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O direito que antecede a crise

Artigo defende a urgência de uma advocacia preventiva no cenário jurídico global, destacando pesquisas inovadoras em compliance e arbitragem internacional como ferramentas para antecipar crises.

quarta-feira, 9 de julho de 2025

Atualizado às 09:51

A urgência de um novo paradigma jurídico

O cenário atual demanda mais do que operadores do Direito - exige intelectuais capazes de compreender a complexidade sistêmica das relações jurídicas globais.

Vivemos uma era em que a sobreposição normativa entre jurisdições nacionais e tratados internacionais cria zonas cinzentas que só podem ser navegadas por quem domina não apenas a técnica, mas a estratégia jurídica preventiva.

Pesquisas recentes no campo do compliance e regulação internacional demonstram que é possível construir modelos de integração entre legislações nacionais e tratados multilaterais baseados em governança ética e mitigação de riscos. O estudo "Compliance and International Regulation", publicado na Brazilian Journal of Development, exemplifica como a academia jurídica pode oferecer soluções práticas para dilemas regulatórios que pareciam insolúveis.

Due diligence como instrumento de prevenção

A advocacia preventiva encontra na due diligence seu instrumento mais sofisticado. Não se trata mais de uma mera checklist burocrática, mas de um processo estruturado de auditoria jurídica que antecipa conflitos e protege operações transnacionais de alta complexidade.

Trabalhos acadêmicos como "Due Diligence in Business Transactions", publicados em revistas especializadas, propõem modelos que ampliam a compreensão tradicional deste instituto. A due diligence moderna deve ser vista como ferramenta de compliance contratual, segurança jurídica e, principalmente, como mecanismo de antecipação de litígios internacionais em operações de fusões e aquisições.

A reinvenção da resolução de disputas comerciais

O contexto pós-pandemia impôs uma revisão profunda dos mecanismos de resolução de conflitos comerciais. As tradicionais cláusulas de mediação e arbitragem internacional mostram-se inadequadas para um mundo digitalizado e com novas dinâmicas comerciais.

Estudos contemporâneos, como "Commercial Dispute Resolution", apontam para a necessidade de cláusulas adaptáveis, sensíveis ao ambiente digital e capazes de antecipar desafios de execução e jurisdição. Esta visão de vanguarda já ecoa entre estudiosos do Direito Internacional e operadores do comércio exterior, que reconhecem a obsolescência dos modelos tradicionais.

O papel da formação multidisciplinar

A complexidade do Direito contemporâneo exige profissionais com formação que transcenda os limites tradicionais da ciência jurídica. A combinação de conhecimentos em Direito, Administração, Comércio Exterior e Finanças não é luxo acadêmico - é necessidade prática para quem pretende oferecer análises profundas sobre os desafios enfrentados por empresas, governos e organizações internacionais.

Juristas como Rafaella Stradella exemplificam esta nova geração de pensadores do Direito, que compreendem o sistema jurídico não como estrutura fechada, mas como campo em constante negociação com outras esferas do saber e da sociedade. Sua produção acadêmica, amplamente citada em plataformas como Google Scholar e ResearchGate, demonstra como a pesquisa jurídica pode influenciar políticas institucionais e reformas normativas.

Por uma advocacia que pensa antes

O futuro do Direito pertence àqueles que conseguem pensar sistemicamente, antecipar cenários e propor soluções antes que as crises se instalem. Não podemos mais nos dar ao luxo de uma advocacia meramente reativa, que só age quando o conflito já está estabelecido.

A produção acadêmica contemporânea em Direito Internacional, compliance e resolução de disputas oferece ferramentas valiosas para esta transformação. Mas é preciso que juristas, legisladores e gestores estejam dispostos a abandonar velhos paradigmas e abraçar uma visão mais estratégica e preventiva da prática jurídica.

Em um mundo marcado pela complexidade, incerteza e sobreposição normativa, o que mais falta não são leis, mas lucidez, método e visão estratégica. A pesquisa jurídica de qualidade não deve ser arquivada em bibliotecas - ela precisa transformar a prática e qualificar o debate público.

O Direito do século XXI será preventivo ou não será capaz de cumprir sua função social. E felizmente, uma nova geração de juristas-pensadores já está pavimentando este caminho. Cabe a nós seguir suas pegadas e construir uma advocacia que pense antes - e melhor.

Flademir Pereira

Flademir Pereira

Assessor de imprensa há 15 anos. Apaixonado pela comunicação jurídica. Jornalista, colunista no Uol, iG e editor-chefe da A Fonte Magazine. Apresentador de TV no SBT do Pará

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