Marias Santas e Marias do Cotidiano: Uma comparação inspiradora
Marias Santas e do Cotidiano simbolizam fé, força e resistência, unindo espiritualidade e protagonismo feminino na cultura e na vida social do Brasil.
quarta-feira, 2 de julho de 2025
Atualizado às 07:36
As Marias permeiam a cultura brasileira de múltiplas formas, desde o âmbito religioso até as atividades diárias e comunitárias. Este texto propõe uma reflexão sobre as similaridades e diferenças entre as Marias Santas e as mulheres comuns, evidenciando sua força, resiliência e relevância para o desenvolvimento social e cultural do Brasil.
O presente trabalho não foi elaborado em razão do mês de março, tradicionalmente associado à celebração do Dia Internacional da Mulher, tampouco pelo mês de maio, culturalmente vinculado às homenagens às mães. Ao contrário, o objetivo é reconhecer e homenagear essas mulheres em todos os dias do ano, como um tributo contínuo à sua importância.
Marias Santas: Ícones de fé e esperança
As chamadas Marias Santas são veneradas em todo o território nacional como símbolos de fé, virtude e proteção divina. Entre essas figuras destacam-se Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, Nossa Senhora de Fátima e Nossa Senhora das Graças, as quais exercem papel central na religiosidade popular brasileira.
Festas religiosas, peregrinações e celebrações são organizadas em diferentes regiões do país, demonstrando a profunda conexão espiritual entre o povo e essas representações sagradas. Em momentos de crise, as Marias Santas são frequentemente invocadas, oferecendo conforto emocional e espiritual à população.
Marias do Cotidiano: Heroínas invisíveis da sociedade
As Marias do cotidiano correspondem às mulheres que, embora anônimas, desempenham papéis fundamentais no funcionamento da sociedade. São mães, trabalhadoras, estudantes, líderes comunitárias, profissionais da saúde, educadoras e empreendedoras, que atuam de forma incansável, muitas vezes sem o devido reconhecimento.
Essas mulheres enfrentam desafios como desigualdade salarial, limitações de acesso a oportunidades, jornadas múltiplas de trabalho e preconceitos estruturais. Apesar disso, sua contribuição para o desenvolvimento social é inegável, tornando-se urgente a necessidade de visibilidade e valorização de suas conquistas.
De acordo com Carneiro (2025, p. C1), documentarista, "mulheres fortes estão em todos os lugares. O que as diferencia de um patriarcado é como se lida com essa força".
Nesse sentido, destaca-se o exemplo da ilha de Kihme, localizada na costa sudoeste da Eslovênia, país reconhecido pelo avanço tecnológico. Nessa localidade, as mulheres assumem a condução da vida cotidiana, sendo responsáveis pela cultura, criação dos filhos, trabalho agrícola e produção têxtil, enquanto os homens exercem atividades externas. Essa realidade suscita o questionamento: seria Kihme o último matriarcado da Europa?
Interseções entre espiritualidade e cotidiano
A espiritualidade associada às Marias Santas exerce influência significativa sobre as vivências das Marias do cotidiano. Muitas brasileiras encontram na fé um recurso fundamental para enfrentar adversidades econômicas, sociais e pessoais.
As celebrações religiosas configuram-se como espaços de comunhão e apoio emocional, fortalecendo vínculos comunitários e proporcionando suporte diante das dificuldades cotidianas.
O sofrimento das mulheres, particularmente das mães, assume dimensões extremas diante de tragédias. Karnal (2025, p. C8) destaca o exemplo máximo desse sofrimento ao remeter à imagem da Pietà:
"O mundo é difícil para as mulheres, imagine, então, o desespero de uma mãe que chega ao ponto máximo, aos pés da cruz. Alguém imagina a extensão do sofrimento de ver o filho sendo torturado em um madeiro ensanguentado? Lágrimas, impotência, a noite mais terrível da alma de uma mulher que gerou vida e a vê desaparecendo na tarde daquela sexta-feira. Enterrar um filho é o limite que conseguimos viver de devastação. Ter acompanhado sua agonia aumenta o desespero. É a Pietà: 'Olha, vós que passais, se há dor maior que a minha.' Não há."
Desafios contemporâneos e oportunidades de transformação
As dificuldades enfrentadas pelas mulheres no cotidiano exigem reconhecimento social e ações concretas. Políticas públicas inclusivas, programas de educação, iniciativas de capacitação e ampliação de oportunidades econômicas são medidas essenciais para a promoção de equidade de gênero e valorização dessas mulheres.
Reconhecer a importância das contribuições femininas e investir no desenvolvimento de políticas estruturais são passos imprescindíveis para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
As Marias Santas e as Marias do cotidiano, cada qual em sua esfera de atuação, constituem fontes inesgotáveis de inspiração, resistência e perseverança. Reconhecer, valorizar e promover o protagonismo dessas mulheres é fundamental para o avanço social e cultural do Brasil.
Em síntese, todas as mulheres carregam, em maior ou menor grau, traços de cada Maria - sejam elas santas veneradas ou protagonistas anônimas do cotidiano.
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CARNEIRO, Mara. Mulheres fortes estão em todos os lugares. O Estado de São Paulo, São Paulo, 29 maio 2025. Caderno C1.
KARNAL, Leandro. Pietà e o limite do sofrimento materno. O Estado de São Paulo, São Paulo, 25 maio 2025. Caderno C8.
Jussara Rita Rahal
Sócia de Rahal e Vinha Advocacia . Membro do IASP - Instituto dos Advogados de São Paulo. Vice-Presidente da comissão de prerrogativas, para relações com os Tribunais, na OAB/SP. Vice-Presidente da AATSP - Associação dos Advogados Trabalhistas de São Paulo, biênio 2025/2026. Conselheira do CORT/FIESP.


