A queda do Banco Master revela um colapso de percepção
A queda do Banco Master expõe como retornos fora da curva frequentemente escondem riscos negligenciados.
quinta-feira, 27 de novembro de 2025
Atualizado às 14:32
A quebra do Banco Master não é apenas um episódio bancário; é um espelho colocado diante de empresários, investidores e gestores que insistem em acreditar que resultados extraordinários podem existir sem riscos extraordinários. No mundo real, nada cresce para sempre e nada rende acima da média sem um preço oculto. Por trás de toda rentabilidade fora da curva, existe uma curva de risco sendo desenhada em silêncio. E é justamente nesse silêncio que muitos caem.
A maioria das pessoas olha para o retorno, mas poucos têm coragem de olhar para a estrutura que o sustenta. A queda do Master escancara uma verdade incômoda, porém necessária: rentabilidades acima da média devem ser criteriosamente verificadas, pois só duas forças produzem números tão atraentes, competência rara ou risco oculto. E se você não consegue identificar claramente a primeira, é porque está exposto à segunda.
A conta do risco ignorado chegou e não chegou barata. O FGC deverá arcar com aproximadamente 40 bilhões de reais, mas há estimativas de mercado que apontam que a exposição real do Master possa girar em torno de 60 bilhões. Se esse número se confirmar, estamos falando de um rombo potencial de 20 bilhões, um vácuo que não nasce de um único erro, mas de uma sequência de decisões que acumularam risco como quem empilha dinamite em um porão esquecido.
Todo grande desastre nasce de pequenas permissões.
No universo financeiro, especialistas existem, mas sabedoria é outra coisa. Por isso, a lição é direta como uma lâmina:
- Certifique-se dos especialistas que cuidam do seu dinheiro;
- Não aceite narrativas;
- Não se apaixone por posições;
- Não terceirize completamente a vigilância.
Gestores, agentes autônomos, analistas e consultores são fundamentais, mas nenhum deles substitui a sua responsabilidade intransferível de compreender, mesmo que minimamente, as engrenagens que movem o seu patrimônio.
O colapso também revela um erro clássico da psicologia do investidor moderno: a crença ingênua de que segurança é consequência de fidelidade a uma instituição. No entanto, segurança é consequência de estratégia. Por isso, a velha máxima nunca perde valor: não coloque todos os ovos na mesma cesta. Diversificação não é covardia; é autodefesa. É a arte de impedir que um único fracasso comprometa todo o edifício que você construiu ao longo dos anos.
No fim, talvez a lição mais dura seja também a mais valiosa: gestão e análise de riscos são inseparáveis. Onde há gestão sem risco, há ilusão. Onde há risco sem gestão, há tragédia anunciada.
O Banco Master não quebrou em um dia, ele quebrou em pequenas decisões, pequenos sinais, pequenas distorções, pequenas negligências que se acumularam e, somadas, se tornaram um abismo. E o mercado ignorou porque o retorno parecia bonito demais para provocar questionamentos.
A queda do Master deixa um recado claro para o sistema financeiro, para os reguladores, para o investidor comum e para o empresário que acha que "comigo não acontece": os riscos não desaparecem; eles apenas mudam de lugar, esperando a primeira distração para se manifestarem. E, quando se manifestam, não perdoam. No jogo do dinheiro, sobrevivem não os mais audaciosos, mas os mais atentos.


