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Carreira jurídica em tempos de inteligência artificial: Como lidar?

Do vender hora ao entregar resultado: nicho, produto jurídico claro, kit de produtividade com IA e precificação por valor são algumas dicas para reposicionar sua carreira jurídica hoje.

segunda-feira, 20 de outubro de 2025

Atualizado em 17 de outubro de 2025 11:10

Dias atrás me deparei com um anúncio para júnior a R$ 2.500. O ponto não é o número em si, mas o que ele revela: a automação barateou tarefas repetitivas e mudou o que o cliente compra.

A primeira mudança é de base. Tarefas padronizáveis, como minutas, pesquisas preliminares, comparação de versões, revisão de linguagem, passaram a ser assistidas por IA dentro de fluxos bem desenhados. Isso criou uma economia de tempo que antes dependia apenas de talentos humanos. 

Em muitos times, um júnior bem treinado, operando com checklist, modelos e boas ferramentas, já produz com a velocidade que se esperava de um pleno. Paralelamente, a forma de comprar serviços jurídicos também mudou: empresas comparam entregáveis, SLAs (Acordo de Nível de Serviço) e previsibilidade, hora vendida perde espaço para escopos claros, métricas e resultado mensurável.

Nota honesta: previsões do tipo "80% do trabalho será feito por IA" são manchetes. O que de fato ocorre é simples: tudo o que é padronizável automatiza primeiro, pressionando preços de entrada.

Onde permanece o valor humano

O valor que sustenta honorários não está no texto em si, mas no diagnóstico (o que resolver, em que sequência e com qual risco), na negociação (estratégia, timing e leitura de contexto) e no relacionamento (governança, comunicação clara e gestão de expectativas). 

Ele também aparece em projetos consultivos: 

  • Organizar políticas internas;
  • Implantar um CLM (Contract Lifecycle Management, que em português significa gestão do ciclo de vida do contrato) com biblioteca de cláusulas e matriz de alçadas;
  • Estruturar programas de compliance e métodos adequados de solução de conflitos;
  • Produzir conteúdo autoral consistente, que ensina e posiciona, completa o quadro.

E onde entra o BPO jurídico? 

Quando o trabalho repetitivo fica mais barato com IA e processo, faz sentido terceirizar o operacional padronizável para um parceiro especializado (BPO jurídico) e manter diagnóstico, negociação e relacionamento no core do time. Assim, o escritório ou área interna captura eficiência com SLA, métricas e escala, enquanto concentra o talento onde a IA não entrega.

5 dicas de como reagir às mudanças como profissional

  1. Escolha um nicho com dor reconhecível e volume: pode ser criadores digitais, fintech ou empresa de cripto, saúde suplementar, SaaS B2B ou franquias.
  2. Transforme conhecimento em produto claro: diagnóstico de cláusulas críticas, implantação de biblioteca de cláusulas e matriz de alçadas (níveis de aprovação por valor/risco/área), revisão LGPD, desenho de ADR (mediação, conciliação e arbitragem) e ODR (resolução online) internos.
  3. Monte um kit de produtividade enxuto: captura de requisitos, rascunho assistido, checklists, comparação de versões e registro de decisão, sempre com trilha de auditoria e revisão jurídica.
  4. Construa autoridade digital: trabalhe com peças curtas e úteis como boletins, guias de uma página e vídeos rápidos.
  5. Precifique por valor: proponha setup e recorrência atrelados a metas do cliente, em vez de vender horas.

O que times e escritórios podem ajustar

  • Trate o consultivo como linha de receita, não como apoio eventual.
  • Use o CLM como infraestrutura de previsibilidade: biblioteca viva, alçadas bem desenhadas, métricas de ciclo e alertas de obrigações.
  • Forme times híbridos (jurídico + dados + ferramenta), com governança e revisão sênior, e acompanhe indicadores de negócio: tempo médio de negociação, taxa de exceções, litígios evitados e satisfação das áreas internas.

Conclusão

O diploma não perdeu valor, ele apenas deixou de bastar. Em um mercado pressionado por automação, quem organiza processo, mede resultado e fala a linguagem do cliente cobra melhor e entrega melhor. O restante vira commodity, com ou sem IA.

Bruno Doneda

Bruno Doneda

Fundador e CEO da Contraktor, formado em Direito e Tecnologia, atua especialmente nas frentes de vendas e marketing.

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