Contratos que não começam no zero: Como conseguir receita recorrente
Entenda por que a gestão contratual contínua (BPO jurídico) reduz risco, organiza prazos e renovações, e cria receita recorrente no seu escritório.
terça-feira, 21 de outubro de 2025
Atualizado às 09:42
A maioria dos conflitos contratuais não nasce na redação, mas na execução. Depois da assinatura, muitos contratos entram no piloto automático. Prazos deixam de ser acompanhados, renovações seguem por inércia, obrigações não têm dono, e evidências não são registradas.
O resultado? Risco jurídico, fricção entre áreas e custo silencioso. Do lado dos escritórios, existem ainda outras perdas: a relação termina na entrega técnica, e o ciclo comercial volta à estaca zero.
A tese: sair do transacional para o recorrente
Bancas que atendem empresas podem ocupar essa lacuna oferecendo gestão contratual contínua, o chamado BPO jurídico de contratos.
Não é mais uma tarefa, é um produto recorrente com escopo, SLA e indicadores. Essa postura desloca a conversa de hora faturada para resultado de negócio: previsibilidade de caixa, conformidade auditável e redução de risco.
O desenho mínimo de uma operação que funciona
Toda implantação bem-sucedida começa por um inventário vivo dos contratos, com metadados essenciais e responsáveis definidos. Em seguida, um calendário de prazos e renovações com antecedências claras, trilhas simples para revisões, aditivos e encerramentos, matriz de obrigações com prazos, donos e forma de comprovação, e um relatório executivo curto, que traduza o mês em poucos sinais vitais compreensíveis pelo decisor econômico.
A tecnologia de CLM reduz atrito e padroniza rotinas. O que sustenta o valor, porém, é a cadência: alerta emitido, tarefa cumprida, evidência registrada, mês após mês.
Para quem a virada dá mais tração
Dois perfis costumam acelerar melhor. O primeiro é o da banca enxuta com carteira empresarial sólida: quer previsibilidade, mas não pretende inflar a estrutura. O segundo é o da banca média com alguma controladoria: possui organização interna, mas carece de um produto contínuo que converta relacionamento em assinatura mensal. Em ambos, a proposta certa reposiciona o escritório como parceiro de operação, não apenas resolvedor de urgências.
Como vender sem prometer o que não controla
O decisor corporativo compra previsibilidade e redução de risco, não "software". O discurso eficaz apoia-se em quatro pilares:
- Tempo: menos incêndio, menos retrabalho, menos pendência esquecida.
- Risco: prazos e renovações tratados antes do vencimento; obrigações com evidência.
- Adoção: passo a passo curto, curva de aprendizado baixa, suporte próximo na largada.
- Visibilidade: relatórios que falam a língua do negócio, não apenas do contencioso.
Quando esses critérios aparecem claros, o preço deixa de ser gasto e passa a ser comparado com o custo da desorganização.
Precificação: produto, não improviso
Trate o BPO como um produto. Comece por um mínimo viável: inventário, calendário, rotina mensal de auditoria. Ofereça módulos de evolução (revisão de minutas, renegociação, due diligence contratual) conforme maturidade e necessidade. A precificação combina volume e complexidade do portfólio, com níveis de SLA e política de "overage" para demandas que extrapolam o pacote. Cláusulas de reajuste e revisões periódicas preservam margem e transparência.
Governança com métrica: o que realmente importa
Cinco indicadores costumam bastar para medir saúde e contar a história certa:
- Contratos com dados completos (percentual).
- Renovações tratadas antes do D-30 (percentual).
- Alertas preventivos gerados e resolvidos (volume e taxa).
- Tempo médio de revisão/aprovação (dias).
- Incidentes de não conformidade encerrados (volume e tendência).
São métricas simples, que cabem em uma página e alinham operação, jurídico interno e diretoria.
Riscos e como mitigá-los
Escopo mal desenhado gera conflito com consultivo e contencioso: vale explicitar fronteiras e rotas de encaminhamento. Bases paralelas corroem o controle: evite shadow IT e defina fonte de verdade. Dependência de pessoas limita escala: documente processos e checklists. Resistência cultural existe: por isso, comece com um piloto, gere um relatório de 30 dias e avance por ondas.
Conclusão
Escritórios que dominam o pós-assinatura deixam de disputar tarefas e passam a disputar relacionamentos. BPO jurídico de contratos não "vende horas", entrega tranquilidade operacional ao cliente e previsibilidade ao escritório.
Num mercado saturado de boa técnica, quem organiza o cotidiano com método e evidência conquista um espaço difícil de substituir e transforma a assinatura no início da relação, não no fim.
Henrique Flôres
Cofundador da Contraktor. Formado em Direito e Sistemas para Internet, especialista em Administração e com MBA em Gestão Estratégica, IA e Marketing.


