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Causa animal

Tribunal da Itália decide não sacrificar ursa que matou corredor

Para a Justiça, periculosidade do animal não foi comprovada pelo governo; pais da vítima também defendem Gaia.

Da Redação

segunda-feira, 29 de maio de 2023

Atualizado às 10:03

A Itália suspendeu na sexta-feira, 26, o sacrifício da ursa Gaia, que, no início de abril, matou o corredor Andrea Papi enquanto ele fazia uma trilha na floresta.

O ataque da ursa, registrada como JJ4, movimentou o país nas últimas semanas após dezenas de instituições e cidadãos pedirem a "absolvição" do animal.

Para os juízes, a periculosidade do animal não foi comprovada por documentos fornecidos pela província de Trentino. Seu governador, Maurizio Fugatti, era quem liderava o movimento pelo abate da ursa.

Migalhas abordou o tema em reportagem. Relembre:

A questão do abate do animal deve ser rediscutida em 14 de dezembro, mas o tribunal administrativo regional de Trento marcou para daqui a um mês, em 27 de junho, uma audiência para a apresentação de propostas alternativas.

No momento, a principal possibilidade é a transferência da ursa, que tem 17 anos e 150 quilos, para um santuário selvagem na Alemanha, na Romênia ou na Jordânia.

O deslocamento já aconteceu antes com ursos da província de Trentino, com os envios de DJ3 para uma reserva alemã e de M57 para a Hungria.

A decisão desta sexta contempla também outra fêmea da região, a MJ5, de 18 anos, que atacou um homem no início de março, mas que ainda não foi capturada.

Advogadas das ONGs Liga Leal Antivivisseccionista e Associação Patas que Dão a Mão, Rosaria Loprete e Giada Bernardi, comemoraram a decisão. "Estamos muito felizes com o resultado alcançado. Gaia está atualmente segura, e acreditamos firmemente que ela continuará a estar", disseram, em nota conjunta."E como ela, outros ursos vão continuar no caminho para que os animais deixem de ser o bode expiatório de omissões e/ou erros humanos."

Justiça

JJ4 foi capturada em abril e colocada em uma jaula no centro Casteller, em Trento. A ursa estava com seus três filhotes de dois anos de idade, mas que foram deixados para trás após serem considerados autossuficientes pelo departamento florestal da região.

Desde então, uma centena de associações se colocaram publicamente contra o sacrifício, e mesmo os pais do alpinista morto declararam que estavam do lado da ursa.

"Sou contra o sacrifício, mas eles devem colocar a mão na consciência, porque se isso acontecesse com um filho, deles não sei o que fariam. Só quero justiça para o meu filho", disse a mãe, Franca Ghirardini, no mês passado, sobre as autoridades de Trentino, a quem atribui a culpa. Já Carlo Papi, pai de Andrea, afirmou que não havia placas alertando sobre os perigos na região.

 (Imagem: Freepik)

Tribunal italiano decide não sacrificar ursa que matou corredor em floresta.(Imagem: Freepik)

Programa Life Ursus

Há 20 anos, na União Europeia, havia temores que os ursos poderiam ser extintos no continente. Em Trentino, a população de ursos estava quase acabando devido à caça indiscriminada que durava pelo menos um século.

Por isso, foi implementada uma política para aumentar a população dos animais na Itália e na região dos alpes italianos: o programa Life Ursus.

JJ4 é filha de Jurka e José, dois de dez animais que foram levados da Eslovênia para a Itália entre os anos de 1999 e 2002. A quantidade de ursos aumentou, e também aumentaram os encontros entre ursos e pessoas.

O ataque a Papi foi o oitavo registrado na província desde 2009, mas é a primeira morte após a implantação do Life Ursus.

Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, Marcello Notarianni, consultor da União Internacional para a Conservação da Natureza, da ONU, afirmou estar convencido de que a morte não foi um acidente. "A responsabilidade é do programa de ursos e das entidades provinciais e locais que o geriram ao longo do tempo."

"Mas a gestão dos ursos de Trentino ficou fora de controle", explica Notarianni, um especialista em turismo sustentável com experiência de trabalho com animais selvagens como tigres e elefantes na Ásia.

"O programa previa a reintrodução de cerca de 50 indivíduos, mas atualmente, de acordo com fontes oficiais, existem pelo menos 100, enquanto outros falam mesmo de 200. Além disso, é necessário um controle com rádio-colares, uma comunicação mais eficaz e contínua com sinais que alertem para a presença de ursos e a educação da população sobre a relação homem-urso, uma vez que os habitantes da região não convivem com esses animais há décadas."

De acordo com o especialista, é necessário comunicar à população o protocolo para entrar numa floresta com esses animais, como o uso de um sino a ser colocado nos tornozelos e um bastão para bater no chão a cada passo para avisar o urso da sua presença.

"No caso de se encontrar um deles no mato, não se pode de forma alguma correr, caso contrário o urso vai persegui-lo. A pessoa deve manter contato visual com o urso e andar para trás, muito lentamente, sem mostrar sinais de agressividade", ensinou Notarianni.

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