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A força da paciência: O autodomínio como expressão da fé

Inspirado nos ensinamentos do rabino Eliahu Hasky, o texto reflete sobre como o controle das emoções pode transformar o lar, os relacionamentos e a própria conexão com o divino.

sexta-feira, 14 de novembro de 2025

Atualizado às 09:36

Num mundo em que a pressa dita o ritmo e a reação imediata é quase um reflexo automático, a paciência se torna uma virtude cada vez mais rara. E, justamente por isso, uma das maiores expressões de força interior. O líder comunitário rabino Eliahu Hasky ensina que a verdadeira força não está em reagir, mas em dominar as próprias emoções, conduzindo-as com consciência e fé.

Ele explica que a origem da palavra hebraica savlanut, paciência, vem de sevel, que significa "suportar um fardo". Nesse sentido, ser paciente não é cruzar os braços, mas sustentar o peso do momento com dignidade. A paciência, segundo Hasky, é uma forma de agir com sabedoria, aceitando o processo sem se quebrar. O autocontrole, portanto, é um exercício de consciência e não de frieza: é sentir profundamente, mas escolher como agir diante do que se sente.

Com base nos ensinamentos do Zôhar - principal obra da Cabalá, que revela os aspectos místicos da Torá -, o rabino lembra que o mundo se sustenta sobre três pilares: Torá, Avodá (serviço divino) e Gmilut Chassadim (bondade). O equilíbrio entre esses fundamentos depende da capacidade humana de governar suas próprias emoções. Quando a pessoa domina a raiva, o medo e o orgulho, cria dentro de si um espaço para a presença divina. Sem esse domínio interior, até boas ações podem se desequilibrar pois passam a ser guiadas pela reatividade e não pela consciência.

O rabino revela que a tradição judaica compara a raiva à idolatria, pois ela surge quando alguém esquece que D'us está no comando e acredita que algo externo determina sua realidade. Mesmo em meio ao caos, a fé convida à lembrança de que o Todo-Poderoso continua presente. A paciência, então, é entendida como uma oração silenciosa, uma reza vivida em movimento.

Dentro do lar, de acordo com o rabino Hasky, o exercício da paciência se manifesta pelo exemplo. A serenidade dos pais, em vez de gritos, ensina aos filhos o valor da fé aplicada à vida cotidiana. As crianças aprendem não apenas com palavras, mas com a energia que domina o ambiente. A raiva levanta a voz; a calma, porém, educa.

A psicologia moderna reforça o mesmo princípio, ao demonstrar que a paciência e o autocontrole estão ligados ao fortalecimento do córtex pré-frontal - região do cérebro responsável pela regulação emocional e pelas decisões conscientes. Treinar essa capacidade reduz a impulsividade, melhora os relacionamentos e conduz a uma vida mais equilibrada.

O rabino propõe um exercício simples: reconhecer o gatilho da impaciência, respirar fundo e lembrar que D'us está presente também naquele instante. A partir dessa consciência, a pessoa pode escolher a resposta que trará luz à situação.

Para Hasky, educar é um ato de espelhar. O verdadeiro educador é aquele que ensina com serenidade, influencia sem impor e brilha sem ofuscar. O autodomínio é o espelho mais forte de todos, e cada momento de paciência representa uma vitória invisível - uma das maiores mitzvot (boas ações) que o ser humano pode oferecer.

Alberto Maurício Danon

VIP Alberto Maurício Danon

Jornalista e diretor da ADCom Comunicação Empresarial.

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