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IA no Direito: Por que a automação ameaça mais as mulheres?

A tecnologia não substitui o humano, mas desafia quem se recusa a evoluir.

terça-feira, 17 de junho de 2025

Atualizado às 13:51

A IA - Inteligência Artificial tem remodelado o mercado de trabalho em velocidade acelerada. Isso é um fato. No entanto, um dado alarmante tem sido pouco discutido: as mulheres são as mais afetadas pela automação.

De acordo com um relatório da OIT - Organização Internacional do Trabalho publicado em agosto de 2023, 9,6% dos empregos femininos em países ricos serão transformados pela IA.

Entre os homens, esse impacto é bem menor: apenas 3,5%.

No setor jurídico, essa disparidade é ainda mais evidente. Cargos como secretariado jurídico, assistentes de controle de prazos e paralegais - ocupados majoritariamente por mulheres - estão entre os mais suscetíveis à automação. 

Enquanto isso, funções tradicionalmente masculinas, como a advocacia litigiosa e consultiva, ainda têm um grau menor de substituição por máquinas.  

Mas será que esse cenário é inevitável? Ou podemos usar a tecnologia para requalificar, empoderar e reposicionar as profissionais do Direito em funções mais estratégicas?  

Por que a IA ameaça mais as mulheres no Direito?  

Dados do IBGE mostram que as mulheres representam 85% dos cargos administrativos no Brasil. Enquanto isso, elas ocupam apenas 38% dos cargos de sócios de escritórios de advocacia. Essa desigualdade histórica faz com que a IA atinja primeiro as funções com maior presença feminina.

Além disso, um estudo da McKinsey de 2023 aponta que até 60% das atividades administrativas jurídicas podem ser automatizadas. Entre elas, destacam-se:  

  • Controle de prazos processuais;  
  • Redação de petições padrão;  
  • Organização de documentos. 

Essas são justamente as funções que sustentam a base da pirâmide nos escritórios, e onde as mulheres são maioria.  

Como transformar a IA de ameaça em oportunidade?  

A IA não é neutra: ela reflete os vieses de quem a cria. Um relatório da UNESCO (2022) alerta que sistemas de IA tendem a reforçar estereótipos de gênero, priorizando a automação de trabalhos "assistenciais" (majoritariamente femininos) em vez de funções de liderança.

No entanto, a tecnologia não precisa ser uma ameaça aos empregos, mas sim uma aliada na reinvenção profissional.

Sendo assim, em vez de substituir profissionais, a IA pode liberar tempo para que elas assumam papéis mais complexos.

Um exemplo claro é a gestão de clientes, área em que a empatia se torna um diferencial competitivo. Com a IA assumindo tarefas burocráticas e repetitivas, as profissionais ganham tempo para se dedicar ao relacionamento humanizado, entendendo necessidades específicas e fortalecendo a confiança dos clientes. 

Outro campo que se beneficia dessa transição é a análise jurídica estratégica, onde a capacidade de identificar padrões em decisões judiciais e antecipar tendências ganha espaço. Além disso, funções como mediação e compliance se tornam ainda mais relevantes, já que habilidades interpessoais e negociação são competências que a IA ainda não consegue replicar com a mesma eficácia humana.  

A advocacia do futuro será feminina (e digital)

Para que essa migração de funções seja bem-sucedida, a capacitação em ferramentas digitais é essencial. 

Esses treinamentos abrangem desde a análise de dados jurídicos até o uso estratégico de IA generativa para aumentar produtividade sem abrir mão do toque humano.

O objetivo é equilibrar tecnologia e expertise, permitindo que as mulheres não apenas acompanhem a inovação, mas possam liderar essa mudança.  

Por fim, é fundamental um redesenho organizacional nos escritórios, em que a automação sirva para redistribuir tarefas, e não para eliminar postos de trabalho. Um modelo eficiente seria delegar à IA funções como triagem de processos e organização documental, enquanto as profissionais se concentram no atendimento personalizado e na estratégia jurídica. Dessa forma, a tecnologia não substitui, mas potencializa o trabalho humano, criando um ambiente mais dinâmico, eficiente e, acima de tudo, mais justo e inclusivo.

A IA não é uma sentença de desemprego para as mulheres no Direito - é uma convocação para a liderança. Se soubermos usar a tecnologia como aliada, podemos não apenas reduzir a desigualdade de gênero no setor jurídico, mas também criar um novo paradigma onde a advocacia seja mais eficiente, humana e inclusiva.  

Diante desse cenário, cabe a reflexão: como profissionais do Direito, você está preparada para utilizar a IA de forma estratégica e ampliar seu impacto?

Eduardo Koetz

VIP Eduardo Koetz

Eduardo Koetz é advogado, sócio-fundador da Koetz Advocacia e CEO do software jurídico ADVBOX . Especialista em tecnologia e gestão, ele também se destaca como palestrante em eventos jurídicos.

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