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Heresia carnavalesca?

Carnaval x religião: Desfiles foram parar na Justiça por "heresia"

Há décadas, a presença de elementos religiosos nos desfiles tem sido motivo de debates e até mesmo de intervenções judiciais.

Da Redação

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

Atualizado às 07:10

O Carnaval brasileiro é reconhecido internacionalmente pela sua exuberância, música vibrante e desfiles espetaculares das escolas de samba. No entanto, por trás dessa festividade, existe uma controvérsia que persiste há décadas: a relação entre o Carnaval e a fé religiosa, especialmente a católica.

A presença de elementos religiosos nos desfiles tem sido motivo de debates e até mesmo de intervenções judiciais. Desde representações do Cristo Redentor até interpretações controversas, como a vitória de Lúcifer sobre Jesus Cristo, diversos desfiles têm provocado reações variadas, especialmente entre grupos conservadores e comunidades religiosas.

Abaixo, relembre alguns desfiles que causaram polêmica.

Beija-Flor (1989)

O desfile da Beija-Flor em 1989, com o enredo "Ratos e urubus, larguem minha fantasia!", trouxe uma réplica do Cristo Redentor coberta por um plástico preto, em protesto contra a proibição da sua exibição pela Justiça após ação da Igreja Católica. "Mesmo proibido, olhai por nós", dizia uma faixa ao redor da imagem coberta. O desfile ainda contou com uma ala de componentes vestidos como mendigos que escalavam os camarotes e "roubavam" salgadinhos.

Alguns dias depois do desfile, o juiz Carlos Davidson de Menezes Ferrari, da 15ª vara Cível do RJ, não considerou desobediência a atitude da Beija-Flor de levar para a passarela do samba o Cristo "mendigo" coberto pelo plástico preto. Ele disse que deixou claro no despacho que concedeu a liminar que proibia apenas a exibição da imagem, mas não seu desfile, coberta com o plástico.

 (Imagem: Arte Migalhas | Foto: Luiz C. Caversan/Folhapress)

Publicação no jornal O Globo do dia 14 de fevereiro de 1989.(Imagem: Arte Migalhas | Foto: Luiz C. Caversan/Folhapress)

Unidos da Tijuca (2000)

Em 2000, a Unidos da Tijuca enfrentou resistência da Igreja Católica para exibir uma imagem de Nossa Senhora da Boa Esperança. Apesar de ter ganho na Justiça o direito de desfilar com o painel, a escola preferiu deixá-lo no barracão. Em seu lugar, a Tijuca pôs um outro painel, em que aparecia apenas o contorno da santa.

 (Imagem: Arte Migalhas)

Publicação no jornal O Globo do dia 8 de março de 2000.(Imagem: Arte Migalhas)

Grande Rio (2004)

Com o enredo "Vamos vestir a camisinha, meu amor!", a Grande Rio, em 2004, precisou cobrir dois carros alegóricos de seu desfile - um com Adão e Eva e outro com as posições do Kama Sutra. A decisão atendeu ao pedido do Juizado da Infância e Juventude de Caxias. A ação foi motivada por uma representação feita à Justiça pela Associação dos Juristas Católicos do Rio.

 (Imagem: Arte Migalhas)

Publicação no jornal O Globo do dia 19 de fevereiro de 2004.(Imagem: Arte Migalhas)

Beija-Flor (2005)

A representação das missões jesuíticas no desfile da Beija-Flor em 2005, incluindo a cena de Jesus Cristo sendo açoitado, gerou protestos da Igreja Católica e levou a alterações no desfile.

Viradouro (2008)

Em 2008, a Federação Israelita do Estado do RJ conseguiu liminar na Justiça impedindo a exibição do quinto carro alegórico da Viradouro, sob o enredo "É de arrepiar", que fazia referência às vítimas do Holocausto e mostrava uma pilha de corpos esquálidos e nus, onde desfilaria um destaque fantasiado de Adolf Hitler. O tema do carro acabou substituído por faixas contra a censura e passistas com as bocas amordaçadas.

 (Imagem: Arte Migalhas)

Publicação no jornal O Globo do dia 1 de fevereiro de 2008.(Imagem: Arte Migalhas)

Gaviões da Fiel (2019)

A representação de Lúcifer vencendo Jesus Cristo na comissão de frente do desfile da Gaviões da Fiel em 2019 gerou protestos e um processo judicial por parte de entidades religiosas.

A juíza Camila Rodrigues Borges de Azevedo, da 13ª vara Cível de São Paulo, decidiu que a escola não deverá pagar indenização. Na ação, a Liga Cristã Mundial alegava que a escola debochou do sentimento religioso dos cristãos.

Ao refutar os argumentos da entidade, a magistrada defendeu que "assegurar a liberdade de expressão é, na verdade, assegurar um instrumento para o exercício de outros direitos". Para ela, a essência da expressão artística se encontra no "questionamento" e na "subversão".

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