Por que quase 80% das famílias brasileiras estão no vermelho?
Com juros altos e crédito fácil, a bola de neve da dívida cresce - e a solução passa por consciência financeira e fiscalização rigorosa.
quinta-feira, 11 de dezembro de 2025
Atualizado às 08:39
Em 2025, um número alarmante: cerca de 79,5% das famílias brasileiras relataram possuir alguma dívida a vencer - o maior índice desde o início da série histórica da CNC - Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo.
A esse dado soma-se o alerta de outra pesquisa que aponta que 43,1% da população adulta já possui débitos atrasados - um quadro de inadimplência e vulnerabilidade financeira que se alastra por todas as classes sociais.
O primeiro fator desse cenário é óbvio: o acesso facilitado ao crédito. Cartões, cheques, carnês, empréstimos - modalidades que viraram rotina. Mas o consumo desenfreado, combinado com a alta dos juros e a inflação persistente, transformou compras supérfluas em ciladas financeiras. Com a renda pressionada, muitos acabam usando de crédito como "salva-vidas".
Além disso, há uma enorme fragilidade no arcabouço de proteção ao consumidor e transparência bancária. Cobranças abusivas, juros compostos mal explicados, falta de clareza nos contratos e práticas de renovação automática são parte do que vemos - e que empurra famílias para o ciclo do endividamento. Como advogada especializada em direito bancário e fraudes, noto que muitos casos de superendividamento envolvem exatamente violações desses deveres de informação e equilíbrio contratual.
A saída exige um tripé: (1) educação financeira verdadeira - não aquela "dica de planilha" genérica, mas orientação concreta sobre crédito, juros e planejamento familiar; (2) fiscalização e responsabilização rigorosa dos bancos, cobrando transparência e corrigindo abusos; (3) renegociação justa e consciente da dívida, priorizando a dignidade do consumidor.
Se o sistema continuar vulnerável e as famílias sem respaldo, o resultado é uma espiral de dívidas para gerações. Urge uma mudança - para evitar que o crédito, tão defendido como motor do consumo, se transforme em armadilha permanente.


