicas, combinando IA com dados internos e externos para avaliar impacto, precedentes e probabilidades. O quarto núcleo é o de gestão do conhecimento, onde a IA ajuda a capturar, organizar e distribuir o capital intelectual do escritório, gerando um ciclo de aprendizado contínuo.

Esses núcleos não funcionam isoladamente. Eles são interdependentes e, quando ativados de forma coordenada, criam um ambiente de sinergia operacional que redefine o potencial do escritório como um todo. Esse é o ponto onde a IA deixa de ser uma ferramenta para se tornar uma inteligência estratégica transversal. E é esse o ponto que poucos estão percebendo.

Na prática, o que vemos é que os escritórios que adotaram esse tipo de abordagem começam a ganhar fôlego em áreas que antes eram dominadas pelas grandes estruturas. Com a IA estruturando fluxos de trabalho, reduzindo retrabalho, antecipando riscos e dando suporte à tomada de decisão, o nível de entrega melhora significativamente. Mas talvez o mais importante seja o que acontece na percepção do cliente. Quando o cliente percebe que o escritório entende suas dores, responde com rapidez, antecipa problemas e propõe soluções com base em dados e contexto, ele não compara mais por tamanho. Ele compara por relevância. E é isso que está abrindo espaço para um novo grupo de escritórios ascenderem com força.

Outro ponto importante e que precisa ser discutido com mais seriedade é que essa transformação exige coragem para romper com modelos antigos. Coragem para revisar processos, abandonar planilhas ultrapassadas, integrar sistemas, mudar a forma de precificar, revisar o papel dos profissionais, criar uma cultura de aprendizado contínuo e aceitar que a inovação vai exigir ajustes constantes. Não é sobre encontrar uma fórmula pronta, mas sobre ter clareza de onde se quer chegar e usar a tecnologia para potencializar esse caminho.

Ao longo dos últimos meses, conversei com mais de 80 escritórios em diferentes países, todos buscando entender o que é possível fazer com a IA generativa. A resposta não é única, mas o padrão de sucesso é claro. Escritórios que colocam a estratégia à frente da ferramenta, que olham para a IA não como uma substituição, mas como um parceiro de decisão e operação, estão conquistando espaço de forma acelerada. E esse crescimento não tem volta.

Ao mesmo tempo, vejo muitos ainda presos à ideia de que a IA generativa é algo "para grandes". Essa percepção é um equívoco. A real vantagem está justamente do outro lado. Escritórios menores, por não terem estruturas engessadas, conseguem testar, ajustar e escalar soluções com mais rapidez. Eles não dependem de comitês para decidir. Eles podem agir. E isso, neste momento, é ouro.

Claro que a tecnologia evolui. Mas o que temos hoje já é suficiente para transformar radicalmente a forma de advogar. Esperar por soluções perfeitas é abrir mão do protagonismo. O tempo está passando, os clientes estão mudando, a concorrência está se reposicionando. E a janela de vantagem para quem começar agora vai se fechar em breve. Não porque a IA deixará de existir, mas porque ela vai se tornar padrão. E quando isso acontecer, o diferencial já terá mudado de lugar. Quem quiser competir apenas quando o mercado estiver maduro, terá que fazê-lo com os mesmos recursos que todos terão. E nesse ponto, a vantagem desaparece.

Essa é uma corrida silenciosa. Os que estão se movimentando estão fazendo isso com discrição. Quem olha de fora talvez ache que ainda há tempo. Mas quando os resultados começarem a aparecer de forma clara, o mercado já terá sido redesenhado. O melhor momento para agir foi ontem. O segundo melhor é agora. Porque muito em breve, será tarde demais.

Não se trata de hype. Não se trata de fazer bonito em evento ou em post nas redes sociais. Trata-se de entender que a IA generativa é uma ferramenta estratégica de alto impacto. E como toda ferramenta de impacto, ela exige responsabilidade, clareza e ação. Oportunidades assim não aparecem com frequência. E quando aparecem, não duram muito tempo.

O momento é esse. A decisão também. O futuro da advocacia não será moldado apenas por quem adotar a tecnologia, mas por quem souber fazer isso de forma estratégica, coerente e com visão de longo prazo. Não importa o tamanho do escritório. Importa a visão. Porque o jogo virou. E quem entendeu isso já começou a liderar.

Paulo Silvestre de Oliveira Junior

Paulo Silvestre de Oliveira Junior

Direitor de inovação e desenvolvimento estratégico no escritório ButtiniMoraes. Especialista em Inovação Estratégica e Transformação organizacional.

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