Liderança consciente e cultura organizacional no Direito Contemporâneo
O artigo analisa como a cultura molda o comportamento das instituições jurídicas.
quarta-feira, 29 de outubro de 2025
Atualizado às 14:15
A cultura organizacional tem se tornado um dos pilares centrais das transformações jurídicas e institucionais do nosso tempo. Em um contexto em que escritórios de advocacia e departamentos jurídicos enfrentam pressões por inovação, produtividade e propósito, compreender como os valores, crenças e comportamentos moldam o ambiente organizacional é um passo essencial para o desenvolvimento de lideranças mais humanas e conscientes.
Como define Edgar Schein (2017), a cultura é "o conjunto de pressupostos básicos compartilhados por um grupo, aprendidos à medida que resolve seus problemas de adaptação externa e integração interna". Em outras palavras, é a cultura que orienta a forma como as pessoas se relacionam, decidem e constroem sentido no trabalho. No campo jurídico, essa dimensão simbólica e coletiva é, muitas vezes, negligenciada, embora determine a forma como o poder é exercido, a comunicação é estruturada e as decisões são tomadas.
A liderança consciente emerge como resposta a esse cenário. Ela propõe uma mudança de paradigma: o líder deixa de ser apenas gestor de processos para se tornar facilitador de aprendizado, equilíbrio e transformação. A prática da liderança consciente implica reconhecer o impacto humano das decisões e o papel da empatia, da escuta e da coerência ética no exercício da autoridade.
Peter Drucker afirmava que "a cultura come a estratégia no café da manhã". A frase ilustra o desafio contemporâneo das instituições jurídicas: sem uma cultura sólida e alinhada a valores humanos, nenhuma estratégia - por mais inovadora - se sustenta. O verdadeiro avanço não está em criar novas estruturas, mas em transformar mentalidades.
Nos últimos anos, o debate sobre cultura e liderança na advocacia vem ganhando força no Brasil, aproximando o Direito das ciências humanas e da gestão organizacional. Essa convergência tem inspirado novas práticas, pesquisas e programas voltados à formação de líderes jurídicos capazes de promover ambientes mais colaborativos, éticos e sustentáveis.
A ampliação desse debate para o cenário internacional reflete um movimento importante de reconhecimento do papel social do Direito. Em eventos acadêmicos, como o Congresso Internacional CONSINTER de Direito, que será realizado na Universitat de Barcelona, o tema tem sido tratado sob a perspectiva da justiça social e econômica, revelando o quanto a cultura e a liderança são dimensões inseparáveis do exercício jurídico.
Representar o Brasil nesse diálogo é uma oportunidade de mostrar que a advocacia latino-americana vem contribuindo de forma original e significativa para essa discussão, unindo a sensibilidade social da região ao rigor técnico que o debate jurídico global exige. É também um espaço para refletir sobre o papel das lideranças jurídicas como agentes de transformação cultural e social, dentro e fora das instituições.
Em última instância, a liderança consciente e a cultura organizacional são as bases sobre as quais se constroem instituições jurídicas mais justas, humanas e sustentáveis. A transformação do Direito começa pela transformação das pessoas que o praticam.
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Drucker, P. F. (1999). Management Challenges for the 21st Century. New York: Harper Business.
Fontenele, Í. P. (2024). Liderança e Cultura Organizacional na Advocacia. Curitiba: Juruá Editora.
Schein, E. H. (2017). Cultura Organizacional e Liderança (5ª ed.). São Paulo: Atlas.


