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Do protagonismo jovem à legitimidade da maturidade: A redescoberta de um espaço

Geração Z trouxe inovação, mas o mercado redescobre o valor da maturidade. Equipes multigeracionais são o caminho para resultados sólidos e duradouros.

quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Atualizado em 1 de outubro de 2025 14:41

Nos últimos anos, devido ao seu destaque, a geração Z foi vista pelo mercado de trabalho como uma espécie de fenômeno. Jovens ágeis, criativos, que nasceram na era digital e têm uma facilidade impressionante com tecnologia, chegaram no mundo profissional cheios de expectativas. Era comum ouvirmos que eles seriam a força capaz de transformar empresas, quebrar velhos padrões, principalmente nos escritórios de advocacia, oferecer soluções que as gerações anteriores não conseguiram.

Nesse âmbito, conseguimos enxergar que o entusiasmo em relação aos jovens não foi à toa: a energia, a criatividade e o domínio digital deles trouxeram contribuições importantes. Mas, como acontece em qualquer ciclo, o tempo foi mostrando alguns obstáculos menos evidentes.

Nem toda ideia rápida se sustenta, nem toda inovação traz resultados concretos. Resiliência, consistência e uma visão estratégica continuam sendo valores essenciais para qualquer organização. Dessa forma, começa a surgir novamente espaço para quem havia ficado um pouco de lado: os profissionais mais experientes, entre 40 e 60 anos. 

Durante muito tempo, esses profissionais foram rotulados de forma injusta: lentos, resistentes à tecnologia, caros demais para o mercado. A narrativa dominante era que, em um mundo digital, eles se tornariam obsoletos.

Primeiramente, a realidade atual evidencia que determinadas competências, outrora consideradas secundárias ou excessivamente tradicionais, mantêm-se não apenas relevantes, mas configuram-se como diferenciais competitivos em um cenário marcado pela instabilidade e pela imprevisibilidade. 

Experiência, inteligência emocional, capacidade de gestão de crises, disciplina e visão de longo prazo, antes associadas a um perfil profissional engessado, emergem, na atualidade, como fundamentos indispensáveis à sustentabilidade organizacional. O desempenho da geração Z, ao revelar limitações naturais, tais como a dificuldade de permanência em projetos de longa duração, a baixa tolerância à frustração e um repertório prático ainda em formação, levou o mercado a ajustar suas expectativas. 

Esse processo não implica desvalorização da juventude, mas sim o reconhecimento de que o protagonismo profissional não deve recair de forma exclusiva sobre esse grupo etário.

Nesse contexto, o espaço para profissionais mais maduros se reconfigura, não como expressão de saudosismo, mas como exigência do próprio mercado. Esses sujeitos aportam consistência diante da velocidade, síntese frente ao excesso de informações e profundidade em meio à inovação. Importa salientar, contudo, que a maturidade contemporânea não corresponde à de décadas anteriores: muitos desses profissionais atualizaram-se, incorporaram novas tecnologias e demonstraram que a aprendizagem constitui uma competência atemporal. 

Assim, articulam vivência prática, inteligência relacional e visão crítica com disposição contínua para evoluir. Esse perfil traduz-se em uma combinação singular, que permite integrar experiência e inovação sem aprisionar-se ao passado, encarando a tecnologia não como ameaça, mas como recurso estratégico.

O diferencial competitivo das organizações, portanto, não reside na escolha excludente entre jovens ou maduros, mas na capacidade de estruturar equipes multigeracionais. Enquanto os jovens contribuem com energia, inovação e ousadia, os maduros oferecem equilíbrio, consistência e visão estratégica. Essa complementaridade potencializa os resultados organizacionais, fortalecendo a resiliência das instituições em contextos adversos.

Não obstante, quando essas dimensões se encontram, o potencial de desenvolvimento torna-se exponencial. Empresas que reconhecem tal dinâmica tendem a consolidar culturas organizacionais mais sólidas, a alcançar resultados sustentáveis e a ampliar sua capacidade de resistência em períodos de crise. Observa-se, portanto, um movimento cíclico no mercado de trabalho, no qual a atenção outrora concentrada quase exclusivamente nos jovens desloca-se para um equilíbrio geracional.

Assim, profissionais situados entre 40 e 60 anos retomam relevância, não como substitutos, mas como parceiros estratégicos nesse novo cenário. A lição que se revela é inequívoca: a juventude aporta brilho e vitalidade, mas é a maturidade que confere perenidade e significado a esse brilho, transformando-o em resultados concretos e duradouros.

Ricardo Leite

Ricardo Leite

Graduado em Administração de Empresas, pela Universidade Estadual do Vale do Acaraú - Sobral - CE, com especialização em Marketing pela Escola Superior de Marketing e Propaganda ESPM-SP, MBA em Controladoria e Custos pela Universidade Estadual de Pernambuco -UPE, Pós-Graduado em Gestão de Negócios pela Fundação Dom Cabral, atuando também como coordenador do PAEX (Parceiros para excelência da Fundação Dom Cabral). Vivência de 23 Anos de mercado financeiro e bancário, dentre estes, 16 anos como gestor, em diversos segmentos da economia, tais como, Construção Civil, Distribuição de Alimentos, Industria de Alimentos Publicidade e Propaganda, Empresas de software e Clínicas Médicas. Nos dias de hoje, Ricardo atua como Diretor do escritório Rueda & Rueda Advogados.

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