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Centenário de nascimento da escritora Rachel de Queiroz

Quinta ocupante da Cadeira 5, eleita em 4 de agosto de 1977, na sucessão de Candido Motta Filho e recebida pelo Acadêmico Adonias Filho em 4 de novembro de 1977.

Da Redação

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Atualizado às 15:24


A primeira imortal

Centenário de nascimento da escritora Rachel de Queiroz

Hoje (17/11) a escritora e jornalista Rachel de Queiroz completaria 100 anos.

Rachel nasceu em Fortaleza/CE, era filha de Daniel de Queiroz e de Clotilde Franklin de Queiroz, descende, pelo lado materno, da família do também escritor José de Alencar (clique aqui), e, pelo lado paterno, dos Queiroz, família de raízes profundamente lançadas no Quixadá, onde seu pai era juiz de Direito.

"[...] tento, com a maior insistência, embora com tão precário resultado (como se tornou evidente), incorporar a linguagem que falo e escuto no meu ambiente nativo à língua com que ganho a vida nas folhas impressas. Não que o faça por novidade, apenas por necessidade. Meu parente José de Alencar quase um século atrás vivia brigando por isso e fez escola."

Segundo o site Releituras, em 1913, sua família volta para Fortaleza, devido a nomeação de seu pai para o cargo de promotor. Após um ano no cargo, ele pede demissão e vai lecionar Geografia no Liceu. Dedicando-se também à educação de Rachel, ensinando-a a ler, cavalgar e a nadar. Aos cinco anos a escritora leu "Ubirajara", de Alencar, "obviamente sem entender nada", como a autora gosta de frisar.

Em 1917, foi para o Rio de Janeiro, em companhia dos pais que procuravam, nessa migração, fugir seca que assolou o Ceará em 1915, que mais tarde a romancista iria aproveitar como tema de "O quinze", seu livro de estreia. No Rio, a família Queiroz pouco se demorou, viajando logo a seguir para Belém do Pará, onde residiu por dois anos.

Vida literária

Sua estreia aconteceu em 1927, com o pseudônimo de Rita de Queluz, publicando trabalho no jornal O Ceará, de que se tornou redatora efetiva.

Em fins de 1930, publicou o romance "O quinze", que teve inesperada e funda repercussão no Rio de Janeiro e em São Paulo. Com vinte anos apenas, projetava-se na vida literária do país. O livro, editado às custas da autora, apareceu em modesta edição de mil exemplares, impresso no Estabelecimento Gráfico Urânia, de Fortaleza. Recebeu crítica de Augusto Frederico Schmidt, Graça Aranha, Agripino Grieco e Gastão Gruls. A consagração veio com o Prêmio da Fundação Graça Aranha.

Em 1932, publicou um novo romance, intitulado "João Miguel", e em 1937, retornou com "Caminho de pedras". Dois anos depois, conquistou o prêmio da Sociedade Felipe de Oliveira, com o romance "As três Marias". Em 1950, publicou em folhetins, na revista O Cruzeiro, o romance "O galo de ouro".

Conforme informações do site da Academia Brasileira de Letras, Rachel era cronista emérita, publicou mais de duas mil crônicas, cuja seleta propiciou a edição dos seguintes livros : A donzela e a moura torta ; 100 Crônicas escolhidas ; O brasileiro perplexo e O caçador de tatu. No Rio, onde passou a residir à partir de 1939, colaborou no Diário de Notícias, em O Cruzeiro e em O Jornal. Tem duas peças de teatro, Lampião, escrita em 1953, e A Beata Maria do Egito, de 1958, laureada com o prêmio de teatro do Instituto Nacional do Livro, além de O padrezinho santo, peça que escreveu para a televisão, ainda inédita em livro. No campo da literatura infantil, escreveu o livro O menino mágico, a pedido de Lúcia Benedetti. O livro surgiu, entretanto, das histórias que inventava para os netos. Dentre as suas atividades, destaca-se também a de tradutora, com cerca de quarenta volumes já vertidos para o português.

