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Falecimento

Desembargador aposentado Ranulfo Melo Freire morre aos 96 anos

"Um símbolo da sabedoria que devemos respeitar e que deve nos guiar", afirmam advogados.

Da Redação

quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Atualizado às 15:41

Faleceu, aos 96 anos, no último dia 31, o desembargador aposentado do TJ/SP Ranulfo de Mello Freire. Nascido em Alpinópolis/MG, bacharelou-se em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Minas Gerais, em 1951.

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Carreira

Exerceu a advocacia a partir de 1952 e ingressou na magistratura em 1955, atuando em Araçatuba, José Bonifácio, Getulina, Rio Claro e na capital. Foi juiz substituto de 2ª instância em 1972, Juiz do Tribunal de Alçada Criminal do Estado de São Paulo, em 1979, onde exerceu os cargos de vice-presidente eleito para o biênio 1982/1983 e presidente, eleito para completar o biênio 1982/1983.

Foi nomeado desembargador do TJ/SP, em 1983, aposentando-se em 1983. Após sua passagem pela magistratura, se reinscreveu na OAB e passou a integrar a Comissão de Direitos Humanos da seccional paulista.

Foi professor de Direito, membro fundador do IBCCrim - Instituto Brasileiro de Ciências Criminais e da Associação Juízes para a Democracia.

Veja abaixo a homenagem dos advogados Bruno Salles Ribeiro, Fernanda Vilares e Rafael de Souza Lira ao desembargador:

Nosso Eterno Ranulfo

É muito difícil transformar o sentimento em palavras que façam algum sentido neste momento de tristeza. A notícia do falecimento do Dr. Ranulfo de Mello Freire acertou em cheio nossos corações e fez escorrer lágrimas de saudade.

Sua autoridade era transmitida pela humildade, não pelo grito. Exemplo maior daquele tipo de liderança mais pura, que inspira pelo amor, não pela dor. Falava baixinho, em ritmo de melodia.  Havia quem dissesse que o fazia de propósito, para que as pessoas prestassem atenção. Fosse como fosse, assim elas se comportavam. Bastava o Dr. Ranulfo começar a falar que o barulho diminuía pouco-a-pouco para que fosse possível ouvir suas estórias...e que história!

Excelente magistrado, membro da famosa 5ª Câmara do extinto Tribunal de Alçada Criminal, Corte da qual foi presidente, ensinava aos jovens, nós inclusive, a importância de jamais esquecer o ser humano e de sermos o que defendemos. Ele falava daquelas pessoas cujas histórias eram contadas nas folhas dos processos criminais, muitas vezes mal contadas e, bem por isso, da necessidade da atenção dos magistrados sorteados para decidir os futuros daquelas vidas. Sim, vidas... vidas humanas!

Dr. Ranulfo estava ali como um símbolo da sabedoria que devemos respeitar e que deve nos guiar, na medida em que seu conhecimento ia muito além daquele que adquirimos na Academia e na vida profissional. Era a pausa de poesia na pressão e sedução da aceleração da vida acadêmica e desenvolvimento profissional nos lembrando de que o essencial nunca deveria ser esquecido. O Dr. Adauto Suannes certa vez disse que Ranulfo tinha um bom senso extraordinário, intuição forte e simpatia. Por essa sensibilidade, era o "guru" dos membros da 5ª Câmara.

Apresentado pelo Dr. Alberto Silva Franco, conhecemos o Dr. Ranulfo de Mello Freire no 2º andar do antigo prédio n.º 52, da Rua XI de Agosto, no centro da cidade de São Paulo, cada um em uma data diferente, mas todos bem mais jovens do que hoje e unidos pelo entusiasmo de ouvir as experiências de vida que eram generosamente divididas conosco, costumeiramente às quintas pela manhã.

Chegava de mansinho com seu terno e gravata, ostentando a inconfundível marca de nascença que carregava na testa (a forma que Deus encontrou de estampar sua singularidade no mundo). Gostava de conversar, mais ainda se a conversa fosse acompanhada por algum álcool, como ele dizia. Sua mente lúcida transformava pensamentos em palavras ditas e escritas, sempre bem colocadas e, claro, acompanhadas do advérbio "quase", como um bom mineiro.

Quem teve o privilégio de conhecê-lo sabe que o "quase" é uma estória à parte que provoca muitas gargalhadas e essa era outra marca do Dr. Ranulfo de Mello Freire. Era brincalhão, uma companhia agradável que já faz muita falta, mas que ficará para sempre em nossas memórias.

Nas nossas tenras idades, quando engatinhávamos ainda pelas veredas do mundo do Direito, tivemos o privilégio de ter o Dr. Ranulfo como um guia, que pegou em nossas mãos e nos ensinou a andar olhando a pessoa, como referencial maior. Essa lição mora hoje em todos nós e em todos que tiveram a oportunidade de compartilhar de sua sabedoria. Essa lição será sempre passada à frente, sendo essa nossa humilde forma de torná-lo eterno.

Com carinho...

Bruno Salles Ribeiro
Fernanda Vilares
Rafael de Souza Lira