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Íntegra da carta de renúncia do senador Joaquim Roriz

O senador Joaquim Roriz - PMDB/DF comunicou à Mesa do Senado, na noite de ontem, a renúncia ao mandato de senador, iniciado em fevereiro passado e que se estenderia até 2015. Após receber a comunicação, o presidente em exercício da sessão plenária, senador Gilvam Borges - PMDB/AP, informou que a renúncia de Roriz será "efetiva e irretratável" após ser publicada no Diário do Senado Federal.

Da Redação

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Atualizado às 08:38


Senado

Íntegra da carta de renúncia do senador Joaquim Roriz

O senador Joaquim Roriz - PMDB/DF comunicou à Mesa do Senado, na noite de ontem, a renúncia ao mandato de senador, iniciado em fevereiro passado e que se estenderia até 2015. Após receber a comunicação, o presidente em exercício da sessão plenária, senador Gilvam Borges - PMDB/AP, informou que a renúncia de Roriz será "efetiva e irretratável" após ser publicada no Diário do Senado Federal.

A leitura do ato de renúncia foi feita pelo senador Mão Santa - PMDB/PI, que disse lamentar e sofrer com a decisão de Roriz "assim como vai lamentar e sofrer o povo pobre de Brasília". O representante do Distrito Federal tomou a decisão após ser acusado de negociar com o ex-presidente do Banco de Brasília Tarcísio Franklin de Moura a divisão de R$ 2,2 milhões, recursos supostamente liberados pelo empresário Nenê Constantino, presidente do Conselho de Administração da Gol Linhas Aéreas.

Na abertura de seu último discurso como senador, Roriz disse só pesar na sua consciência o mal que vinha sofrendo e que turvaria "uma vida pautada pela dignidade pessoal e pelo resguardo da coisa pública". Ao fazer sua defesa em Plenário, quinta-feira passada, 28/6, o peemedebista admitiu ter tomado emprestado R$ 300 mil de Nenê Constantino, dizendo ter usado uma parte para comprar uma bezerra e emprestado o restante para um amigo com problema de doença na família.

Ainda na despedida lida por Mão Santa, Roriz insinuou guardar um certo rancor dos senadores, reclamando do "notável desapreço" demonstrando pela Casa quando só 12 parlamentares presenciaram sua defesa. Também criticou o corregedor do Senado, Romeu Tuma, acusado de ter agido "despido de serenidade, ponderação e senso de justiça" ao supostamente externar juízo de valor sobre o caso e condená-lo publicamente por meio da imprensa.

"Antes de o Senado ser provocado a apurar os fatos, me franqueei a todos e demonstrei a lisura de minha conduta. Mas o furor da imprensa e o açodamento de alguns ecoaram mais alto", comentou.

Após a leitura da carta de renúncia, alguns senadores comentaram o ato de Roriz. Eduardo Suplicy - PT/SP disse respeitar a decisão e destacou que as leis brasileiras estão sendo respeitadas e cumpridas. Magno Malta -PR/ES se disse entristecido pela renúncia, mas defendeu a decisão da Mesa de encaminhar ao Conselho de Ética pedido do PSOL para abertura de processo por quebra decoro contra o peemedebista. Wellington Salgado - PMDB/MG defendeu Roriz e afirmou que o Senado precisa aprender a julgar. Já o senador José Nery - PSOL/PA acredita que não houve prejulgamento no ato do PSOL e lamentou o fato de Roriz não ter aguardado seu julgamento pelo Conselho de Ética.

Veja abaixo a íntegra da carta de renúncia do senador.

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"Esta é, para mim, mais uma hora - dentre as inúmeras que já vivi - em que devo tomar uma grave decisão. Volto-me para o grande mistério da vida, a força da consciência, o mal ativo e o mal passivo, o mal que causamos e o mal que sofremos. E sinto que somente me pesa na consciência o mal que venho sofrendo, que tanto me tortura e procura turvar uma vida pautada na dignidade pessoal, no respeito ao meu semelhante, no resguardo da coisa pública, no profundo sentimento cristão.

Minhas reminiscências somente fazem aflorar a longa jornada já percorrida, que tem como timbre minha dedicação à administração pública, atestada nas grandes obras que realizei no transcurso das quatro vezes em que governei o Distrito Federal.

Sinto, acima de tudo, que não se pode viver feliz olhando apenas para si mesmo. É preciso viver para os outros, sobretudo para os humildes, os necessitados, como opção para viver para si mesmo. É o que tenho procurado fazer por toda minha vida, buscando, na gestão pública, no Governo, certificar ao cidadão que os tributos que pagou receberam bom uso, diante da presença ativa do governante atento às lídimas aspirações da população.

Ocupei a tribuna da Casa à qual pertenço em defesa de meu mandato político. O desapreço dos Senadores pelo destino do colega foi notado. Apenas doze eminentes Senadores compareceram à sessão. Por outro enfoque, lamento que o Corregedor, Senador Romeu Tuma, antes mesmo de o Senado Federal ser formalmente provocado a promover as apurações dos fatos veiculados na mídia, ou quiçá de apreciar a farta documentação que franqueei a todos, pela qual ficou demonstrada cabalmente a lisura de minha conduta, não se ateve, entretanto, às cautelas éticas impostas ao exercício da importante e elevada posição que ocupa. Ao contrário, agiu despido da imprescindível serenidade, ponderação e senso de justiça, máxime ao externar um juízo de valor em detrimento da honra de seus pares, no caso, ao condenar-me publicamente pela imprensa, sem direito a uma defesa que merecesse a mesma repercussão.

Minha inocência, por mim proclamada e insistentemente repetida, não mereceu acolhida. O furor da imprensa, o açodamento de alguns, as conclusões maliciosamente colocadas lamentavelmente ecoaram mais alto. Pesou apenas o propósito de destruir, neste momento, uma vida pública coroada por relevantes serviços prestados à sociedade, particularmente ao povo mais humilde do Distrito Federal.

Meu alento está em que até mesmo o Ministério Público fez ressaltar que os fatos a mim imputados não guardam a mínima correlação com a malfadada operação aquarela. Mais que isto - neste ponto lamento ter tido acesso aos autos apenas na data de ontem -, é importante ressaltar que esse procedimento apuratório se contrapõe às inverdades e injustiças insistente e maliciosamente divulgadas, embora sem qualquer vinculação com o objeto das apurações relativas à já mencionada operação aquarela.

São essas as razões motivadoras do posicionamento a que sou obrigado a tomar neste ato, tanto mais em respeito ao povo do Distrito Federal, que tantas vezes me confiou seu voto.

Não temo que meu gesto seja interpretado como demonstração de fraqueza. Prefiro acreditar na grandeza que se pode colher de quem vive os fatos da história. É que, às vezes, de renúncias depende a honra do cidadão, colocada em risco, não por faltas que tenha cometido, senão pela pusilanimidade de alguns e pela voracidade de interesses políticos - que não se acanham em fazer prejulgamentos - daqueles que deveriam protegê-la sob a boa sombra das instituições criadas para assegurar o devido processo legal.

A gente de Brasília, os humildes aos quais nunca faltei com meu carinho e assistência - o povo, enfim, haverá de me entender. E todos me farão justiça, compreendendo o sentido de meu gesto: disso tenho plena convicção.

São essas as razões pelas quais devo comunicar a V. Exª e à Mesa do Senado a minha renúncia ao mandato de Senador da República que o povo de Brasília me conferiu, fazendo-o, ainda, com fundamento no art. 29 do Regimento Interno dessa Casa Legislativa."

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