Oresteia e alienação parental: Mito e Direito de Família
Análise da Oresteia como metáfora da alienação parental, articulando Direito, psicologia e modernidade líquida para refletir sobre vínculos, culpa e justiça nas relações familiares.
quinta-feira, 12 de junho de 2025
Atualizado às 09:58
Este artigo propõe uma leitura interdisciplinar entre a tragédia grega Oresteia, de Ésquilo, e o fenômeno contemporâneo da alienação parental, articulando elementos do Direito, da psicologia e da sociologia, à luz do conceito de modernidade líquida, desenvolvido por Zygmunt Bauman. Partindo da análise simbólica da trajetória de Orestes - filho alienado que, ao reencontrar-se com a verdade, rompe o vínculo com a mãe e mergulha em culpa e sofrimento psíquico - o texto evidencia os efeitos devastadores da ruptura afetiva precoce na construção da identidade infantil. A partir disso, discute-se como, na atualidade, o crescimento dos casos de alienação parental não se deve apenas ao aumento dos divórcios, mas à forma como os adultos, imersos numa lógica narcisista, consumista e descartável das relações, lidam com a frustração conjugal e instrumentalizam os filhos como objetos de validação ou vingança. O artigo ressalta ainda a necessidade de uma atuação judicial firme, porém prioritariamente educativa, bem como da ampla disseminação de informações como estratégia preventiva. Ao final, conclui-se que compreender a alienação parental como drama ético e humano - e não apenas técnico ou jurídico - é fundamental para que o Direito se torne também um espaço de escuta, reparação e reconstrução simbólica dos laços familiares.
1. Introdução
A trilogia trágica Oresteia, de Ésquilo, constitui um dos pilares da dramaturgia grega clássica e, ao mesmo tempo, uma das mais sofisticadas representações do drama familiar e da transição da vingança para a justiça institucionalizada. Escrita no século V a.C., a trilogia narra os eventos que se sucedem à Guerra de Troia, começando com o assassinato de Agamenon por sua esposa Clitemnestra, passando pela vingança matricida de Orestes e culminando em seu julgamento pelo tribunal do Areópago, criado pela deusa Atena. Mais do que uma sequência de eventos sangrentos, a Oresteia revela uma intricada teia de afetos, deveres, traições e culpas, oferecendo um retrato atemporal das consequências da ruptura dos laços parentais.
Este trabalho parte de uma releitura simbólica da Oresteia para abordar um tema jurídico e psicológico contemporâneo: a alienação parental. A trajetória de Orestes - separado do pai desde o nascimento, criado por uma mãe tomada pelo ressentimento, instigado à vingança por uma autoridade divina e lançado ao colapso psíquico após o matricídio - é aqui interpretada como um modelo arquetípico de filho alienado. O enredo trágico torna-se, assim, uma poderosa metáfora dos dilemas que ainda hoje acometem crianças e adolescentes em contextos de alta litigiosidade parental.
Ao articular a tragédia antiga com os desafios modernos do Direito de Família, o artigo pretende demonstrar que a alienação parental, longe de ser um fenômeno recente ou exclusivamente técnico, expressa um drama humano profundo: a destruição do vínculo fundante entre pai, mãe e filho. Por meio do paralelo com a Oresteia, busca-se evidenciar as consequências emocionais e existenciais da instrumentalização da criança nos conflitos conjugais, o papel transformador do Judiciário como mediador simbólico da reparação, e, sobretudo, a urgência de abordar a alienação parental com sensibilidade interdisciplinar, que una o Direito, a psicologia e a cultura.
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