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A evolução das investigações internas nas empresas brasileiras

Programas de compliance e canais de denúncia fortalecem integridade, reduzem riscos e transformam custo em valor estratégico.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

Atualizado em 9 de dezembro de 2025 14:22

O ambiente de negócios brasileiro vive uma transformação estrutural em governança corporativa, na qual investigações internas e canais de denúncia - também conhecidos como mecanismos de whistleblowing - deixam de ser percebidos apenas como custos regulatórios e passam a ser reconhecidos como ferramentas essenciais de gestão de riscos e integridade corporativa. O termo em inglês significa literalmente "soar o apito" e remete à importância dos alertas sobre irregularidades, fraudes ou violações de compliance dentro de uma organização. Casos emblemáticos, como o escândalo da Enron nos Estados Unidos, ilustram de forma clara a relevância de programas robustos de denúncia e de políticas eficazes de proteção a colaboradores que reportam desvios. Empresas que dominam esses mecanismos reduzem riscos operacionais, evitam sanções e fortalecem sua reputação no mercado.

Organizações com programas efetivos de compliance enfrentam menos investigações regulatórias e obtêm tratamento mais favorável em processos. No Brasil, marcos como a lei anticorrupção (lei 12.846/13) e a lei das estatais (lei 13.303/16) estabeleceram padrões que influenciam crescentemente empresas privadas, especialmente aquelas com contratos governamentais ou em setores regulados.

A condução técnica de investigações internas exige equilíbrio entre efetividade e proteção de direitos, com elementos essenciais como equipe qualificada com advogados especializados, preservação adequada de documentos e condução criteriosa de entrevistas. Nesse contexto, canais de denúncia eficazes representam sistema de inteligência corporativa que detecta riscos antes que se transformem em crises. Uma denúncia bem processada pode evitar escândalos que custam décadas de construção reputacional.

Para garantir efetividade, a confidencialidade dos dados deve ser assegurada por protocolos rigorosos, atendendo às exigências da LGPD. Vazamentos de dados pessoais podem expor empresas às sanções previstas na LGPD, que incluem multas de até 2% do faturamento anual. Paralelamente, políticas claras de não-retaliação atraem profissionais éticos e reduzem turnover, enquanto filtros adequados contra denúncias infundadas mantêm a credibilidade do sistema.

A cooperação com o Ministério Público representa oportunidade de transformar problemas em vantagens. Empresas que compartilham informações de forma proativa obtêm acordos de leniência mais favoráveis e reduzem o tempo de investigação. Contudo, essa cooperação exige conhecimento especializado, pois informações protegidas por privilégio advogado-cliente não podem ser compartilhadas indiscriminadamente. Protocolos específicos para interação com autoridades evitam armadilhas processuais.

A experiência de mercados maduros demonstra que sistemas bem estruturados tendem a gerar retorno positivo em médio prazo, reduzindo custos regulatórios e fortalecendo posicionamento competitivo. No Brasil, onde a cultura de compliance se consolida, o pioneirismo responsável é um diferencial estratégico valioso. Empresas que investem hoje em transparência controlada estarão melhor posicionadas quando novos marcos regulatórios tornarem essas práticas obrigatórias.

O futuro empresarial será determinado pela capacidade de transformar compliance de custo em investimento. Investigações internas e whistleblowing, quando bem implementados, criam valor sustentável para acionistas e stakeholders.

Antônio Silvério Neto

Antônio Silvério Neto

Advogado atuante há mais de 7 anos na área criminal, com foco no consultivo e contencioso criminal, notadamente em casos de grande complexidade, principalmente operações dos órgãos policiais. Especializado em manejo de Habeas Corpus e manejo de recursos perante os Tribunais Superiores. Consultor jurídico para compliance criminal empresarial e ESG (Environmental, Social and Governance). Graduado em Direito e pós-graduado em Direito Penal e Criminologia pela PUC-RS.

André Coura

André Coura

Graduado e Mestre em Direito pela Universidade FUMEC (MG). Com intensa atuação, há mais de 14 anos, no consultivo e contencioso estratégicos para pessoas e negócios, em projetos de compliance criminal e investigações e processos criminais de alta complexidade, especialmente, perante os Tribunais Superiores e envolvendo a matéria penal econômica, financeira e empresarial.

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