Braskem, governança e o custo da incerteza: O que está em jogo
Com passivos bilionários e múltiplos players, o caso Braskem exige mais que valuation tradicional: exige estratégia multidisciplinar.
quarta-feira, 9 de julho de 2025
Atualizado às 14:17
Em junho de 2025, o empresário Nelson Tanure protagonizou um novo capítulo na disputa pelo controle da Braskem ao contratar o banco Rothschild & Co para liderar negociações com credores e a Petrobras. A operação é uma aula prática sobre fusões, valuation de risco e governança em estruturas acionárias complexas.
Mas, afinal, quanto vale a Braskem? Não se trata de um simples exercício de contabilidade. A resposta exige conjugar múltiplas perspectivas - jurídicas, ambientais, políticas e operacionais.
"Valuation sem análise de cenário é cálculo sem alma." - Aswath Damodaran, NYU.
Com passivos ambientais que superam os R$ 10 bilhões, só em Alagoas, o valuation da Braskem precisa ser construído com um olhar sistêmico. O fluxo de caixa projetado (DCF) deve considerar cenários estressados, inclusive contingências regulatórias e judicializações futuras. Nessas circunstâncias, o uso de múltiplos de mercado revela-se limitado, dada a assimetria dos riscos envolvidos.
Além disso, a estrutura societária da Braskem traz ingredientes explosivos: Petrobras, Novonor (em recuperação judicial) e Tanure disputando espaços, cada qual com interesses distintos. Nesse contexto, a governança corporativa deixa de ser coadjuvante e passa a ser o centro da mesa.
"Empresas não quebram apenas por falta de lucro, mas por ausência de clareza no controle." - como disse o célebre professor de Harvard, Alfred Chandler.
O desenho de acordos de acionistas, cláusulas de proteção e mecanismos de governança antecipada, como comitês independentes e auditorias cruzadas, serão determinantes para a viabilidade do negócio e qualquer erro de leitura pode custar bilhões.
Diante deste cenário, são recomendações estratégicas a utilização das seguintes premissas:
- Cláusulas de earn-out atreladas à performance ambiental e econômica;
- Auditorias técnicas e contábeis independentes, com foco em passivos ocultos;
- Valuation multidimensional, somando DCF, múltiplos e ativos tangíveis/intangíveis;
- Criação de holding veicular, blindando o comprador de riscos pré-existentes.
Mais que uma transação, esta possível megafusão é um "estudo de caso real" sobre como reestruturar ativos estratégicos no Brasil sem abrir mão da diligência técnica, da governança e da visão de longo prazo.
"Negócios extraordinários são raros. Saber precificá-los exige olhar para o invisível." - Warren Buffett.


