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Mais do que uma data: É hora de cumprir a promessa da emenda constitucional 80

EC 80 completa 11 anos sem ser plenamente cumprida. A luta é por justiça acessível e Defensoria Pública em todo o país.

quinta-feira, 5 de junho de 2025

Atualizado às 11:52

No último 4 de junho, a EC 80 completou 11 anos. Para muitos, pode ser apenas mais uma data no calendário jurídico. Para mim - e para milhões de brasileiras e brasileiros em situação de vulnerabilidade - trata-se de um marco que ainda clama por concretização. E é hora de dizermos isso em alto e bom som.

A EC 80 não foi uma concessão simbólica. Foi um pacto constitucional em favor da justiça social. Ela reconheceu a Defensoria Pública como instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, e a colocou no mesmo patamar de autonomia e relevância que o Ministério Público e a Magistratura. Mais do que isso, definiu uma meta ousada e necessária: garantir a presença da Defensoria Pública em todas as unidades jurisdicionais do país.

Onze anos depois, o que temos?

Temos apenas cerca de 30% de cobertura da Defensoria Pública da União no território nacional. Isso mesmo: em pleno 2025, há regiões inteiras onde o cidadão não tem a quem recorrer quando precisa de orientação jurídica gratuita. Onde mães solos, trabalhadores informais, povos originários, imigrantes e tantos outros segmentos da população continuam sendo barrados, não por uma sentença, mas pela ausência do próprio Estado.

Não faltam diagnósticos, faltam decisões. A verdade é que sem acesso à justiça, não há cidadania plena. E quando a defensoria não chega, a CF/88 falha.

Por isso, a ADIn 7.792, proposta pela ANADEF, é muito mais do que um recurso jurídico. É um chamado ético e político. Trata-se de exigir do Estado brasileiro o cumprimento daquilo que ele mesmo prometeu em sua Carta Magna: que ninguém será privado de direitos por falta de dinheiro ou de representação.

Cumprir a EC 80 não é favor. É dever. É garantir que a justiça não seja privilégio dos que podem pagar, mas direito de todos. É fazer da CF/88 mais do que um texto bonito - é transformá-la em prática viva.

Conclamo a sociedade civil, os operadores do Direito, os parlamentares e os formadores de opinião: vamos transformar a omissão em mobilização. Vamos cobrar do Estado aquilo que ele já reconheceu como essencial.

Onze anos se passaram. Quantos mais esperaremos?

Luciana Bregolin

Luciana Bregolin

Presidenta da Associação Nacional das Defensoras e Defensores Públicos Federais (ANADEF)

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