MIGALHAS DE PESO

  1. Home >
  2. De Peso >
  3. Colheita de dados: O impacto da inteligência artificial no agronegócio brasileiro

Colheita de dados: O impacto da inteligência artificial no agronegócio brasileiro

IA revoluciona o agronegócio brasileiro, aumentando produtividade e sustentabilidade, com precisão na irrigação, manejo, colheita e redução de insumos.

quinta-feira, 27 de novembro de 2025

Atualizado em 26 de novembro de 2025 15:05

Embora enraizada em técnicas tradicionais, a agricultura tem incorporado, ao longo do tempo, inovações tecnológicas que impulsionam sua eficiência. A IA - inteligência artificial, que já transforma áreas como saúde, finanças e mobilidade, também vem impactando o agronegócio - setor estratégico para a economia brasileira. 

As práticas agrícolas envolvem uma série de fatores: tipo e qualidade do solo, padrões climáticos, incidência de pragas, épocas de plantio, irrigação e colheita, além de fatores logísticos e de mercado. Nesse cenário complexo, os sistemas de IA têm se mostrado um poderoso aliado. Com eles, é possível coletar, cruzar e interpretar grandes volumes de dados de forma rápida e eficiente - o que ajuda produtores a tomar decisões mais assertivas e sustentáveis. 

Entre as muitas frentes em que a inteligência artificial já começa a fazer diferença no campo, algumas aplicações vêm se destacando por seu impacto direto na produtividade e na sustentabilidade. Uma delas é o diagnóstico precoce de pragas e doenças, feito a partir de algoritmos de visão computacional e aprendizado de máquina. Essas ferramentas reconhecem padrões sutis, muitas vezes invisíveis ao olho humano, o que permite ações preventivas antes que os danos se espalhem, reduzindo perdas e diminuindo a necessidade do uso de defensivos.

Outro exemplo importante é a previsão climática inteligente. Modelos preditivos, alimentados com dados meteorológicos históricos e informações em tempo real, oferecem aos produtores uma leitura mais precisa sobre eventos extremos, como secas, geadas ou chuvas intensas. Essa antecipação permite decisões mais bem informadas - desde a escolha de cultivares mais resistentes até a antecipação da colheita ou o redirecionamento de recursos.

A gestão do solo também passou a contar com o apoio da IA. Sistemas avançados conseguem mapear a variabilidade do solo em diferentes áreas da propriedade, orientando a aplicação localizada de fertilizantes e corretivos. Essa precisão evita desperdícios, melhora a eficiência do uso de insumos e favorece a saúde do solo a longo prazo.

Já os sistemas de irrigação estão se tornando mais inteligentes e sustentáveis. Sensores de umidade, imagens de satélite e dados climáticos são integrados em plataformas automatizadas que regulam o uso da água de forma precisa, contribuindo para a conservação dos recursos hídricos, um tema cada vez mais sensível.

No campo da mecanização, a presença da IA também é crescente. Tratores e pulverizadores equipados com sistemas autônomos são capazes de operar com mínima interferência humana, ajustando em tempo real a quantidade ideal de sementes, fertilizantes e defensivos, conforme as condições do solo e do ambiente. Isso representa um salto importante em produtividade e redução de perdas operacionais.

A estimativa da produtividade também passou a ser mais assertiva. Ferramentas baseadas em inteligência artificial utilizam imagens aéreas, dados genéticos das plantas e condições ambientais para prever o rendimento das lavouras com antecedência, auxiliando no planejamento estratégico das operações.

Por fim, a própria gestão da colheita tem se beneficiado dessas inovações. Sistemas que analisam a maturação dos frutos, os níveis de umidade do solo e a previsão do tempo ajudam a determinar o momento ideal para colher, garantindo melhor aproveitamento da produção e evitando perdas por intempéries.

Além de contribuir significativamente para o aumento da produtividade, a IA se destaca como uma aliada estratégica na promoção de práticas agrícolas mais sustentáveis - um tema de grande relevância para o Brasil. O país abriga cerca de 20% da biodiversidade global e responde por mais de 8% das exportações agrícolas mundiais. Equilibrar produção e conservação ambiental é, portanto, um desafio urgente. Entre as práticas sustentáveis viabilizadas pela IA, destacam-se a redução no uso de defensivos e fertilizantes, por meio da aplicação localizada; a economia de água com sistemas de irrigação inteligentes; o mapeamento e a preservação de áreas de vegetação nativa; o monitoramento do desmatamento e a regeneração de áreas degradadas; além da melhoria nas condições de trabalho no campo, com a automação de tarefas repetitivas ou insalubres.

O agronegócio faz uso, cada vez mais, da integração de múltiplas tecnologias. Com sua extensa biodiversidade e papel estratégico na produção de alimentos, o Brasil se destaca nesse cenário e a inteligência artificial já desempenha um papel essencial nessa transformação, trazendo inovações sustentáveis, para um setor que historicamente busca maior produtividade e eficiência. É importante destacar ainda o programa de patentes verdes, que visa acelerar o exame dos pedidos de patentes relacionados a tecnologias voltadas para o meio ambiente, vem desempenhando um papel fundamental para proteger inovações, promovendo o desenvolvimento de tecnologias sustentáveis que beneficiem o meio ambiente.

Apesar dos avanços, a implementação da IA no campo brasileiro ainda enfrenta obstáculos importantes, desde limitações estruturais até barreiras culturais. A falta de conectividade nas áreas rurais é um dos principais entraves: muitas propriedades não têm acesso estável à internet de alta velocidade - fundamental para tecnologias baseadas em dados e monitoramento remoto. Segundo a Anatel, mais de 40% das propriedades agrícolas brasileiras ainda não contam com conexão adequada para suportar soluções baseadas em IA.

Outro desafio é a capacitação técnica. A operação dessas ferramentas exige conhecimento especializado para interpretar relatórios gerados por algoritmos e ajustar estratégias de cultivo. Sem treinamento adequado, muitos recursos acabam sendo subutilizados ou abandonados. Além disso, há uma resistência cultural por parte de produtores acostumados a métodos tradicionais, especialmente frente aos custos iniciais e à complexidade percebida das novas tecnologias.

A revolução digital no campo não é mais uma tendência, é uma realidade em construção. Por isso, é fundamental combinar políticas, investimentos em infraestrutura e capacitação técnica com o fortalecimento de uma cultura de inovação e proteção intelectual. O uso estratégico das patentes nesse contexto de desenvolvimento não apenas agrega valor às soluções tecnológicas desenvolvidas no Brasil, mas também impulsiona a competitividade e o protagonismo do agronegócio brasileiro.

A IA tem potencial para posicionar o Brasil como referência em agricultura de precisão e inovação sustentável. Para isso, é necessário que sejam realizados investimentos na expansão da conectividade rural, em políticas públicas de incentivo à inovação no campo, na capacitação de profissionais, no desenvolvimento de agtechs e no fortalecimento dos ecossistemas de inovação voltados ao agro.

Millena Lourenço

Millena Lourenço

Especialista de Patentes da Daniel Advogados.

Karoline Coelho

Karoline Coelho

Especialista de Patentes da Daniel Advogados.

AUTORES MIGALHAS

Busque pelo nome ou parte do nome do autor para encontrar publicações no Portal Migalhas.

Busca