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Como proteger seus bens pessoais de penhora em dívidas empresariais

Descubra o que realmente funciona para impedir que suas dívidas empresariais atinjam seu patrimônio pessoal - e como a lei pode ser sua melhor aliada.

quinta-feira, 27 de novembro de 2025

Atualizado às 09:17

Carlos é dono de uma empresa há mais de 15 anos.

Como muitos empreendedores, investiu tudo no próprio negócio - e, quando veio a crise, fez o que achava certo: usou o cartão pessoal para salvar o caixa e colocou a casa da família como garantia.

Agora, enfrenta execuções, e o medo maior não é perder o CNPJ - é perder o lar.

O que Carlos não sabia é que a lei oferece mecanismos para proteger bens pessoais, desde que exista organização, transparência e planejamento jurídico.

A confusão entre CPF e CNPJ é o erro mais comum entre empresários brasileiros - e o mais caro.

Com o devido cuidado, é possível separar o patrimônio da empresa e o da família, evitando penhoras indevidas e garantindo que a crise financeira não destrua o que foi construído em uma vida inteira.

A penhora de bens pessoais em dívidas empresariais ocorre, na maioria dos casos, por falta de separação patrimonial.

O CC e o CPC garantem essa separação - mas apenas se o empresário agir corretamente.

Veja as principais causas que permitem a penhora:

  • Confusão patrimonial: uso das mesmas contas para despesas pessoais e da empresa.
  • Falta de formalização: ausência de pró-labore, contratos e contabilidade regular.
  • Garantias pessoais: empréstimos assinados no CPF ou com bens próprios como aval.
  • Abuso de personalidade jurídica: quando o juiz entende que o empresário usou o CNPJ para fraudar credores.

Em todos esses casos, o credor pode pedir o redirecionamento da execução para o CPF, atingindo:

  • imóveis pessoais;
  • veículos da família;
  • contas bancárias e investimentos;
  • e até salários, se o juiz entender que há má-fé ou confusão financeira.

O problema não é dever - é não se proteger juridicamente enquanto ainda há tempo.

Imagine abrir o aplicativo do banco e descobrir que a conta da sua esposa foi bloqueada, mesmo sem ela ter vínculo com a empresa.

Ou receber um oficial de justiça em casa, informando que o imóvel onde você mora será levado a leilão por causa de uma dívida do CNPJ.

Isso acontece todos os dias.

Empresários honestos, que trabalharam duro, acabam sendo tratados como fraudadores - apenas porque misturaram finanças pessoais e empresariais.

A sensação é de impotência.

Você tenta negociar, mas o banco não aceita.

O advogado do credor pede bloqueios sucessivos, e o patrimônio pessoal vira refém.

Mas há uma boa notícia: a Justiça também protege quem age de boa-fé e com transparência.

E existem medidas legais eficazes para impedir que a crise da empresa leve a casa da família junto.

Proteger seus bens pessoais é um direito garantido pela lei, desde que seja exercido com planejamento jurídico e transparência.

Veja as principais estratégias usadas por advogados especializados para impedir penhoras e blindar o patrimônio familiar.

1. Formalize a separação entre pessoa física e jurídica

Tenha contas bancárias distintas e evite qualquer mistura financeira.

Retire recursos apenas por meio de pró-labore ou distribuição de lucros.

Mantenha contabilidade e contratos atualizados.

  • Fundamento legal: Art. 49-A do CC - "A pessoa jurídica não se confunde com os seus sócios."
  • Benefício: impede o redirecionamento automático da execução.

2 Crie uma estrutura de proteção patrimonial lícita

holding familiar ou patrimonial é uma das formas mais seguras de proteger bens pessoais.

Ela transfere imóveis e investimentos para uma nova pessoa jurídica, fora do alcance direto de credores empresariais.

  • Importante: a holding deve ser criada antes da execução e com propósito legítimo - sucessão, organização ou gestão patrimonial - nunca para ocultar bens.
  • Benefício: segurança jurídica e blindagem legítima.

3. Registre o bem de família (imóvel residencial)

bem de família legal (lei 8.009/90) é impenhorável para a maioria das dívidas, inclusive empresariais.

Mesmo que o imóvel esteja no nome do sócio, não pode ser usado para quitar dívidas do CNPJ, salvo exceções (como fiança em contrato de aluguel).

  • Benefício: protege o lar da família de execuções e leilões.

4. Evite garantias pessoais em novos contratos

Sempre que possível, negocie empréstimos e contratos em nome da empresa, sem aval pessoal.

Se o banco exigir garantia, avalie alternativas com menor risco (alienação fiduciária ou garantias cruzadas entre empresas).

  • Benefício: limita o alcance da dívida ao CNPJ e preserva o CPF.

5. Atue preventivamente com assessoria jurídica

O melhor momento para proteger bens é antes do processo começar.

Com acompanhamento jurídico permanente, é possível:

  • identificar riscos de penhora;
  • revisar contratos com cláusulas abusivas;
  • negociar judicialmente com credores antes da execução.
  • Benefício: transforma o advogado em escudo jurídico contínuo, não apenas em socorro emergencial.

O momento de agir é agora

A pior hora para proteger o patrimônio é quando o bloqueio já aconteceu.

A melhor hora é enquanto ainda há tempo para planejar.

Com orientação jurídica adequada, é possível impedir penhoras, resguardar bens da família e separar de vez o CPF do CNPJ.

A lei não pune quem deve - ela protege quem age com boa-fé e estratégia.

Samir Tomazi

VIP Samir Tomazi

Advogado e sócio do escritório Tomazi Advocacia & Consultoria, é pós graduado e especialista em Direito Bancário. Conta com mais de dez anos de experiência na área e profundo conhecimento da matéria.

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