Juridiquês - DPE
Dicionário de Péssimas Expressões
De bom alvitre
É uma expressão vetusta, ainda utilizada em contextos formais ou literários, para se referir a algo considerado uma boa escolha ou apropriado. "Alvitre" vem do latim "arbitrium", que significa "conselho", "proposta" ou "sugestão". Machado de Assis faz uso frequente do substantivo. Uma passagem notável, que dispensa apresentações, é: "Capitu temia a nossa separação, mas acabou aceitando este alvitre, que era o melhor." Rui Barbosa também o empregou mais de quatrocentas vezes. Em uma passagem, bem a seu estilo, ele disse: "Se lhe repugna o alvitre, faça da necessidade virtude." Embora ambos os imortais tenham usado o substantivo isoladamente, segundo nos parece, nunca utilizaram a expressão "de bom alvitre", que significa que é prudente ou recomendável. Esta expressão foi usada, talvez pela primeira vez, pelo Visconde do Rio Branco, num debate parlamentar em 15 de julho de 1874. O pai do Barão do Rio Branco teria dito, em resposta ao Senador Zacarias: "Acompanho, portanto, o nobre senador nessa dúvida; entendo que seria de bom alvitre devolver o projeto à comissão respectiva, para que, ouvido o nobre ministro da Justiça, nos dê um parecer completo." Desde então, tornou-se comum dizer, por exemplo, que "seria de bom alvitre verificar os detalhes antes de assinar o contrato", sugerindo que é sensato fazer uma revisão antes de se comprometer. A ministra Cármen Lúcia já usou a expressão: "Nessa toada, é de bom alvitre citar o teor do art. 102, § 2º da Constituição Federal" (AR 2928); assim como a ministra Maria Thereza de Assis Moura: "É de bom alvitre que o STF analise esse caso" (REsp 1.468.224). Para simplificar, seria - com o perdão da ironia - de bom alvitre substituir a expressão por "aconselhável", "prudente", "recomendável" ou "apropriado". Apenas evite usar coloquialismos como "boa pedida" ou "cai bem" em contextos formais.