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A ascensão de novas profissões na era da inteligência artificial

A inteligência artificial já não se apresenta como uma expectativa futura, mas como um elemento consolidado e indispensável no cotidiano profissional atual.

terça-feira, 4 de novembro de 2025

Atualizado às 14:36

Hoje, não se trata apenas de algoritmos que automatizam tarefas ou sistemas capazes de processar grandes volumes de dados em segundos. O protagonismo da IA também está redefinindo a própria estrutura do trabalho, criando oportunidades inéditas e exigindo novas competências, muitas vezes especializadas, que antes não existiam.

A integração entre tecnologia avançada e conhecimento humano é, portanto, um fenômeno que transcende setores e funções.

Entre os exemplos mais emblemáticos dessa transformação está a Mercor, startup que se destaca por conectar especialistas humanos a modelos de inteligência artificial, treinando-os para desempenhar funções cada vez mais sofisticadas. Fundada por jovens bolsistas do programa Thiel Fellowship, a empresa nasceu com o propósito inicial de atuar no recrutamento de talentos para a nova economia digital. Contudo, a percepção das necessidades do mercado e o rápido avanço das tecnologias de IA levaram a Mercor a pivotar seu modelo de negócios, direcionando seus esforços para a rotulagem de dados de alta qualidade, essencial para o treinamento de máquinas inteligentes.

Especialistas humanos como ativos estratégicos

O avanço da inteligência artificial tem demonstrado que o treinamento de modelos depende não apenas de dados, mas principalmente da contribuição de especialistas altamente qualificados, como doutores e profissionais do Direito.

Esses indivíduos agregam competências analíticas, interpretativas e de julgamento que permanecem difíceis de automatizar. Cada interação entre humano e máquina resulta em valor agregado que ultrapassa a mera execução de instruções pré-programadas, refletindo décadas de formação acadêmica, experiência prática e capacidade de interpretar nuances complexas.

Assim, o papel humano continua sendo insubstituível no desenvolvimento de sistemas de IA confiáveis e seguros.

O processo de treinamento desses sistemas exige habilidades específicas: discernimento crítico, análise ética e compreensão contextual. Por isso, a valorização e a remuneração elevada de tais profissionais não decorrem apenas da escassez de talento, mas também da centralidade de seu trabalho na construção de inteligência artificial de qualidade.

Impacto econômico e crescimento exponencial

Os resultados observados em diferentes empresas do setor evidenciam o impacto econômico da valorização de especialistas humanos no ciclo de desenvolvimento da IA. O crescimento acelerado da demanda por profissionais qualificados sugere que novas funções relacionadas ao treinamento de sistemas inteligentes estão se consolidando de forma estrutural, e não apenas conjuntural.

Esse movimento não só gera oportunidades de carreira e expansão de competências, como também reforça a ideia de que a economia do conhecimento passará a depender, cada vez mais, da colaboração estreita entre especialistas humanos e tecnologias avançadas.

Transformação das funções e do recrutamento

Para profissionais de recursos humanos e gestores de tecnologia, compreender essa evolução é essencial. A IA não substitui apenas tarefas operacionais, ela redefine habilidades estratégicas e cria uma nova classe de empregos. 

Sendo assim, o treinamento de modelos de IA exige competências que mesclam conhecimento técnico, interpretação crítica e criatividade, características que desafiam métodos tradicionais de seleção e capacitação de talentos.

O caso da Mercor demonstra que a especialização passou a ser um diferencial competitivo, e que a capacidade de conectar conhecimento humano a processos automatizados se tornou um ativo valioso. O processo seletivo para essas funções também sofre transformações profundas, priorizando habilidades analíticas, raciocínio crítico e capacidade de interagir com sistemas inteligentes. 

Remuneração e valorização do trabalho humano

A ascensão dessas novas profissões levanta questões sobre remuneração e valorização do trabalho humano. A remuneração diferenciada atribuída a esses profissionais reflete não apenas a raridade de suas competências, mas principalmente a relevância de sua contribuição para o desenvolvimento de sistemas de Inteligência Artificial éticos e confiáveis. 

Em um contexto de algoritmos cada vez mais sofisticados, a contribuição humana passa a ser medida não apenas pelo volume de trabalho, mas pela precisão, qualidade e relevância das informações aplicadas ao treinamento da IA.

Essa lógica desafia modelos tradicionais de precificação de serviços, exigindo que empresas e profissionais revisem conceitos clássicos de carreira e remuneração. A remuneração torna-se um instrumento de atração e retenção de talentos, mas também um reflexo do reconhecimento do conhecimento humano como elemento central na evolução tecnológica.

Implicações éticas e operacionais

Além do aspecto econômico, a interação entre humanos e máquinas traz implicações éticas e operacionais. O treinamento de modelos de IA não é apenas uma atividade técnica, envolve decisões sobre vieses, interpretação de dados sensíveis e responsabilidade sobre os resultados gerados pelas máquinas. Especialistas atuam como mediadores entre a complexidade do mundo real e a lógica computacional, garantindo que os sistemas de IA sejam confiáveis, precisos e alinhados a padrões éticos.

