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José Alberto da Silva: os olhos por trás da lente do STJ

Conheça a trajetória e as impressões do homem que clicou figuras marcantes do meio político e jurídico.

Da Redação

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Atualizado em 6 de janeiro de 2016 14:01

"A fotografia é o que eu amo. Sou capaz de fotografar até de graça, só para ver o resultado. A fotografia é luz, é ação, é história. E a história não se repete."

De Quixadá, cidade no interior do Ceará, para a capital Federal. Sete dias de viagem de ônibus e uma mudança no destino final que marcaram a vida de José Alberto da Silva, fotógrafo profissional há 53 anos e, atualmente, os olhos por trás da lente do STJ.

Ao longo de sua trajetória profissional, Zé - como é carinhosamente conhecido pelos colegas do Tribunal da Cidadania - foi responsável por registrar momentos que transformaram a história do país e figuras marcantes do meio político e jurídico como Juscelino Kubitschek e Djaci Falcão.

Com um vasto currículo moldado por experiências em instituições públicas e privadas, José Alberto passou por importantes redações de Brasília como a Radiobrás, Correio Brasiliense, O Globo, Agência Nacional - hoje EBC - e Jornal do Brasil, além de vários ministérios, e acumulou muitas memórias marcantes.

Voos mais altos

A paixão pelas máquinas e imagens ganhou o coração do então menino aos oito anos de idade, quando acompanhava o pai - "lambe-lambe" da região - pelo interior cearense, carregando uma câmera e um tripé de madeira em cima de uma burra. "Aos trezes eu já fotografava profissionalmente. Fazia alguns casamentos, batizados e até velórios. Tinha que subir em um banquinho para tirar as fotos."

Após concluir o Ensino Médio, decepcionado com a falta de oportunidades em sua cidade natal, José Alberto decidiu que era hora de seguir um novo caminho: São Paulo era o destino final. "Eu vinha em um ônibus e conheci um colega de poltrona que me disse: 'tu vai pra onde?'; eu então respondi: 'to indo pra São Paulo' - 'não, rapaz, vamos pra Brasília, você vai gostar'." O jovem, então, mudou sua rota e foi parar na capital Federal, terra da oportunidade, segundo o novo amigo, em dezembro de 1967.

Encontrar um trabalho e se sustentar na cidade não foi tarefa fácil. José Alberto precisou enfrentar percalços como dormir de favor na portaria de um prédio até conseguir uma chance de provar seu talento. Foi como auxiliar de fotógrafo no estúdio Stuckert Press que ele começou a alçar voos mais altos.

"Um senhor chamado Roberto Stuckert gostou do meu trabalho e me chamou pra trabalhar com ele, fazer laboratório na casa dele. Aí comecei a carregar a bolsa com a máquina dele. Isso em 1968. Fui até o Correio Brasiliense e, um dia, na redação, perguntaram de um fotógrafo pra fazer matéria na Papuda, e eu me ofereci. O pessoal gostou do meu material, publicou e então eu fiquei por lá."

Olhar político

Em sua vida brasiliense, José Alberto cruzou diversos tipos de fronteiras por meio de suas lentes, mas uma deles, com a ajuda da mulher, o levou para além do Brasil. Sua esposa, que trabalhava no Itamaraty, foi removida para o exterior e ambos passaram uma temporada de mais de quatro anos fora do país - na Tunísia. Lá, José Alberto teve a oportunidade de conhecer países como França, Suíça e Itália, onde foi recebido pelo Papa João Paulo II, com mais 40 convidados.


Colegas tunisianos (José Alberto ao centro) - 1980

De volta ao Brasil, retomou a profissão como fotógrafo responsável pela campanha política de Mário Andreazza.

"Ele era do PDS e estava competindo com o Maluf naquele tempo. (...) No final, o Maluf perdeu e o Tancredo ganhou. Aí quando o Tancredo ganhou, ficou um prazo pro Tancredo tomar posse. Eu era credenciado pelo Globo para fazer a cobertura da posse e nessa noite, estava na casa do deputado Pinheiro Filho e o telefone tocou. A senhora Sara Kubitschek passou por mim e foi atendê-lo. Ela disse: 'Tancredo acabou de ser internado no Hospital de Base'. Aí foi aquele alvoroço. Eu fui então para o hospital e a discussão era se o Sarney assumia, ou não. Na época houve aquele impasse, e os próprios militares foram de acordo com o Sarney assumir."

