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"Farra do INSS": Aposentados vítimas de descontos indevidos

Aposentados e pensionistas foram surpreendidos ao verificar seus extratos de pagamento do INSS e identificar descontos não autorizados.

terça-feira, 16 de setembro de 2025

Atualizado às 11:18

Nos últimos anos, milhares de aposentados e pensionistas foram surpreendidos ao verificar seus extratos de pagamento do INSS e identificar descontos não autorizados.

Esses valores, muitas vezes de associações, sindicatos ou entidades de classe, reduziram a renda de beneficiários que, em muitos casos, já sobrevivem com apenas um salário mínimo.

A prática ficou conhecida como a "farra do INSS", uma das maiores fraudes contra aposentados do Brasil.

Após denúncias, investigações e ações do Ministério Público, da Polícia Federal e do próprio INSS, constatou-se a participação de diversas entidades que realizavam cobranças indevidas sem autorização expressa dos beneficiários.

Neste artigo, vamos detalhar:

  • Como funcionava o esquema de descontos indevidos;
  • Quem foi prejudicado;
  • Como foi a investigação e a responsabilização das entidades;
  • Quais medidas de devolução e reparação foram adotadas;
  • O que o segurado pode fazer hoje para se proteger;
  • Como exigir seus direitos em caso de cobrança indevida.

1. O que foi a "farra do INSS"

A "farra do INSS" refere-se a um esquema fraudulento em que associações e sindicatos incluíam mensalidades e taxas em benefícios previdenciários sem a autorização real do segurado.

Na prática, aposentados e pensionistas percebiam descontos mensais de valores que variavam entre R$ 10,00 e R$ 50,00, identificados nos extratos como contribuições a determinadas entidades.

Em muitos casos, os beneficiários nunca foram filiados a tais associações, tampouco assinaram documentos de adesão.

Outros sequer tinham conhecimento da existência dessas entidades.

2. Como funcionava o esquema

O mecanismo fraudulento envolvia alguns passos principais:

  • Cadastro irregular: Entidades enviavam listas de supostos associados ao INSS, muitas vezes com dados forjados;
  • Processamento automático: O sistema do INSS realizava os descontos direto na folha de pagamento, sem checar se havia autorização real;
  • Repasse dos valores: O INSS repassava os valores às entidades, que lucravam com milhares de filiações fictícias;
  • Dificuldade de cancelamento: Quando o segurado percebia e tentava cancelar, enfrentava burocracia, longos prazos e falta de resposta das associações.

3. Quem foi prejudicado

Os principais prejudicados foram aposentados e pensionistas de baixa renda, que dependem exclusivamente do benefício do INSS para sobreviver.

  • A grande maioria recebe um salário-mínimo;
  • Muitos não têm acesso à internet para verificar extratos mensais;
  • A vulnerabilidade financeira e informacional facilitou os golpes.

4. Denúncias e investigação

Após milhares de reclamações, o caso ganhou repercussão nacional.

Órgãos envolvidos:

  • MPF - Ministério Público Federal abriu inquéritos contra entidades suspeitas;
  • Polícia Federal realizou operações para apurar crimes de falsidade ideológica e estelionato;
  • INSS iniciou auditorias internas para rastrear os descontos.

Em 2022, estima-se que mais de 1 milhão de beneficiários foram impactados pelo esquema em todo o Brasil.

5. Responsabilização das entidades

Diversas associações foram identificadas como participantes da fraude.

Entre as penalidades aplicadas:

  • Suspensão de convênios entre INSS e entidades;
  • Ações civis públicas cobrando devolução dos valores;
  • Multas milionárias por práticas abusivas;
  • Cancelamento de registros de entidades fraudulentas.

6. Devolução de valores

Após a descoberta do esquema, muitos segurados tiveram direito à devolução dos valores descontados indevidamente.

As devoluções ocorreram por:

  • Acordos firmados com o MPF;
  • Restituições diretas via folha de pagamento;
  • Ações judiciais individuais e coletivas.

Contudo, nem todos os beneficiários receberam de volta automaticamente.

Em alguns casos, foi necessário acionar a Justiça para garantir a restituição.

7. O que fazer em caso de desconto indevido

Se você identificou um desconto que não autorizou em seu benefício, siga este passo a passo:

  • Consultar extrato: Pelo aplicativo Meu INSS ou site oficial;
  • Identificar a origem do desconto (nome da associação/sindicato);
  • Registrar reclamação no Meu INSS (solicitar cancelamento imediato);
  • Registrar boletim de ocorrência (caso suspeite de fraude);
  • Acionar o Procon ou Defensoria Pública;
  • Buscar restituição judicial, se não houver devolução administrativa.

8. Direitos do segurado

O segurado tem direito a:

  • Cancelar imediatamente qualquer desconto não autorizado;
  • Receber restituição em dobro dos valores cobrados indevidamente, conforme o CDC;
  • Reparação por danos morais, dependendo da gravidade.

9. Como se proteger

  • Consultar mensalmente o extrato do INSS;
  • Desconfiar de ligações oferecendo filiações "gratuitas";
  • Nunca fornecer dados pessoais por telefone;
  • Procurar orientação jurídica ao menor sinal de irregularidade.

10. Impactos sociais e financeiros

O esquema trouxe graves consequências:

  • Redução da renda de famílias inteiras;
  • Perda de confiança no sistema previdenciário;
  • Custos bilionários para o erário público na devolução dos valores;
  • Desgaste emocional dos aposentados, que se sentiram enganados.

Após a "farra do INSS", medidas de controle foram implementadas:

  • Exigência de autorização eletrônica com biometria para novos descontos;
  • Fiscalização mais rigorosa de convênios com entidades;
  • Transparência nos extratos do Meu INSS.

A "farra do INSS" revelou a fragilidade de sistemas que deveriam proteger os aposentados.

O caso reforça a necessidade de fiscalização constante e de que os segurados acompanhem seus extratos com regularidade.

Mais do que devolver valores, é preciso garantir que práticas abusivas não se repitam.

Os aposentados, que já enfrentam tantas dificuldades financeiras, merecem respeito e proteção integral de seus direitos.

Hermann Richard Beinroth

VIP Hermann Richard Beinroth

Mestrando em Direito Público pela Fumec, Pós Graduado em Pratica Previdenciária, Professor de Cursos e Pós Graduações, Ex Vice-Presidente Comissão de Direito Previdenciario da OAB/MG, Membro IBDP.

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