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Socorro no mar

Coisa julgada: STJ nega rediscutir valor por resgate de embarcação

Empresa recorreu ao STJ, durante cumprimento de sentença, alegando que a avaliação da embarcação foi exagerada, pois se tratava de uma barcaça em péssimo estado.

Da Redação

quinta-feira, 27 de julho de 2023

Atualizado às 15:15

Por entender que não é possível alterar a sentença em fase de cumprimento, a 3ª turma do STJ negou provimento ao recurso de uma empresa que pretendia readequar a decisão que a condenou a ressarcir as companhias envolvidas em um resgate no mar. A proprietária do barco resgatado alegava o risco de ter que pagar mais do que o valor da própria embarcação, o que é vedado por lei.

Na origem do caso, quatro companhias marítimas ajuizaram ação de cobrança a fim de serem ressarcidas pelos gastos com o salvamento de uma embarcação que estava na iminência de naufragar na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro.

Em primeira instância, foi determinado o pagamento com base na avaliação da embarcação (R$ 404 mil), dividido entre as companhias envolvidas, e autorizada a utilização do valor arrecadado com o leilão do barco resgatado. O TJ/RJ manteve a decisão.

A empresa ré recorreu ao STJ alegando que a avaliação foi exagerada, pois se tratava de uma barcaça em péssimo estado, que só serviria ao comprador como sucata - tanto que no primeiro leilão não houve interessados e, em outra tentativa, acabou sendo arrematada por R$ 79 mil.

Além disso, a empresa informou que foi condenada em outra ação a ressarcir uma quinta empresa de transporte marítimo pelo mesmo fato. Dessa forma, requereu a adaptação da condenação ao que foi efetivamente arrecadado no leilão, bem como a inclusão da quinta empresa na divisão desse valor. Sem isso - ponderou a recorrente -, ela acabaria tendo de pagar mais do que o valor da embarcação resgatada.

 (Imagem: Flickr STJ)

Para STJ, coisa julgada impede rediscussão do valor a ser pago a empresas que participaram de socorro no mar.(Imagem: Flickr STJ)

Proteção da coisa julgada

A relatora, ministra Nancy Andrighi, lembrou que o direito à remuneração daqueles que participam de salvamento marítimo está previsto no artigo 8º da lei 7.203/84 e que o artigo 10, parágrafo 1º, da mesma lei estabelece que esse pagamento não pode exceder o valor da embarcação.

Por outro lado, a ministra destacou que, em razão da proteção da coisa julgada sobre o título executivo, não há como reverter, no julgamento do recurso especial, o valor a ser ressarcido pelo resgate. Conforme apontou, a recorrente não produziu prova, em momento oportuno, que demonstrasse a desproporção entre a avaliação da embarcação e o valor obtido na arrematação.

"A coisa julgada integra o conteúdo do direito fundamental à segurança jurídica, não se admitindo alteração ou rediscussão posterior, seja pelas partes, seja pelo próprio Poder Judiciário", afirmou.

Incluir nova parte

Também em razão da coisa julgada - prosseguiu a relatora -, não é possível readequar a sentença, nessa fase processual, para incluir a outra empresa envolvida no salvamento - a qual nem sequer participou da demanda originária - na distribuição do valor do ressarcimento.

"Se o montante remuneratório não pode superar o valor da embarcação, de acordo com o artigo 10, parágrafo 1º, da lei 7.203/84, e se, porventura, a totalidade do valor foi destinada apenas a uma parcela das empresas salvadoras do mesmo barco, tais fatos necessitam ser analisados no cômputo total da indenização. Todavia, não há como alterar - sobretudo em sede de recurso especial - o título devidamente constituído", concluiu Nancy Andrighi.

Segundo a ministra, o meio processual adequado para combater a coisa julgada seria a ação rescisória, desde que presente algum dos requisitos do artigo 966 do CPC - mas esse tema não pôde ser analisado no julgamento do recurso, pois nem foi levantado pelo recorrente.

Veja o acórdão.

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