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Crime organizado

Fabricação ilegal de cigarros avança em território nacional

63 fábricas foram fechadas desde 2013; esquema se espalha pelo país e submete trabalhadores a condições análogas à escravidão.

Da Redação

quarta-feira, 11 de junho de 2025

Atualizado às 11:42

A ideia de que todo cigarro ilegal comercializado no Brasil vem do Paraguai está ultrapassada. Embora o contrabando ainda lidere o mercado ilícito, uma nova frente de atuação criminosa tem se expandido com rapidez e impacto: a fabricação clandestina de cigarros falsificados em território nacional.

Segundo Edson Vismona, presidente do FNCP - Fórum Nacional contra a Pirataria e a Ilegalidade, essa mudança de rota do crime não é casual. Ele aponta que a fabricação local de cigarros clandestinos e falsificados reduz os custos da operação ilegal, amplia o lucro das facções e consolida o domínio territorial das organizações criminosas.

"Essa mudança de estratégia evidencia a sofisticação e ousadia dessas organizações, que deixam de depender apenas das fronteiras e passam a montar uma cadeia de produção completa dentro do país. É um sinal de alerta claro: o cigarro ilegal não é mais apenas uma questão de evasão fiscal - é um motor do crime estruturado, que se adapta e se expande com estratégias sofisticadas, ampliando sua presença no território nacional."

 (Imagem: Arte Migalhas)

Fábricas clandestinas de cigarro avançam no Brasil.(Imagem: Arte Migalhas)

Esquema clandestino

De acordo com levantamento do FNCP, 63 fábricas clandestinas de cigarro foram fechadas no Brasil nos últimos 12 anos. Só em 2023 e 2024, foram 19 unidades desativadas. Os Estados com mais ocorrências são São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. 

 (Imagem: Arte Migalhas)

63 fábricas clandestinas de cigarro foram fechadas no Brasil nos últimos 12 anos.(Imagem: Arte Migalhas)

Além das fábricas ilegais, o número de depósitos clandestinos também se destaca nos registros mais recentes. Foram 77 fechamentos entre 2019 e 2024, sendo 32 apenas no ano de 2024 - o maior número da série histórica.

 (Imagem: Arte Migalhas)

77 depósitos de cigarros clandestinos foram fechados nos últimos seis anos.(Imagem: Arte Migalhas)

Falsificação, escravidão e violência

As fábricas ilegais produzem cigarros à margem de qualquer controle: são verdadeiras cópias de cigarros vendidos pela indústria formal ou versões falsificadas dos cigarros contrabandeados - o ilegal do ilegal. Isso tudo sem fiscalização sanitária, sem pagamento de impostos e, muitas vezes, utilizando mão de obra análoga à escravidão.

No dia 12 de maio, uma operação das Polícias Federal e Civil, com apoio do MP/RJ, resgatou 22 paraguaios em situação análoga à escravidão em uma fábrica clandestina localizada em Vigário Geral, na zona norte do Rio. Segundo os agentes, a fábrica teria ligação com o contraventor Adilson Oliveira Coutinho Filho, o "Adilsinho", que já foi alvo de operações anteriores contra a máfia dos cigarros. De acordo com a Polícia Federal, no local foram encontrados insumos e maquinário para a fabricação de cigarros paraguaios falsificados, além de trabalhadores que viviam em condições degradantes, com alimentação precária, alojamentos insalubres e ambiente sem ventilação.

Os investigadores apontaram que é comum, nesse tipo de crime, o aliciamento com falsas promessas de emprego, que leva os trabalhadores a se submeterem a jornadas intensas e condições degradantes.

Lacuna legislativa

A falta de uma legislação penal específica voltada à produção clandestina de cigarros falsificados é, na avaliação da desembargadora Ivana David, do TJ/SP, um dos principais entraves ao enfrentamento efetivo desse tipo de criminalidade no Brasil. Para a magistrada, o ordenamento jurídico trata de modo disperso as condutas envolvidas na falsificação, distribuição e venda de cigarros ilegais, o que dificulta investigações, denúncias e condenações.

"A medida mais importante no que tange ao combate desse tipo de criminalidade é, primeiro, uma legislação específica. Tipificar a conduta específica e suas várias modalidades: falsificar, comercializar, transportar, por exemplo como é o artigo 33 da lei de drogas. Isso falta, de uma forma mais objetiva."

A desembargadora ressalta que, diante da ausência de um tipo penal claro e próprio, esses crimes costumam ser enquadrados genericamente como infração ao Código de Defesa do Consumidor ou sonegação fiscal, muitas vezes com dificuldade de prova e penas brandas.

Ivana David também aponta que o cigarro é, há muito tempo, uma "moeda do crime organizado", especialmente dentro do sistema prisional e em áreas dominadas por milícias. A possibilidade de venda fracionada, a aceitação social do consumo e as penas brandas são, segundo ela, elementos que tornam esse mercado extremamente lucrativo para grupos criminosos.

"O cigarro sempre foi moeda no crime organizado e dentro do sistema prisional. [...] Ele consegue ter um lucro muito alto, vende de forma unitária, e a legislação é muito falha no que tange a impedir que esse crime cresça."

Outra medida apontada pelo FNCP como fundamental para o combater o crescimento de fábricas clandestinas no país é a criação de legislação específica que determine a destruição de máquinas e equipamentos encontrados nos estabelecimentos ilegais. 

Uma indústria estruturada

Segundo Vismona, a produção clandestina tem se consolidado como um braço estratégico das facções e milícias, porque tem alta demanda e baixo risco, se comparada a outras atividades ilícitas, além de estar ligada a uma cadeia de outros crimes, como tráfico de drogas, armas, corrupção e lavagem de dinheiro. "Os cigarros ilegais são vendidos a preços muito abaixo dos praticados pelas marcas legalizadas, o que atrai consumidores e agrava a concorrência desleal. Essas fábricas são controladas pelo crime organizado que distribui a mercadoria ilegal pelo país."

Vismona alerta para a tendência de expansão da produção clandestina no país, impulsionada pela dificuldade de fiscalização local e pela ausência de articulação interestadual. Essas unidades, muitas vezes, operam sob fachadas empresariais, com uso de laranjas e produção sem qualquer controle sanitário, o que agrava também o risco à saúde pública.

Fonte: FNCP - Fórum Nacional contra a Pirataria e a Ilegalidade
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