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Henfil do Brasil

Mostra revela o rudimentar método de trabalho de cartunista

Da Redação

segunda-feira, 11 de abril de 2005

Atualizado às 09:48

 

Henfil do Brasil

 

Mostra revela o rudimentar método de trabalho de Henfil

 

A revista IstoÉ desta semana (n° 1852) traz matéria sobre Henrique de Souza Filho, Henfil, um cartunista mineiro que coloriu o Brasil em uma época negra com traço caligráfico e o humor corrosivo.

 

A primeira retrospectiva da obra de Henfil (1944-1988) estará aberta ao público no Centro Cultural Banco do Brasil, RJ, a partir do próximo dia 19. A exposição conta com 501 originais entre revistas, gibis, tiras, peças gráficas, cartazes e até um convite de casamento e um aviso de nascimento.

 

A mostra revela o rudimentar método de trabalho de Henfil, que primeiro fazia a história em preto-e-branco, depois tirava xerox e as coloria com lápis de cor em fases que poderiam incluir papel-manteiga colado nas pontinhas do original. O acervo pertence ao único filho do cartunista, Ivan Cosenza de Souza, e a curadoria é de Julia Peregrino e Paulo Sergio Duarte.

 

Ivan diz que os trabalhos são atuais "não porque os problemas do Brasil são os mesmos, mas pelo jeito de Henfil ir a fundo nas questões". Para a curadora Julia, foi um desafio selecionar as peças: "Nosso critério foi a expressividade dos personagens e a piada." E Jaguar, cartunista, oferece o melhor motivo para que ninguém perca a exposição: "Idiotas, já conheci milhares. Talentos, muitos. Grandes talentos, poucos. Gênios, só dois, Garrincha e Henfil".

 

Migalhas, que tem em seu arquivo grande espaço destinado ao cartunista, relembra um trabalho de Henfil, publicado na revista Fradim 13, página 15. A charge comprova que as críticas são, e muito, atuais.

 

 

Confira outras charges do cartunista.

 

 

 

 

 

 

 

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Biografia

 

Henrique de Souza Filho ou Henfil, como era conhecido o desenhista, jornalista e escritor, nasceu a 5/2/1944, em Ribeirão das Neves/MG, e cresceu na periferia de BH, onde frequentou o Colégio Arnaldo da Ordem do Verbo Divino, um curso supletivo noturno e um curso superior de Sociologia, que abandonou depois de dois meses. Henfil morreu no RJ, em 4/1/1988, com 43 anos. Era hemofílico e contraiu Aids através de uma transfusão de sangue, mas sempre teve uma saúde bastante delicada, assim, como seus dois irmãos (Herbert de Souza, o Betinho, e Francisco Mário) também hemofílicos. Além deles, Henfil tinha mãe e mais cinco irmãs.

 

Foi embalador de queijos, "boy" de agência de publicidade e jornalista, até especializar-se, no início da década de 60, em ilustração e produção de histórias em quadrinhos, tornando-se conhecido nacionalmente, a partir de 1969, quando passou a colaborar no "Pasquim", lançando em 1970 a revistinha "Os Fradinhos", ou apenas "Fradins". Suas tiras foram posteriormente divulgadas em vários países, do mundo sob o título "The Mad Monks", mas a experiência durou pouco, pois seus personagens foram considerados doentios.

 

Foi em 1964 o início da carreira de cartunista e quadrinhista Henfil. Deu-se na Revista Alterosa de Belo Horizonte, a convite do editor e escritor Robert Dummond, local que originalmente "Os Fradinhos". Em 1965, começou a fazer caricatura política para o Diário de Minas, em 1967, fez charges esportivas para o Jornal dos Sports do Rio de Janeiro, colaborando ainda nas revistas Visão, Realidade, Placar e o Cruzeiro. A partir de 1969, fixou-se no semanário Pasquim e no Jornal do Brasil, onde seus personagens atingiram um nível de popularidade pouco comum em termos de Brasil.

 

A produção de histórias em quadrinhos e cartuns do mineiro Henfil já possuía então sua marca registrada: um desenho humorístico político, crítico e sátiro, com personagens tipicamente brasileiros.

 

Após uma década de trabalho no Rio de Janeiro, Henfil mudou-se para Nova York, onde passou dois anos em tratamento de saúde e de onde resultou seu livro "Diário de um Cucaracha". De volta ao Brasil residiu algum tempo no Rio e depois em Natal/RN, retornando novamente ao Rio de Janeiro.

 

Além das histórias em quadrinhos e cartuns de estilo inconfundível, Henfil realizou, também, uma peça de teatro - "A Revista do Henfil" (em co-autoria com Oswaldo Mendes); escreveu, dirigiu e atuou no filme "Tanga - Deu no New York Times", teve uma incursão na televisão com o quadro " TV Homem", do programa "TV Mulher", na Rede Globo de Televisão. Como escritor, publicou ainda sete livros. São eles: "Hiroxima, meu humor", "Diário de um cucaracha", (1976), "Dez em humor" (coletiva, em 1984), "Diretas já " (1984) e "Henfil na China", 'Fradim de Libertação" (1984), "Como se faz humor político". (1984).

 

Henfil destacou-se, também, pela sua participação na política do país, devido ao seu engajamento na resistência contra a ditadura, pela democratização do país, pela anistia aos presos políticos e pelas Diretas Já.

 

Henfil teve um papel importante na história dos quadrinhos brasileiros: na renovação do desenho humorístico nacional; na criação de personagens típicos brasileiros, como "Os fradinhos", o "Capitão Zeferino", a "Graúna", e "Bode Orelana", entre outros - fazendo um quadrinho da descolonização, em uma época que isto era exceção, já que os quadrinhos nacionais tinham seu desenvolvimento sufocado pela distribuição dos quadrinhos norte-americanos pelo mundo inteiro; por seu combativo e alegórico humor gráfico brasileiro, fazendo da crítica uma arma de resistência e combate ao sistema político do país.

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