O ingresso na ABL

Em 77, Rachel de Queiroz venceu o jurista Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda e torna-se a primeira mulher a ser eleita para a Academia Brasileira de Letras. Rachel passa a ocupar a cadeira número 5, fundada por Raimundo Correia, tendo como patrono Bernardo Guimarães e ocupada sucessivamente pelo médico Oswaldo Cruz, o poeta Aluísio de Castro e o jurista, crítico e jornalista Cândido Mota Filho (clique aqui).

Em seu discurso, Rachel exaltou o seu antecessor, que foi advogado, jornalista, político, professor :

"Cândido Motta Filho. Numa vida que, em termos humanos, pode considerar-se longa - quase oitenta anos - esse paulista inquieto fez de tudo e tudo fez bem, quer no plano intelectual, quer no político, quer no social. E se em todas essas atividades saiu-se com singular felicidade, é que recebera de nascimento dotes acumulados, sobressaindo entre eles aquela clara inteligência a par de um largo e muito humano coração.

Acompanhando-o na sua rica biografia, vemo-lo, mal saído da Faculdade de Direito, na posse do seu canudo de bacharel, tratar logo de ir diversificando os seus interesses; e ei-lo advogado, jornalista, político, professor.

E curioso é que, durante a vida inteira, se manteve fiel a esse leque de vocações. Fiel, exímio e vitorioso: o advogado e jurista chegando a Ministro do Supremo Tribunal Federal; o jornalista que começara escrevendo uma coluna judiciária e simultaneamente dirigindo a página de literatura da mesma folha, prosseguindo jornalista e literato até os dias finais, morrendo como membro da Academia Brasileira de Letras.

Político: o moço que se fizera eleger juiz de paz do bairro paulistano de Santa Cecília, atingiu a presidência do seu partido, o Partido Republicano. Note-se que, nesse ramo da política, a sua fé de ofício bastaria para encher com lustro mais de uma biografia.

Moço, foi auxiliar da cúpula do governo quando os seus detinham o poder, foi deputado estadual constituinte. Entre uma atividade e outra sentou praça nas hostes dos que fizeram a revolução constitucionalista de 1932, opondo-se de armas na mão à primeira fase da ditadura de Vargas.

Com o governo Dutra chegou a Ministro do Trabalho. E no governo Café Filho ocupou outra pasta, esta bem consentânea com os seus interesses e atividades mais autênticos - a pasta da Educação e Cultura.

Professor, iniciou-se na carreira de mestre no Patronato Agrícola do Estado; e, de escola em escola, alcançou a cátedra de Direito Constitucional, na gloriosa Faculdade de Direito de São Paulo.

Um outro apaixonado interesse de Cândido Motta Filho foi o problema, ou antes, o drama do menor abandonado. Aquele humano e grande coração em que falei acima muito cedo se voltou para esse tema angustiante, manifestando-se quer em estudos muito acurados, quer em ação direta. Na prática, envolveu-se de modo nada platônico, tendo chegado a Diretor do Serviço de Proteção de Menores do seu Estado.

Na teoria, além de vários escritos dispersos, publicados na imprensa, foi o autor de um livro importante, A defesa da infância contra o crime.

Mas não foi como jurista, nem como sociólogo, nem como homem de Estado, nem como jornalista de longo tirocínio - não foi por nenhum desses títulos exponenciais que Cândido Motta Filho entrou nesta Casa. Títulos que sobejamente lhe garantiriam o ingresso aqui - como a vários outros ilustres companheiros..."

Participou da 21ª Sessão da Assembleia Geral da ONU, em 66, onde serviu como delegada do Brasil, trabalhando especialmente na Comissão dos Direitos do Homem. Em 88, iniciou sua colaboração semanal no jornal O Estado de S. Paulo e no Diário de Pernambuco. Queiroz foi membro do Conselho Federal de Cultura, desde a sua fundação, em 1967, até sua extinção, em 1989.

Em 2000, foi eleita para o elenco dos "20 Brasileiros empreendedores do Século XX", em pesquisa realizada pela PPE (Personalidades Patrióticas Empreendedoras).

A escritora faleceu no Rio de Janeiro/RJ perto do seu aniversário de 93 anos, em 4 de novembro de 2003.

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Fonte : Academia Brasileira de Letras e Releituras

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