José Alberto conta que os trabalhados realizados nesta época renderam bons contatos, o que culminou com seu credenciamento pela Radiobrás para cobertura do ministério das Comunicações, sob o comando de Antônio Carlos Magalhães.


A Gazeta - 8 de Outubro de 1989 (Lula) / A Gazeta - 15 de Outubro de 1989 (Maluf)

Olhar jurídico

"Para ser fotógrafo do STJ é preciso ser discreto e ético", avalia José Alberto. Ele, que chegou à Corte por meio de um colega com quem atuou na época de jornal O Globo, define o trabalho como leve e prazeroso. "Me sinto à vontade no Tribunal."

"Todos eles são pessoas comuns, mas lá estão vestidos de toga e, naquele momento, revestidos do poder de julgar. Têm que estar concentrados. Então eu fico o mínimo possível lá dentro, porque eu sei dessa responsabilidade."

Entre suas preferências, o profissional cita a arquitetura do STJ como o que mais gosta de fotografar. Além da bela estrutura do Tribunal, José Alberto também aponta o evento "Sociedade para todas as idades" como um de seus trabalhos preferidos. "Vão muitos velhinhos e eles se soltam, dançam no salão. Gosto muito de fotografá-los."

"A fotografia é como um alvo. Você tem que fazer naquela hora. Se você perder aquele momento já não tem mais. É preciso estar atento."




Memórias

Entre as muitas lembranças que acumula, José Alberto cita a oportunidade de trabalhar nas dependências no Palácio do Planalto, durante o período de governo de Fernando Collor. "Eu era especialista, por exemplo, em fotografar descida de rampa do Collor. Como eu era baixinho, eu tinha um meio de segurar a máquina e tirar fotos por um ângulo que muita gente que era mais alta que eu não conseguia."

"Certa vez, havia uma equipe de judocas lá no Palácio do Planalto, esperando o Collor, e um judoca, vestido com as roupas típicas, deu um soco no estômago do Collor, de brincadeira, e eu fiz a foto. Por muito tempo ela ficou exposta em um painel."

Da época de cobertura política, José Alberto rememora, saudoso, um momento que considera dos mais importante em sua carreira: uma entrevista com Juscelino Kubitschek.

"A entrevista com o Juscelino foi aqui no Aeroporto de Brasília, às 22h. Ele não podia circular na cidade, então descia no aeroporto para falar com a imprensa. Ele estava vindo de viagem. O que me surpreendeu foi que um mês depois veio o acidente. Ficou marcado porque conheci a pessoa dócil e simples que ele era."

Além dos trabalhos desenvolvidos nas redações brasilienses, José Alberto teve, durante alguns anos, sua própria empresa: a Macro Produção Fotográfica. "Parei quando chegou o digital. Quando essa época veio, muitas pessoas começaram a se auto intitular fotógrafas."

A experiência lhe rendeu um episódio peculiar, no qual amargou um prejuízo de R$ 8 mil de ninguém menos que Marcos Valério. "Levei um calote. Fui contratado pela empresa dele, via Banco do Brasil e, na época, contratei sete profissionais pra fotografar na ABB um encontro de mil mulheres dos Correios. Quando terminou, mandei todas as notas fiscais para o pagamento e eis que surgiu o mensalão. Marcos Valério foi citado e todos os pagamentos foram suspensos."


Diário do Amazonas - 27 de Agosto de 1989 (Campanha eleitoral Collor) / Ministro Camilo Penna - 6 de Maio de 1979, Rio de Janeiro

Comunicativo e entusiasmado, José Alberto, que já foi agraciado com uma medalha de honra ao mérito da TV Brasília, em 2006, afirma que norteia sua vida e conduta pela perseverança e honestidade.

Ao ser questionado sobre planos para o futuro, apenas uma resposta ganhou contorno nas palavras: "Não gostaria de parar de trabalhar jamais".