MIGALHAS DE PESO

  1. Home >
  2. De Peso >
  3. A primeira concessão hidroviária do Brasil

A primeira concessão hidroviária do Brasil

Impactos jurídicos, econômicos e ambientais do projeto da Hidrovia do Rio Paraguai.

sexta-feira, 29 de agosto de 2025

Atualizado às 08:43

O Brasil está prestes a inaugurar um marco regulatório e logístico sem precedentes em sua infraestrutura de transportes. O MPor - Ministério de Portos e Aeroportos encaminhou ao TCU - Tribunal de Contas da União o projeto do modelo de concessão da hidrovia do Rio Paraguai que irá à licitação.

Trata-se da última etapa antes da publicação do edital de leilão, previsto para ocorrer até dezembro deste ano, o que consolidará a primeira concessão hidroviária do país.

O projeto contempla a concessão do trecho sul da hidrovia do Rio Paraguai, compreendido entre Corumbá e Porto Murtinho (Mato Grosso do Sul), na fronteira com o Paraguai. O trecho abrange cerca de 600 quilômetros de extensão em território brasileiro e pode ser estratégico para o escoamento de cargas no Centro-Oeste.

A importância estratégica do projeto:

A iniciativa está inserida em um contexto de modernização do setor de transportes e de fortalecimento das alternativas logísticas brasileiras.

O transporte hidroviário, historicamente subutilizado no país, apresenta vantagens evidentes, como menor custo operacional, maior capacidade de carga por viagem e impacto ambiental significativamente reduzido em comparação ao modal rodoviário e ferroviário.

No caso específico do Rio Paraguai, o potencial é expressivo, uma vez que o corredor fluvial se integra à Hidrovia Paraguai - Paraná, que conecta o Brasil aos portos do Uruguai e da Argentina, possibilitando acesso direto ao Oceano Atlântico e ampliando a competitividade do agronegócio e da indústria nacional nos mercados internacionais.

Benefícios econômicos e ambientais:

A avaliação sobre o projeto destaca que a concessão proporcionará ganhos econômicos e ambientais relevantes.

O transporte hidroviário emite menos gases poluentes, consome menos combustível por tonelada transportada e contribui para a redução da pressão sobre as rodovias, hoje sobrecarregadas pelo intenso tráfego de caminhões.

Além disso, a concessão deverá estimular investimentos privados em infraestrutura de navegação, manutenção do calado, terminais portuários e sistemas de segurança operacional, garantindo maior previsibilidade e confiabilidade para o setor produtivo.

Um marco regulatório inédito:

O modelo de concessão representa também uma inovação institucional.

Isso porque, até hoje, as hidrovias brasileiras eram geridas diretamente pelo Poder Público, sem a participação estruturada da iniciativa privada na manutenção e operação dos trechos navegáveis.

Nesse contexto, a entrada desse novo agente cria um ambiente de maior eficiência, alinhando os interesses econômicos à prestação de um serviço público essencial.

Outros projetos de concessão hidroviária estão, também, sob análise do governo, entre eles os dos rios Madeira, Lagoa Mirim, Tocantins e Tapajós. 

O envio, ao TCU, do projeto de concessão do trecho sul da hidrovia do Rio Paraguai constitui etapa crucial, pois assegura o controle prévio da legalidade, economicidade e viabilidade da concessão, prevenindo questionamentos futuros e fortalecendo a segurança jurídica.

Superada essa fase, o leilão poderá ser realizado, atraindo operadores com expertise internacional e ampliando a competitividade do setor.

Conclusão:

A concessão do trecho sul da hidrovia do Rio Paraguai inaugura uma nova era para a infraestrutura logística nacional. Ela representa não apenas a abertura de um mercado até então inexplorado pela iniciativa privada, mas também um passo firme em direção à diversificação dos modais de transporte e à redução dos custos logísticos no Brasil.

Trata-se de uma medida que equilibra desenvolvimento econômico, sustentabilidade ambiental e inovação regulatória, de modo que a sua concretização poderá servir de paradigma para futuras concessões hidroviárias em outras regiões do país, consolidando o aproveitamento racional e eficiente de uma das maiores riquezas naturais brasileiras: sua extensa malha fluvial.

Marcia Heloisa Pereira da Silva Buccolo

Marcia Heloisa Pereira da Silva Buccolo

Advogada no escritório Edgard Leite Advogados Associados. Especialista em Direito Administrativo pela Universidade de Salamanca, Espanha e em Direito Público pela PUC-SP.

AUTORES MIGALHAS

Busque pelo nome ou parte do nome do autor para encontrar publicações no Portal Migalhas.

Busca