A governança e a transparência dos processos de IA dependem diretamente da qualidade do treinamento humano. Profissionais altamente capacitados atuam como guardiões da confiabilidade e da imparcialidade, assegurando que algoritmos não reproduzam vieses ou erros que poderiam ter impactos significativos em empresas, clientes e sociedade.

Oportunidades no setor jurídico

O mercado jurídico é um dos setores mais impactados por essa transformação. Profissionais do Direito podem contribuir para o desenvolvimento de soluções automatizadas, garantindo que algoritmos compreendam normas, precedentes e princípios éticos fundamentais.

Essa convergência tecnológica permite que escritórios e departamentos jurídicos aumentem a eficiência, automatizem tarefas repetitivas e aprimorem a tomada de decisão estratégica. Especialistas jurídicos que treinam IA garantem que sistemas operem de maneira confiável, precisa e ética, reforçando o papel insubstituível do humano na evolução tecnológica.

Formação e capacitação de especialistas

O avanço da IA e a criação de novas profissões exigem reflexão sobre formação e capacitação. Preparar profissionais para treinar máquinas envolve habilidades técnicas, interpessoais, julgamento crítico e compreensão ética. Programas de treinamento, certificações especializadas e desenvolvimento contínuo tornam-se diferenciais essenciais. Empresas que investem na formação de especialistas aumentam a qualidade do trabalho e contribuem para a evolução sustentável da inteligência artificial.

Profissionais que compreendem a lógica dos modelos de IA e aplicam conhecimento contextualizado se tornam ativos estratégicos. A combinação de especialização técnica, análise crítica e capacidade de adaptação determina a relevância do humano em um mercado cada vez mais automatizado.

Cultura organizacional e inovação

A criação de novas profissões impacta diretamente a cultura organizacional. Empresas e escritórios que reconhecem a importância do humano no treinamento de máquinas desenvolvem ambientes colaborativos, valorizando a troca de conhecimento e a inovação contínua. A integração entre talento humano e tecnologia cria condições para crescimento sustentável, retenção de especialistas e fortalecimento da reputação corporativa.

A inovação é entendida de forma ampla: não se restringe a produtos ou serviços, mas envolve o modelo de operação, o uso estratégico de inteligência artificial e o aproveitamento das competências humanas. O Taskscore, por exemplo, traduz essa visão ao alinhar desempenho, colaboração e tecnologia, demonstrando que a especialização humana não é um custo, mas sim um investimento essencial para gerar valor e vantagem competitiva sustentável.

Perspectivas futuras e conclusões

O crescimento de empresas que conectam especialistas humanos a modelos de IA demonstra que a economia do conhecimento está evoluindo rapidamente. Profissionais capazes de treinar máquinas estão se tornando ativos estratégicos, redefinindo conceitos de especialização, carreira, remuneração e gestão de pessoas.

A perspectiva de crescimento exponencial associada à valorização do trabalho humano indica que novas profissões emergirão em ritmo acelerado. O papel de especialistas treinando IA, função inexistente há poucos anos, já se consolidou como relevante e altamente rentável. Empresas que compreendem o valor do conhecimento humano e o integram a tecnologias avançadas conseguem gerar lucro, inovação e impacto positivo na sociedade.

A ascensão dessas novas profissões evidencia que o humano permanece no centro da transformação digital. Especialistas altamente qualificados desempenham funções estratégicas que desafiam modelos tradicionais de carreira, promovem integração entre conhecimento técnico e julgamento ético e consolidam o papel do trabalho humano na evolução tecnológica.

Para o setor jurídico e para empresas de tecnologia, compreender essa interseção entre inteligência artificial e capital humano é essencial. Preparar profissionais, adaptar processos seletivos e desenvolver estratégias de gestão alinhadas às demandas do mercado emergente não é apenas uma oportunidade de negócio, mas uma necessidade estratégica.

O desafio está lançado: a inteligência artificial não é apenas uma ferramenta de automação, mas um catalisador de novas funções e oportunidades. A valorização do trabalho humano, a especialização técnica e a ética no treinamento de sistemas inteligentes são pilares que determinarão o sucesso das organizações e a qualidade do mercado de trabalho do futuro.

O futuro do trabalho está sendo reescrito. Profissões antes inexistentes se consolidam, e a inteligência artificial emerge como força transformadora que conecta conhecimento humano à inovação tecnológica. 

Eduardo Koetz

VIP Eduardo Koetz

Eduardo Koetz é advogado, sócio-fundador da Koetz Advocacia e CEO do software jurídico ADVBOX . Especialista em tecnologia e gestão, ele também se destaca como palestrante em eventos jurídicos.

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