O que eu faria se estivesse devendo muito

Sou advogada especialista em direito bancário e lido diariamente com pessoas sufocadas por dívidas. E se eu mesma estivesse devendo muito, começaria pelo passo mais simples e, ao mesmo tempo, mais negligenciado: colocar tudo em uma planilha com nome do credor, tipo de dívida, valor total pendente e condições de pagamento. Parece banal, mas é impossível lidar com o que não se enxerga - e muitos estão perdendo o controle justamente por não saberem o tamanho real do próprio passivo.

Depois dessa fotografia completa das dívidas, tiraria todas do débito automático e pediria que as cobranças fossem feitas, sempre que possível, via boleto bancário. Isso devolve ao devedor o controle sobre quando e quanto pagar, algo essencial em tempos de aperto. Dívidas consignadas fogem dessa regra, pois têm desconto direto em folha, mas as demais podem e devem ser administradas com mais autonomia.

Em seguida, eu priorizaria as dívidas com bens dados em garantia, como financiamentos de veículos ou imóveis. Esses contratos envolvem riscos reais de perda patrimonial - e não adianta pagar o cartão de crédito e deixar o carro ser retomado. Por isso, foco total no que pode gerar dano imediato.

E se o valor total em atraso ultrapassar os R$ 50 mil, aí não há espaço para improviso: é hora de buscar um advogado especialista para intermediar negociações. Jamais aceite de pronto as "ofertas imperdíveis" que o banco, o gerente ou o aplicativo colocam na tela.

Essas propostas, quase sempre, apenas maquiam o problema: alongam o prazo, aumentam juros e prendem o consumidor em contratos ainda piores. Negociar requer técnica, não impulso. Organização, estratégia e orientação jurídica adequada são, sem exagero, a diferença entre recomeçar e afundar de vez.