Diretor da Agência Nacional de Mineração é preso em operação da PF
Caio Seabra é suspeito de integrar esquema de fraudes e propinas no setor de mineração.
Da Redação
quarta-feira, 17 de setembro de 2025
Atualizado às 12:50
A PF deflagrou, nesta quarta-feira, 17, uma grande operação contra esquema de corrupção no setor de mineração.
Foram presos o advogado e diretor da ANM - Agência Nacional de Mineração, Caio Mário Seabra; o ex-diretor da PF em Minas Gerais, Rodrigo de Melo Teixeira; além dos empresários Alan Cavalcante do Nascimento, apontado como chefe da organização criminosa, e seus sócios Helder Adriano de Freitas e João Alberto Paixão Lages, ex-deputado estadual.
A Justiça Federal também determinou o afastamento de três servidores públicos suspeitos de favorecer o grupo: Fernando Baliani da Silva (Feam - Fundação Estadual do Meio Ambiente), Breno Esteves Lasmar (IEF - Instituto Estadual de Florestas) e Fernando Benício de Oliveira Paula (Copam - Conselho Estadual de Política Ambiental).
Mandados e bloqueio bilionário
A ação cumpre 22 prisões temporárias e 79 mandados de busca e apreensão em Belo Horizonte e outras cidades de Minas Gerais.
Também foi determinado o bloqueio de bens e valores que somam R$ 1,5 bilhão.
Segundo a PF, ao menos 17 investigados tiveram prisão preventiva decretada; até o momento, 14 já foram detidos.
As apurações indicam que o esquema era comandado por um conglomerado com mais de 40 empresas, centralizadas na holding Minerar S/A, responsável por operações de extração de minério de ferro em áreas consideradas sensíveis do estado.
Fraudes em áreas de risco
Segundo a PF, o grupo obteve autorizações para explorar regiões tombadas e próximas a unidades de conservação, com alto risco de desastres ambientais.
Para sustentar os empreendimentos, foi estruturada uma rede de empresas e operadores financeiros, com a prática de corrupção ativa e passiva, tráfico de influência, falsificação de documentos e lavagem de dinheiro.
O inquérito, aberto em 2020, aponta que a organização corrompeu integrantes de diversos órgãos públicos, incluindo ANM, Iphan, Feam e a secretaria de Meio Ambiente de Minas Gerais.
Só em propinas diretas, foram identificados mais de R$ 3 milhões pagos a servidores, alguns dos quais recebiam mesada para atender aos interesses do grupo.
Quem são os presos e investigados?
Caio Mário Trivellato Seabra Filho
Diretor da ANM apontado pela Polícia Federal como peça-chave na obtenção irregular de licenças para exploração mineral.
Antes da nomeação definitiva, já havia atuado como diretor substituto da autarquia entre maio e novembro de 2023 e, em seguida, retornou ao posto de superintendente de Ordenamento Mineral e Disponibilidade de Áreas até assumir em caráter permanente.
Advogado de formação, Caio construiu carreira ligada ao setor minerário, com atuação em mineração, meio ambiente e Direito Empresarial.
Em 2019, abriu escritório próprio, voltado principalmente para demandas ambientais e minerárias. Também é professor responsável por disciplinas de legislação minerária, conflitos no setor, CFEM e processos administrativos.
Rodrigo de Melo Teixeira
Delegado da Polícia Federal e ex-superintendente da instituição em Minas Gerais, chegou a ocupar a terceira posição na hierarquia da corporação até 2024.
Ficou conhecido nacionalmente por conduzir investigações de grande repercussão, como o atentado contra Jair Bolsonaro em 2018 e o desastre de Brumadinho em 2019.
Atuava na CPRM - Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais e chegou a integrar o Comitê de Segurança, Meio Ambiente e Saúde da Petrobras.
Alan Cavalcante do Nascimento
Empresário, considerado pela PF o chefe da organização criminosa.
Segundo divulgado pela CBN, Alan é dono de mais de 38 empresas, mas seu foco atual está na mineração em Minas Gerais. Suas companhias concentram jazidas que somam 4,5 mil hectares na Serra do Curral, cartão-postal de Belo Horizonte e área tombada desde 1960 pelo Iphan - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Entre as empresas ligadas a Alan, destaca-se a Global Mineração, responsável por operações na Serra do Curral e em outras regiões do Estado.
Nos últimos cinco anos, o empresário acumulou cerca de 20 autuações ambientais e multas próximas a R$ 3 milhões, envolvendo desde a captação ilegal de água de rios até o desmatamento de aproximadamente 67 hectares de vegetação nativa na Serra do Curral.
O MP/MG também já havia denunciado Alan e a empresa Fleurs Global Mineração por supressão de vegetação, intervenção em área de preservação e funcionamento irregular de atividade minerária.
João Alberto Paixão Lages
Sócio de Alan, atuava na intermediação de processos de licenciamento e na manutenção do esquema de corrupção.
Na política, Lages exerceu mandato na Assembleia Legislativa de Minas Gerais entre 2015 e 2019, assumindo como suplente da coligação após as eleições de 2014. Antes disso, foi secretário adjunto da Sedru - Secretaria de Desenvolvimento Regional e Política Urbana entre 2004 e 2006 e, em 2007, presidiu a Ceasa Minas. Também comandou, de 2008 a 2013, a Abracen - Associação Brasileira das Centrais de Abastecimento.
O nome de João Alberto já vinha sendo associado a controvérsias recentes. Em março de 2024, ele foi indiciado pela Polícia Civil por supostas ameaças à secretária estadual de Meio Ambiente, Marília de Carvalho.
Segundo a investigação, o ex-parlamentar teria enviado áudios com ofensas e intimidações para pressionar a tramitação de um pedido de licenciamento da mineradora Fleurs Global Mineração Ltda.
Helder Adriano de Freitas
Também sócio de Alan, tido como articulador político do grupo, responsável por contatos com servidores públicos e representantes de órgãos ambientais para viabilizar licenças.





