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Gestão de passivo bancário para recuperação e proteção patrimonial

A gestão de passivo bancário é essencial para reestruturar dívidas, proteger o patrimônio dos sócios e garantir a continuidade de empresas em crise.

quarta-feira, 30 de julho de 2025

Atualizado às 12:25

1. Introdução

O crescimento acelerado de micro, pequenas e médias empresas brasileiras nas últimas décadas não foi acompanhado, na mesma proporção, por uma cultura sólida de planejamento financeiro e jurídico. Em especial, a ausência de uma gestão estratégica do passivo bancário tem sido responsável por comprometer a continuidade de muitos negócios economicamente viáveis, mas financeiramente desorganizados.

Neste contexto, este artigo visa abordar a gestão de passivo bancário como instrumento jurídico e financeiro indispensável para empresas que enfrentam dificuldades com instituições financeiras, propondo soluções que envolvem desde a análise crítica de contratos bancários até estratégias de defesa, renegociação e reestruturação de dívidas, com impacto direto na preservação do patrimônio dos sócios e na recuperação da capacidade de investimento das empresas.

2. O que é gestão de passivo bancário?

A gestão de passivo bancário consiste em um conjunto de medidas jurídicas, contábeis e estratégicas voltadas à análise, controle e reestruturação das dívidas financeiras contraídas junto a bancos e instituições de crédito. Ela envolve:

  • Revisão e auditoria de contratos bancários (CCBs, cédulas de crédito, contratos de capital de giro, financiamentos, etc.);
  • Apuração de abusividades (juros, encargos moratórios, anatocismo, tarifas ilegais);
  • Ações judiciais para revisão contratual e defesa em execuções e cobranças;
  • Negociação com bancos para repactuação de dívidas;
  • Estruturação jurídica para proteção de bens dos sócios e continuidade da empresa.
  • Defesa jurídica estratégica e especializada para contestar todas as abusividades bancárias.

É, portanto, uma ferramenta de sobrevivência empresarial, que permite o enfrentamento de crises com inteligência técnica e jurídica, visando a preservação da empresa como fonte produtiva e geradora de empregos, em consonância com o princípio da função social da empresa (art. 170, III, da CF/88).

3. Diagnóstico jurídico-financeiro e análise contratual

O primeiro passo da gestão de passivo é o diagnóstico jurídico-financeiro, que envolve:

  • Levantamento detalhado de todas as dívidas bancárias (em nome da empresa e dos sócios);
  • Análise da situação de adimplência, execução ou renegociação;
  • Identificação de cláusulas abusivas ou ilegais nos contratos firmados;
  • Avaliação dos riscos de constrição patrimonial, falência ou bloqueio de receitas.

Este diagnóstico é essencial para desenhar a estratégia de atuação, seja judicial, extrajudicial ou híbrida. Muitas vezes, contratos bancários estão contaminados por juros compostos disfarçados, taxas embutidas indevidamente e cláusulas que violam a boa-fé objetiva (art. 421-A do CC), sendo possível buscar judicialmente a revisão contratual ou a anulação parcial de obrigações.

4. Ações judiciais como mecanismo de contenção e defesa

Empresas frequentemente são surpreendidas por ações de execução, monitória e cobranças que comprometem seu fluxo de caixa e reputação no mercado. A gestão de passivo bancário permite a adoção de medidas judiciais estratégicas, tais como:

  • Embargos à execução com base em vícios contratuais;
  • Exceção de pré-executividade, defesas e contestações;
  • Ação revisional de contrato bancário para reduzir o saldo devedor;
  • Tutelas de urgência para sustar bloqueios ou leilões de bens;
  • Defesa contra inclusão de avalistas e sócios indevidamente no polo passivo.

A jurisprudência recente tem reconhecido o direito das empresas de questionar práticas bancárias abusivas, sobretudo quando a relação é marcada por hipossuficiência técnica, ausência de transparência e comprometimento do equilíbrio contratual.

5. Negociação estratégica e reestruturação da dívida

A fase negocial deve ser conduzida com base técnica e jurídica, o que amplia o poder de barganha da empresa. Ao contrário do que ocorre em negociações diretas e desassistidas, a atuação de profissionais especializados permite:

  • Obter redução de encargos e juros abusivos;
  • Alongar prazos de pagamento;
  • Consolidar dívidas em melhores condições contratuais;
  • Negociar a exclusão de avalistas ou garantias pessoais, preservando o patrimônio familiar.

Em muitos casos, a simples notificação jurídica com argumentos técnicos já resulta em propostas mais vantajosas por parte do banco, que deseja evitar litígios longos e prejuízos à imagem institucional.

6. Proteção patrimonial e blindagem legal

A gestão de passivo bancário também deve estar alinhada à estruturação societária e patrimonial da empresa e de seus sócios. Isso inclui:

  • Avaliação da necessidade de criação de holding patrimonial;
  • Separação legal entre patrimônio pessoal e empresarial;
  • Reorganização societária para mitigar riscos de responsabilização solidária;
  • Planejamento sucessório empresarial para continuidade do negócio.

A legislação brasileira permite diversos mecanismos lícitos de proteção patrimonial, desde que observados os princípios da legalidade e da transparência, sendo a gestão de passivo o momento ideal para reorganizar a empresa em bases mais seguras e eficientes.

7. Conclusão

A gestão de passivo bancário não é apenas uma resposta à crise, mas sim uma ferramenta estratégica de reestruturação e proteção do negócio. Sua correta implementação exige atuação interdisciplinar, envolvendo advogados, contadores, administradores e empresários comprometidos com a sustentabilidade e longevidade da empresa.

Mais do que reduzir dívidas, trata-se de recuperar a autonomia financeira da empresa, preservar empregos, proteger o patrimônio dos sócios e restabelecer a credibilidade no mercado. Diante de um sistema financeiro complexo e frequentemente assimétrico, é imprescindível que o empresário busque apoio jurídico especializado para enfrentar os desafios com segurança, técnica e estratégia.

Thiago Bragança

Thiago Bragança

Advogado há 17 anos, com atuação em Direito Bancário e Empresarial, com ampla experiência em demandas envolvendo instituições financeiras. Sócio-fundador da Bragança Advogados Associados.

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