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Como identificar e contestar juros abusivos em contratos bancários

Saiba como identificar e contestar juros abusivos em contratos bancários e descubra o que a Justiça permite para reduzir sua dívida com segurança.

quarta-feira, 19 de novembro de 2025

Atualizado às 14:51

Carlos pegou um empréstimo para salvar o caixa da empresa.

O gerente garantiu que as parcelas caberiam no bolso, mas, poucos meses depois, a dívida havia dobrado.

Mesmo pagando em dia, o saldo devedor só crescia.

Intrigado, ele fez as contas e percebeu: estava pagando quase 400% ao ano em juros e encargos escondidos.

Essa situação é mais comum do que parece.

Milhares de brasileiros - empresários e pessoas físicas - pagam valores ilegais todos os meses, sem perceber.

Isso acontece porque muitos contratos bancários contêm juros acima do limite legal, capitalização irregular e cobranças disfarçadas em taxas.

Mas há uma boa notícia: a lei protege o consumidor e o empresário contra juros abusivos, e o Judiciário tem reconhecido esses abusos com frequência.

Os bancos têm liberdade para cobrar juros - mas essa liberdade não é ilimitada.

O problema é que, na prática, muitos contratos escondem custos e multiplicam a dívida com mecanismos difíceis de entender.

Veja os principais sinais de juros abusivos

Taxas muito acima da média do mercado

  • O Banco Central divulga mensalmente as taxas médias praticadas por tipo de crédito.
  • Se o contrato cobra muito acima dessa média, há indício de abuso.

Capitalização indevida (juros sobre juros)

  • Quando o banco cobra juros compostos sem previsão expressa no contrato.
  • O resultado: O saldo cresce mesmo com pagamentos em dia.

Cobrança de encargos escondidos

  • Taxas de cadastro, serviços, seguros e "tarifas administrativas" que não foram explicadas.

Alteração unilateral das condições

  • O banco muda juros, prazos ou parcelas sem novo contrato.

Esses abusos ocorrem em empréstimos empresariais, financiamentos, cartões de crédito, cheque especial e consignado.

E o pior: sem conhecimento técnico, o consumidor não consegue identificar - nem contestar - essas irregularidades.

Imagine trabalhar duro, pagar todas as parcelas, e ainda ver o saldo da dívida aumentar.

É como correr em uma esteira - muito esforço, zero progresso.

O banco liga oferecendo "renegociações", mas todas com juros ainda maiores.

O gerente diz que "é política do sistema" e promete que "no fim, compensa".

Mas o que realmente acontece é o oposto: você paga duas, três vezes o valor emprestado e continua devendo.

Enquanto isso, o estresse cresce:

  • O medo de perder o crédito;
  • A vergonha de admitir que caiu numa armadilha;
  • E a sensação de impotência diante do sistema financeiro.

Mas o que o banco não conta é que você tem direito à revisão judicial do contrato, e que os tribunais reduzem ou anulam dívidas abusivas todos os dias.

Quando você conhece seus direitos, o jogo muda completamente.

Contestar juros abusivos não é "dar calote" - é fazer valer o direito à transparência e ao equilíbrio contratual.

Veja o passo a passo para identificar e agir contra cobranças ilegais

1. Solicite cópia completa do contrato e planilha de evolução da dívida

Você tem direito a receber todos os documentos e cálculos.

Isso inclui: taxa nominal, taxa efetiva, CET - Custo Efetivo Total e encargos cobrados.

Dica: se o banco se recusar, o advogado pode requerer judicialmente com base no CDC (art. 6º, III e 46).

2. Compare os juros com a média do Banco Central

Acesse o site do Banco Central do Brasil e confira a taxa média de mercado para o tipo de crédito contratado (ex.: empréstimo pessoal, capital de giro, cartão).

Se o seu contrato ultrapassa em mais de 50% a média, há forte indício de abuso.

Exemplo: se a taxa média é 5% ao mês e o contrato cobra 9%, isso pode ser considerado abusivo.

3. Peça uma análise técnica de revisão contratual

Com base nos documentos, o advogado faz um laudo pericial contábil que calcula:

  • Juros cobrados acima do permitido;
  • Encargos indevidos;
  • E o valor real da dívida.

Benefício: Esse laudo serve como prova principal em ações revisionais.

4. Inicie uma ação revisional de contrato bancário

Com os cálculos em mãos, é possível propor uma ação revisional pedindo:

  • Redução dos juros ao limite de mercado;
  • Devolução (ou abatimento) de valores pagos indevidamente;
  • Suspensão de cobranças e negativação enquanto o processo tramita.

Base legal: CDC (arts. 6º e 51) e súmulas 297 e 381 do STJ.

5. Negocie com base na prova revisional

Com o processo em andamento, o banco geralmente propõe acordo - muitas vezes com redução expressiva da dívida ou parcelamento acessível.

O poder de negociação muda completamente quando o devedor mostra números, não emoções.

O momento de agir é agora

Cada parcela paga com juros abusivos é dinheiro perdido que não volta.

A revisão contratual é o caminho legítimo para corrigir distorções, reduzir dívidas e recuperar o controle financeiro.

Com apoio jurídico, você transforma uma relação desigual em uma negociação justa - e usa a lei a seu favor, não contra você.

Samir Tomazi

VIP Samir Tomazi

Advogado e sócio do escritório Tomazi Advocacia & Consultoria, é pós graduado e especialista em Direito Bancário. Conta com mais de dez anos de experiência na área e profundo conhecimento da matéria.

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