Um retrato dos imigrantes indocumentados nos EUA e o impacto sobre os brasileiros
Imigração indocumentada nos EUA atinge 14 mi, enfrenta restrições, deportações em massa e afeta brasileiros, apesar da importância econômica.
quarta-feira, 12 de novembro de 2025
Atualizado em 11 de novembro de 2025 14:05
Crescimento e contexto histórico
O número de imigrantes indocumentados vivendo nos Estados Unidos chegou a quase 14 milhões em 2023, segundo dados do Instituto de Política de Migração (MPI - Migration Policy Institute).
Esse aumento refletiu uma combinação de fatores:
- O reaquecimento do mercado de trabalho norte-americano após a pandemia;
- Crises econômicas e políticas em diversos países da América Latina;
- E o aumento da violência e repressão em nações como Cuba, Nicarágua, Venezuela, Haiti, Equador e México.
Esses elementos impulsionaram a busca por oportunidades e segurança nos Estados Unidos, resultando em fluxos migratórios expressivos e complexos.
Mudança de cenário: 2024 e o retorno de políticas restritivas
A partir de 2024, o cenário começou a mudar drasticamente.
Com o fim das proteções de asilo instituídas durante o governo Biden e o retorno de Donald Trump à presidência, os Estados Unidos voltaram a adotar políticas migratórias altamente restritivas, centradas em prisões, detenções e deportações em massa.
Essas medidas visam reduzir a entrada e a permanência de imigrantes sem documentação, mas também têm provocado tensões diplomáticas e críticas de organizações de direitos humanos.
Reversão da tendência de crescimento
O relatório mais recente do MPI mostra que, embora a população indocumentada tenha crescido até meados de 2024, o número começou a estagnar e até diminuir em 2025.
Entre os motivos dessa reversão estão:
- Queda acentuada nos encontros na fronteira EUA-México, que passaram de 2,9 milhões (2024) para cerca de 666 mil (2025);
- Intensificação das operações de deportação, que resultaram em 229 mil prisões, 60 mil detenções e mais de 234 mil deportações apenas em 2025;
- A disseminação de uma "atmosfera de medo", que tem desestimulado novas tentativas de entrada e levado muitos imigrantes a retornar voluntariamente aos seus países de origem.
De acordo com o DHS - Departamento de Segurança Interna, o governo Trump caminha para bater recordes históricos, podendo alcançar 600 mil deportações até o final de 2025.
Quem está sendo deportado?
Apesar do discurso oficial de que as ações visam remover "criminosos perigosos", dados do TRAC - Transacional Records Access Clearinghouse indicam uma realidade diferente:
- 71% dos imigrantes detidos pelo ICE não possuem antecedentes criminais;
- Entre os que têm, a maioria responde apenas por infrações menores, como multas de trânsito.
A análise aponta para um aumento expressivo das prisões arbitrárias, atingindo inclusive pessoas com anos de residência nos EUA, empregos formais e fortes vínculos familiares e comunitários.
O impacto sobre os brasileiros
O endurecimento das políticas migratórias americanas atingiu diretamente os brasileiros.
Nos últimos anos, o Brasil passou a figurar entre os dez grupos nacionais mais deportados dos Estados Unidos.
Alguns dados ilustram esse cenário:
- Entre 2018 e 2022, mais de 11.300 brasileiros foram deportados em voos oficiais;
- De 2019 a julho de 2024, houve pelo menos 9.885 deportações, a maioria em voos fretados diretos para Minas Gerais;
- Em janeiro de 2025, um voo da Força Aérea Brasileira trouxe 88 brasileiros deportados, gerando polêmica internacional. O governo brasileiro exigiu explicações de Washington sobre o tratamento degradante relatado por alguns deportados, incluindo o uso de algemas durante todo o trajeto.
Diante da situação, o governo Lula criou um centro de recepção para deportados em Belo Horizonte, com o objetivo de oferecer apoio social e psicológico aos retornados.
Segundo Reuters e AP News, a maioria dos brasileiros deportados não possuía histórico criminal eram trabalhadores, estudantes ou famílias em situação irregular que buscavam melhores condições de vida.
Esses números revelam que a política de endurecimento migratório afeta diretamente pessoas integradas à economia norte-americana, que sustentavam suas famílias e contribuíam com impostos e serviços.
A importância econômica dos imigrantes indocumentados
Dos cerca de 13 milhões de imigrantes não autorizados com 16 anos ou mais, aproximadamente 9,6 milhões estão empregados nos Estados Unidos.
Eles atuam principalmente nos setores de:
- Construção civil: 1,9 milhão de trabalhadores;
- Serviços de alimentação: 955 mil;
- Limpeza e manutenção: 411 mil;
- Paisagismo: 378 mil;
- Agricultura: 213 mil.
Esses imigrantes, apesar da condição irregular, são peças essenciais na estrutura econômica do país, preenchendo lacunas em áreas de alta demanda e contribuindo para o dinamismo do mercado de trabalho.
Onde vivem e de onde vêm
A concentração de imigrantes indocumentados é maior em:
- Califórnia: 2,9 milhões;
- Texas: 1,9 milhão;
- Flórida: 1,2 milhão sendo este um dos principais destinos dos brasileiros.
Quanto à origem:
- México lidera com 5,5 milhões de imigrantes;
- Guatemala, Honduras e El Salvador somam cerca de 1 milhão cada;
- O número de brasileiros ainda é menor, mas cresce rapidamente desde 2018.
Conclusão: Entre o controle e a humanidade
O atual retrato da imigração indocumentada nos Estados Unidos revela um cenário complexo e contraditório.
De um lado, há a aplicação rígida da lei e a retórica política de "fronteiras fechadas"; do outro, milhões de pessoas que movimentam a economia americana e constroem suas vidas dentro do país.
Para os brasileiros, o momento exige atenção e planejamento. Buscar caminhos legais de entrada e permanência, como os vistos de trabalho e qualificações profissionais (EB-2 NIW, EB-3, entre outros), é essencial para evitar riscos de deportação e separação familiar.
Enquanto isso, os governos dos dois países enfrentam o desafio de equilibrar segurança, humanidade e justiça em uma questão que, mais do que nunca, transcende fronteiras.
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Por Jeff Brumley, com análise e atualização de Witer DeSiqueira.
Witer Desiqueira
Especializado em Direito Corporativo e Imigratório Americano.


