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Ato em SP cobra investigação das denúncias de corrupção

Da Redação

quinta-feira, 8 de setembro de 2005

Atualizado às 08:53


Ato em SP cobra investigação das denúncias de corrupção

Foi uma manifestação diferente das que tradicionalmente ocupam as ruas do centro da capital paulista. Os dois carros de som se limitaram, às vésperas do 7 de Setembro, a tocar o Hino da Independência do Brasil. Da Praça da Sé até as escadarias do Teatro Municipal, cerca de duas mil pessoas - para a organização foram quinze mil - caminharam em silêncio para mostrar sua indignação diante das denúncias de corrupção. Ao lado dos manifestantes da Força Sindical - dezenas de sindicatos engordaram o protesto da manhã de terça-feira - perfis raros em se tratando de atos públicos: empresários, desembargadores, juízes, advogados, médicos, senhoras da classe média alta paulistana e estudantes de faculdades privadas. Entre os políticos, puxaram a marcha os deputados Alberto Goldman (PSDB-SP), Zulaiê Cobra (PSDB-SP) e José Carlos Aleluia (PFL-BA) e Walter Feldman (PSDB), que também é secretário de Subprefeituras de São Paulo.

Organizada, além da Força Sindical, pela CGT (Confederação Geral dos Trabalhadores), OAB-SP, Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo, Associação Paulista dos Magistrados, Fiesp, Ciesp e Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas, entre outras, a manifestação nasceu, nas palavras do presidente da OAB-SP, Luiz Flávio Borges D'Urso, para ser um marco na luta da sociedade brasileira pela ética na política.

"Hoje vimos toda a sociedade junta. Essa é uma demonstração da sociedade civil, numa passeata em silêncio onde a atitude disse tudo. Nós vamos continuar articulados, acompanhando e cobrando uma investigação profunda dentro da lei, punindo quem precisa ser punido, para que possamos virar esta página e em breve colocar o Brasil de volta ao trilho abençoado da democracia, opção da nação brasileira", declarou D'Urso, após ler um manifesto assinado pelas entidades presentes e redigido pelo presidente da Associação Paulista de Magistrados, Celso Limongi.

O texto critica o financiamento ilegal de campanhas eleitorais e a lentidão no andamento das apurações nas três CPIs, além de acusar membros do governo e do Poder Legislativo de prejudicarem as investigações. Guilherme Afif Domingos, da Federação das Associações Comercias do Estado de São Paulo, chegou a apontar a Polícia Federal e o Ministério Público, que "parece que tem um procurador que não procura nada", disse.

"Nós temos ouvido aqui e acolá denúncias de um possível acordão para afastar a punição dos responsáveis. A nossa mobilização é um recado às autoridades que têm essa responsabilidade. A sociedade não aceita nenhum retrocesso nesta trajetória de apuração profunda de busca da verdade pra punir quem precisa ser punido neste país", disse o presidente da OAB-SP. "A lei é igual pra todos, desde o mais anônimo dos brasileiros até o presidente da República. Se qualquer um infringir a lei, tem que responder. Nossa posição é de vigilância. Se houver qualquer tentativa neste sentido, a nação vai reagir. A sociedade volta às ruas, se necessário vai à Justiça", avisou.

Para os organizadores do ato, não faltam documentos para fundamentar inquéritos e julgamentos. Além disso, uma das preocupações centrais dos setores que caminharam em silêncio na manhã desta terça é com o andamento da economia do país.

"O governo está paralisado há quase quatro meses. O Congresso também. Portanto, mais cedo ou mais tarde a economia será afetada. O orçamento da União não é executado, interrompendo os benefícios dos programas sociais à população mais necessitada. Precisamos de um projeto de nação e não de tomada e aparelhamento do poder", diz o texto do manifesto. "Não há outro meio: reduzir os juros, renegociar a dívida pública sem desrespeitar contratos e executar o orçamento da União com responsabilidade fiscal. Exausta de promessas não cumpridas, a nação exige transparência e ética na política e nas relações do Estado com a sociedade civil. Exige desenvolvimento e emprego, justiça social. Nossa manifestação hoje, na véspera do dia da independência, se expressa por um indignado silêncio. Um silêncio da vergonha", conclui o documento.

Pizza e "Fora Lula"?

Em meio aos indignados que colocaram um nariz de palhaço no ato contra a corrupção, um senhor vestido de pizzaiolo chamava a atenção. Ele distribuía pedaços de pizza em cartolina. No verso, frases como "Não agüento mais tanta corrupção, tanta palhaçada, toda essa impunidade e hipocrisia". "Cidadão, se mais uma vez acabar em pizza, a culpa é sua!". O tal pizzaiolo é o empresário Oscar Maroni Filho, dono do Bahamas, uma das casas de prostituição de luxo de São Paulo. Segundo reportagem publicada na revista IstoÉ, por lá circulam todas as noites políticos, empresários, artistas e jogadores de futebol. Maroni também possui os direitos de distribuição de versões brasileiras das revistas eróticas Penthouse e Hustler, do polêmico Larry Flynt, faturando R$ 13 milhões por ano. Maroni já respondeu a cinco processos por manter a casa de prostituição. E foi preso duas vezes. "Já transei com mais de 1.500 mulheres desde que comecei a trabalhar na noite", declarou à IstoÉ. Além das revistas e da boate, Maroni tem uma fazenda de 700 alqueires em Araçatuba, no interior de São Paulo, com 5.700 cabeças de gado.

Em outro canto da Praça Ramos, onde terminou a manifestação, um grupo de estudantes de Direito, da faculdade Faap (Fundação Armando Álvares Penteado), também chamava a atenção. Com caras pintadas e palavras de ordem na linha "Fora Lula!", eles se amontoavam atrás do deputado Fernando Gabeira, que compareceu ao final do ato, para aparecer nas fotos da imprensa. Pouco tempo antes, quando começou a chover no centro da cidade, as futuras advogadas, algumas de salto, correram com caixas de pizza na cabeça. Segundo elas mesmo disseram, o problema era que a água forte que caía iria estragar a chapinha feita nos cabelos. Certamente, a manifestação desta terça foi um marco na luta da sociedade brasileira pela ética na política.
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