O múnus reitoral exige sinceridade, lealdade, ética, legalidade e simplicidade
A análise mostra que a sucessão de gestores na USP não garantiu continuidade, revelando desmonte e uso de lawfare na gestão 2014/2018.
sexta-feira, 28 de novembro de 2025
Atualizado às 14:29
Pesquisando-se os reitores vice-reitores e pró-reitores das quatro últimas gestões reitorais da Universidade de São Paulo, a partir de 2010, nota-se certa continuidade e progressão de dirigentes, que vieram a participar, também, de gestões subsequentes. O reitor, o vice-reitor e uma pró-reitora do quadriênio 2014/2018, tinham participado da gestão imediatamente anterior. O reitor, na gestão 2018/2022 havia sido pró-reitor na minha gestão - 2010/2014 - e vice-reitor no quadriênio 2014/2018. Por seu turno, a gestão 2022/2026, prestes a findar-se, tem por reitor um professor, que havia sido pró-reitor na gestão 2018/2022; e como vice-reitora, uma professora que havia sido pró-reitora nas gestões 2010/2014 e 2014/2018. Para terminar, dentre os atuais candidatos a reitor(a), um foi vice reitor executivo no quadriênio 2010/2014 e outra ocupou uma pró-reitoria na gestão 2022/2026.
Permanência não significou continuidade.
A certa permanência de dirigentes, acima exposta, faz pressupor que a necessária continuidade exigida de uma pessoa jurídica, como a USP, teria sido resguardada. Entretanto não foi o que sucedeu, pelo menos com relação à gestão 2014/2028: que (i) levou a cabo um desmonte da gestão anterior.; e (ii) utilizou-se de lawfare contra professores e funcionários, tidos como próximos ao reitor anterior.
Desmonte
O desmonte, estilo "terra arrazada", paralizou, praticamente, todas as obras em curso, inclusive as próximas de seu término (Ver artigo "A propósito da escolha de chapa reitoral para gerir a USP de 2026/2030"). Promoveu, também, a retirada de bens de alta monta, doados para guarnecer o prédio da reitoria, cujo amplo "retrofit" acabara de ser concluído.
A justificative apontada - "a crise financeira" de finais de 2013 e parte de 2014, - causada pela diminuição arrecadatória do ICMS, principal fonte de financiamento da universidades públicas paulistas, não procede, pois havia no caixa da Universidade cerca de quatro bilhões de reais, reservados para fazer face aos compromissos assumidos e para contingências. Essa crise do ICMS, como as similares anteriores foi temporária. Entretanto, mesmo sobrevindo a normalidadea arrecadatória do ICMS, sequer as obras estratégicas foram retomadas!
Lawfare
Os processos contra professores e funcionários nem sempre se basearam em conclusões de sindicâncias prévias e quando o faziam, as extrapolavam grandemente; as portarias reitorais que os iniciavam, faziam afirmações peremptórias, verdadeiros prejulgamentos ("causou lesões graves aos cofres públicos"); as penalidades indicadas, invariavelmente, eram as mais severas (pena de demissão a bem do serviço público, cassação de aposentadoria ou disponibilidade); além de, muitas vezes, indicar membros da comissão processante despojados dos pressupostos legais para tanto.
Essa utilização maciça e desmedida de procedimentos, judiciais e administrativos, (lawfare), na prática, não resultou em condenações definitivas; demonstrando, dessa maneira, ter-se tratado de perseguição pessoal; que acabou por desabonar o reitor que os iniciou. Aliás, este foi censurado eticamente, por unanimidade, em maio de 2016, pela Comissão Geral de Ética do Estado de São Paulo, por falta de imparcialidade e desvio de finalidade.
Virtudes necessárias
Por serem humanas, todas as gestões reitorais são passíveis de acertos e erros (obviamente, reconheço vários acertos em todas as gestões s posteriores à minha.) Cabe a cada gestão reitoral fazer o possível, dentro das circunstâncias que se apresentam para que haja progresso paulatino da Universidade. Entretanto, é, absolutamente desconstrutivo: (i) tentar ser "salvador da pátria" ou "refundador da Universidade"; (ii) provocar rupturas bruscas e profundas; (iii) ser insincero e desleal para com a Universidade (pois as pessoas físicas que a gerem a personificam).
Convivi com todos os participantes das atuais chapas reitorais e os avalizo, plenamente! Cumprimento a todos(as), desejando-lhes bom final de campanha. À chapa que vier a ganhar, lembro que o múnus reitoral "é servir, não ser servido"; que professores(as) e funcionários(as) são igualmente importantes; e que sinceridade, lealdade, ética, legalidade e simplicidade devem ser bandeiras permanentes.



