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Comunicação interna é raiz estratégica para reputação em escritórios de advocacia

Escritórios que comunicam bem para fora, mas falham por dentro, comprometem sua própria legitimidade.

sexta-feira, 26 de setembro de 2025

Atualizado em 25 de setembro de 2025 13:33

A construção da imagem de um escritório de advocacia começa, antes de qualquer movimento externo, pelo modo como se comunica internamente. Trata-se de um princípio básico de governança comunicacional: a marca é, antes de tudo, vivida. E aquilo que é vivido se torna discurso, reputação e posicionamento. Por isso, a comunicação interna deve ser compreendida como estrutura da comunicação institucional, e não como um canal auxiliar, e sim como base operativa, cultural e estratégica.

No contexto jurídico, onde a legitimidade institucional é construída com base em autoridade técnica, coerência ética e previsibilidade, negligenciar a comunicação interna representa não apenas um erro de gestão, mas um risco reputacional. Escritórios que operam sob lógicas hierárquicas verticais, com baixa transparência informacional, tendem a gerar ruído, desalinhamento e desmobilização de talentos - fatores incompatíveis com um ambiente que se projeta tecnicamente confiável e institucionalmente sólido.

Embora a comunicação externa tenha função essencial na projeção da marca, é no interior da banca que essa marca se constitui de forma sustentável. A cultura organizacional é comunicável por natureza: ela se expressa em comportamentos, decisões e símbolos institucionais. Quando esse campo simbólico é negligenciado ou mal gerido, surge um descompasso entre discurso e prática que fragiliza toda a estrutura comunicacional.

É nesse ponto que a comunicação interna se revela como primeiro agente de reputação. Ao traduzir os valores institucionais em condutas cotidianas, ela oferece coesão à identidade organizacional. Escritórios que investem na escuta ativa, no esclarecimento de decisões e na valorização da participação transformam o ambiente interno em um espaço de construção coletiva, condição essencial para que a cultura da confiança se estabeleça.

Nesse sentido, o primeiro público estratégico da comunicação de um escritório de advocacia é sua própria equipe. Não se trata apenas de informar, mas de engajar, de mobilizar o senso de pertencimento e de estimular uma cultura em que cada pessoa compreenda seu papel na construção do propósito institucional. A ausência dessa escuta atenta e dessa transparência decisória gera efeitos práticos mensuráveis: boatos substituem a informação oficial, a insegurança contamina o clima organizacional e o desalinhamento se transforma em obstáculo à eficácia das estratégias externas.

Como destacou Peter Drucker, "a cultura devora a estratégia no café da manhã". No campo jurídico, essa máxima adquire contornos ainda mais significativos. A reputação de um escritório é inseparável da forma como ele trata seus integrantes, comunica suas decisões e alinha expectativas. Se a narrativa externa não encontra ressonância na experiência interna, perde-se não apenas coerência, mas também credibilidade.

A maturidade da comunicação interna pode ser avaliada por critérios técnicos, entre eles: clareza na disseminação das informações, coerência entre discurso e prática, frequência nos fluxos comunicativos e abertura à participação. Essa maturidade é também percebida quando os escritórios adotam ferramentas estruturadas como programas de endomarketing, políticas consistentes de feedback, reuniões periódicas com foco em alinhamento estratégico e canais institucionais de escuta ativa.

Destacam-se ainda as iniciativas voltadas à formação de embaixadores internos da marca. São profissionais que não apenas reproduzem o discurso institucional, mas o incorporam em suas práticas cotidianas. Esses embaixadores são agentes de cultura: ajudam a disseminar valores, a esclarecer decisões e a manter a coesão organizacional, especialmente em contextos de mudança, expansão ou reposicionamento.

Se a equipe não entende o que a marca representa, o mercado também não entenderá. Se as pessoas que fazem o escritório não confiam no discurso institucional, ele perde eficácia e legitimidade, mesmo que bem produzido. E se os profissionais não se sentem parte do projeto coletivo, todo o restante é apenas aparência, sem raiz nem sustentação.

A consequência desse desalinhamento não se limita ao ambiente interno. A inconsistência entre o que se comunica para dentro e o que se projeta para fora é rapidamente percebida por clientes, parceiros e stakeholders. Em tempos de sobreposição - entre marca e reputação, cultura e valor de mercado -, a transparência tornou-se um ativo institucional irrenunciável.

Caso a comunicação interna seja negligenciada, o escritório se torna vulnerável a crises silenciosas que, cedo ou tarde, se manifestam em rupturas, perda de talentos ou desgaste reputacional. Por outro lado, quando essa dimensão é tratada com seriedade e estratégia, cria-se um ecossistema comunicacional em que o discurso institucional é sustentado por práticas legítimas, ambientes confiáveis e vínculos duradouros.

Fernanda Quintanilha Pinheiro

Fernanda Quintanilha Pinheiro

Publicitária, jornalista e especialista em marketing jurídico, com mais de 25 anos de atuação. Foi assessora-chefe de Comunicação Corporativa e assessora de imprensa do Tribunal Superior Eleitoral. Sócia-Fundadora e CEO da Q Comunicação, agência especializada em marketing jurídico, reconhecida no ranking da Leaders League.

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